terça-feira, 18 de março de 1997

75 ANOS DE HISTÓRIA

Não sei se por desinformação, ou por intenção malévola, alguns órgãos de imprensa têm se referido aos quadros do PPS como “ex-comunistas”. Ex-comunistas, uma ova !
Não somos daquela gente que pede que esqueçamos o que escreveu. Para nós isto seria até impossível porque, como diz o poeta Ferreira Gullar, nossa história, em muito, coincide com a história das lutas do povo brasileiro.
Se a mídia precisa simplificar nossa essência em uma única palavra, que nos chame então de pós e não de ex. Esta é a verdadeira situação do PPS.
O surgimento do PPS não significou à negação do PCB, mas sim a sua superação dialética.
A crise de civilização, dentro da qual se inscreve tanto a crise do socialismo real como a da social-democracia e do próprio capitalismo, nos impôs a busca de instrumentos mais adequados ao salto civilizatório que estamos vivendo.
O PPS, nesse sentido, representa continuidade e ruptura.
Por definição estatutária, somos herdeiros diretos do PCB e do seu patrimônio histórico-político. Temos o maior orgulho de carregar o que o sociólogo Werneck Vianna chama de “o baú” do Partidão. Temos sastisfação de sermos reconhecidos como a grande escola de quadros da sociedade brasileira, que deixaram marcas nas lutas sociais, na cultura e na política.
Mas ao mesmo tempo somos parte de um processo de reordenamento da esquerda, pois incorporamos várias outras correntes progressistas, socialistas, sociais-democratas, humanistas e ecológicas, de origem política e filosófica diversa da tradição pecebista. Somos hoje um partido com programa mas com composição e concepção pluralista, que busca reinventar o socialismo e o humanismo para as condições da pós-modernidade, partindo do insubstituível ideal ético da solidariedade, que sempre orientou nossas lutas. Este é o sentido da nossa praxis tranformadora na política brasileira.
O PCB nasceu como instrumento de luta política e acabou marcando a história do Brasil. Mudamos de nome e renovamos nossas concepções para continuarmos fazendo política e, se possível, história.
Se o velho PCB, nos seus primórdios, pensava a revolução como um momento de insurreição, nós do PPS não nos julgamos menos revolucionários, ao encará-la como processual e como exercício da radicalidade democrática. Pretendemos ser um pólo de aglutinação da esquerda democrática do País.
Neste 25 de março nossa aventura completará 75 anos, ¾ de século. Queremos continuar o sonho do jornalista Astrogildo, do contador Cordeiro, do gráfico Pimenta, do sapateiro José Elias, do vassoureiro Luís Peres, dos alfaiates Cendon e Barbosa, do ferroviário Hemogênio e do barbeiro
Nequete.
Aqui entre nós também sonham ou sonharam esse sonho o médico Alberto Neder, os contadores Sá Carvalho e Arthur de Barros, os operários Ezequiel e Vitorino, os engenheiros Euclydes e Diomédes, o carroceiro Granja, os encanadores da família Bissoli, os professores Itamar e Ênio Cabral, os advogados Brandão e Amorésio, os jornalistas Vasconcelos e Rádio Maia e tantos outros matogrossenses ilustres e respeitados.
A inúmeras fichas de filiação, abonadas neste fim de semana pelo Senador Roberto Freire, representam a continuidade dessa história e desse sonho.
Sonho com um País onde todos comem, onde todos moram, onde todos vivem e não apenas sobrevivem.

FAUSTO MATTO GROSSO
Presidente do PPS/MS

                                                                                                 

terça-feira, 11 de março de 1997

MST: QUEM NÃO GOSTA LEVANTA A MÃO...

... e exija que o Governo faça a Reforma Agrária, senão vai ter que continuar assistindo o MST fazer a sua.
Os movimento sociais, gostemos ou não deles, são frutos da realidade social do País. É impossível criá-los ou mantê-los artificialmente se não existe tal correspondência, principalmente um movimento com a amplitude adquirida pelo MST.
Também, de nada adiantará o Governo cumprir sua meta de assentar 200 mil famílias se o problema tem a dimensão de 12 milhões de trabalhadores rurais sem terra.
Um governo que se pretenda social-democrata deveria saudar a existência do MST, mesmo com todos os seus problemas. O professor Celso Furtado tem apontado a grande possibilidade que pode ser representada pela volta e fixação ao campo dos milhões de excluídos da “modernização”.
O Brasil está sendo um caso único no mundo onde pode existir, a curto prazo, uma saída não traumática para a crise do desemprego estrutural.
E neste caso não adianta a hipocrisia de cobrar “vocação rural” desses trabalhadores, que, aliás, a têm mais do que o Presidente da República, ele próprio um intelectual proprietário rural. A sociedade pós-moderna, cuja implantação está sendo acelerada pela globalização, terá mais dia, menos dia, conforme apontam alguns estudiosos, que substituir o paradigma baseado no emprego pelo paradigma baseado na ocupação.
Neste caso, mesmo a agricultura familiar de subsistência é preferível, aos programas de renda mínima que a sociedade terá que providenciar sob pena de sucumbir diante da explosão da bomba social. A não ser que, sendo impossível esconder debaixo do tapete os excluídos da globalização, se opte pela “solução final” hitlerista de extermínio em massa dos miseráveis.
Durante a última semana vários setores da mídia tem procurado infundir, na opinião pública a desconfiança em relação ao MST. No tempo da Guerra Fria o movimento seria apontado como beneficiário do “ouro de Moscou”. Impossível faze-lo hoje, seu inimigos buscam desesperadamente desmoralizá-lo pela origem dos seus 20 milhões arrecadados no ano passado, principalmente quanto aos 4 milhões de reais provenientes de doações de trabalhadores beneficiários de financiamentos oficiais.
Seria mais justo que se preocupassem com os caixas já abarrotados para as próximas campanhas eleitorais, com origem duvidosa, onde tal valor, no geral é gasto para eleger um simples deputado federal.
Embora seja difícil, é bom não perder a ordem de grandeza dos números. O Estado de Santa Catarina perdeu, segundo a CPI dos precatórios, 86 milhões com o deságio dos títulos e 33,2 milhões com comissões de intermediários, Alagoas perdeu 69 e 14 milhões respectivamente. Só a Distribuidora Negocial faturou 168 milhões nas suas operações. Diante disso, o que são 4 milhões? Apenas o valor da última casa de praia do banqueiro Júlio Bozzano, presidente do Banco Bozzano & Simonsen, uma das principais empresas operadoras das recentes privatizações feitas pelo Governo Federal.
Mas voltando ao MST. Não posso dizer que gosto dele. Da visão fundamentalista e da subestimação da importância da democracia, que podem ser filtradas nas manifestações de algumas de suas mais expressivas lideranças. Politicamente trabalha com métodos que assustam a qualquer mentalidade arejada de esquerda, nesse sentido, sendo a contraface perfeita da UDR. Acho inclusive que, não tendo cuidado, corre um grande risco de deixar de ser um movimento social legítimo e passar a ser um partido político. Reflete , entretanto, a barbárie, a violência e o atraso das relações sociais no campo e a dimensão do problema da exclusão social do País. Por isso, exatamente temos que respeitá-lo e valorizar a sua luta e representatividade.

FAUSTO MATTO GROSSO

Presidente do PPS/MS