segunda-feira, 5 de maio de 1997

COISAS DE TUCANO

Alguém já disse que intelectual tucano é mesmo assim. Se você discorda de sua opinião ele a expõe novamente, com outra forma, pacienciosamente, porque pensa que você não a entendeu.
É incapaz de admitir a divergência.
Agora, intelectual tucano no poder ainda é pior. Obstinado, dono da verdade, começa a chamar os divergentes de neo-bobos, toscos e os acusa de estarem fazendo mero nhé-nhé-nhém!
Na semana passada, FHC deu um passo mais audacioso. Disse que os adversários da privatização da Vale eram pessoas que achavam que “ o certo era o regime da ex- União Soviética”. Se me contassem eu não acreditaria, mas essa eu ví na telinha.
Diante dessa postura de cristão novo do neo-liberalismo, só podemos dar razão a Dom Pedro Casaldáliga: “FHC era bem melhor na época em que era ateu!”
A mesma coisa se repete com relação ao Plano Real. Para o governo só existe um caminho para a estabilização da moeda e a na contabilidade dos prós e contras só é aceita a estatística eufórica, do franguinho a mais na dieta do brasileiro pobre, sem dúvida nenhuma uma proeza que precisa ser comemorada.
Acontece que, para o conjunto dos trabalhadores, tem que ser posto na mesa, além do frango, o desemprego (falsificado pelas estatísticas oficiais), a falta de saúde pública, a falta de educação pública e a falta de segurança pública.
É só olhar para Mato Grosso do Sul que esta verdade salta à vista. A nossa crise estadual , fruto de irresponsabilidades e incompetências de nossa elites dirigentes, tem também fortes componentes nacionais. É o recurso subtraido pelo fundo de estabilização fiscal (cuja renovação deve ser aprovada pela nossa dócil bancada federal), é a lei Kandir, é a política econômica de juros altos que inviabiliza os investimentos produtivos, etc. O resultado disso é a qualidade da nossa educação, da nossa saúde e da nossa segurança pública.
Mas não pensem que nosso Estado não tem saída. Após uma previsível crise de governabilidade, que ocorrerá quando os 50 mil servidores tiverem acumulados, sem receber, 3 ou 4 meses de salários (isto lá pelo final do ano), o Governo Federal, jogará uma tábua de salvação financeira provisória. Naturalmente isso virá pela mão do tucano ungido como candidato a governador / cabo eleitoral presidencial.
Haja coração !

FAUSTO MATTO GROSSO

06/05/97