sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

O MARCENEIRO, O VEREADOR E O LOUCO

Certa feita, lá nos anos oitenta, quando eu era vereador do PCB, fui procurado por um velho amigo marceneiro que me levou próximo ao mercado municipal para mostrar as péssimas condições nas quais a comunidade indígena comercializava a produção trazida das aldeias.
As pessoas ficavam na calçada, junto com as mercadorias, os cães vadios, as crianças sujas, os insetos repugnates e outros desconfortos tais.  Os sanitários eram os canteiros das árvores do local.
Sensibilizado pela situação caí em campo organizando a comunidade e fazendo a articulação dela com a prefeitura. Como resultado disso foi instalada uma "feirinha indígena" em uma praça pública lindeira ao mercado municipal. As instalações ficaram bastante razoáveis. Sanitários, Posto Policial, quiosques, bancadas, instalações hidráulicas, etc
Ontem o recebi de novo o velho amigo marceneiro.  Veio consertar umas portas. Encabulado, me confidenciou que o trabalho estava rareando e as dificuldades financeiras estavam crescendo cada vez mais. A cabeça, nessas circunstâncias, não andava nada tranquila, a ponto de a familia recomendar-lhe uma ajuda psicológica.
Resistiu quanto pode, até aceitar a consulta marcada pelo filho em um psiquiatra nosso camarada de partido. O consultorio ficava exatamente em frente da feirinha indígena.
Ficou esperando a hora, na sacada, em companhia de um casal que por lá também se encontrava.
Ouviu, então,  quando a mulher comentou, com o marido, sobre a feirinha, elogiando a instalação. Não teve dúvida:  "essa idéia foi minha!" afirmou.

Foi quando teve o dissabor de ver a mulher circulando o dedo indicador em torno da orelha e piscando para o marido.