O CIRCO DO PARTIDÃO
(Esta crônica será publicada no livro "Histórias que ningúem vai contar")
Sobrava protagonismo ao PCB de Dourados. Lembro-me de que de
certa feita, os trabalhadores rurais anunciaram que iriam acampar na cidade,
pela reforma agrária. Quando chegaram à gleba escolhida, que ficava próxima à
rodoviária, o local já estava todo demarcado e com os cavaletes de agua
instalados. Era a força e a ação do Partidão.
Lá, tudo era no capricho. Certa vez, conceberam um projeto de
agitação e propaganda que marcou época. Meticulosamente detalhado pelo
arquiteto Luiz Carlos Ribeiro e pelo engenheiro Guilherme Meldau foi criado um
circo para conversar com a população nos bairros. Guilherme era orgulhoso do
fato de seu avô ter sido companheiro de pensão de Lenin, na Alemanha.
A estrutura da tenda do circo era de tubos metálicos com
encaixes, aparafusadas uns aos outros resultando numa forma sextavada, coberta
por uma lona plástica nas cores vermelha e amarela com capacidade de abrigar
umas 50 pessoas sentadas. A infraestrutura ela completada por bancos e cadeiras
de madeira, um cavalete com rolo de papel que funcionava como uma lousa. Havia também um sistema de som que circulava
em uma Kombi para a divulgação da atividade e que era depois montado no
interior do circo durante o evento. Na
parte da manhã, o som percorria as ruas do bairro anunciando o evento no circo,
ajudado por militantes que reforçavam o convite casa em casa, todos
embandeirados e uniformizados com camisetas do Partidão, como forma de dar
visibilidade ao Partido O sucesso era garantido. Juntava muita gente.
O circo
chegou
Vamos
todos até lá
Olha que
o circo chegou
Não
custa nada você ir até lá
(Jorge Ben Jor)
Algumas horas antes do início do evento, os militantes no dia
marcado chegavam ao local do evento e montavam o circo. Alguns dos nossos
militantes com dotes artísticos e culturais faziam o papel de palhaços, e
desenvolviam outras performances, organizavam brincadeiras com as crianças,
horas antes do início do evento, as quais, uma vez atraídas, acabavam nos
ajudando na mobilização dos moradores, já que iam contar aos pais o que estava
acontecendo no bairro, e os convidava a lá comparecerem. Quando possível eram
levadas algumas personalidades destacadas no cenário municipal, estadual ou
nacional para estes eventos, que ao final eram encerrados com uma fala sobre o
partido e a sua política.
Nas eleições municipais de 1988, quando lançamos Alan Pithan
para prefeito em Campo Grande, o circo foi transferido para a capital para
ajudar na campanha, ampliando as suas atividades. Eram dadas palestras, e
prestados atendimentos sobre saúde; professores e pedagogos ajudavam com a
recreação para as crianças. Na sequência falavam os nossos candidatos sobre
suas candidatura e militantes, sobre a política do partido.
Outra inovação aqui introduzida foi a venda de comida feita
pelos militantes. Não faltava o carreteiro, churrasquinho, mas tinha também
comida mais sofisticada. Lembrou-me outro dia a Dedê Cesco, hoje afamada chef,
de uma torta que ela fazia, chamada Kulebyaka - da tradicional da cozinha russa
- a massa era levedada e os recheios eram múltiplos: linguado, molho bechamel e
caviar. O caviar, item caro, era fornecido pela dispensa da sua mãe.
Também, utilizamos o
circo para fazer um acampamento de jovens militantes, na cidade de Rio Verde,
para evento de formação política durante o carnaval. Bons tempos.
Ao final, depois de
enrolarmos por um bom tempo, o circo foi afinal devolvido aos companheiros de
Dourados, com dor no coração.
FAUSTO MATTO GROSSO
(Este texto teve como
referência, um texto escrito do companheiro Ênio Ribeiro, e ajudas à memória de
Luiz Carlos Ribeiro, Edilson Pereira e Dedê Cesco).
2 comentários:
Muito bom Fausto, leitura agradável mesmo para quem não viveu aquela época e não era simpatizante da causa. Parabéns
Nas eleições de 1988 esteve nas imediações de minha casa. lembro do circo!
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