domingo, 8 de fevereiro de 2015

TERRORISMO E CULTURA DE PAZ


Passados os dias, os massacres de Paris, cada vez mais, se tornam emblemáticos dos desafios que a humanidade vive nos tempos atuais.
Os massacres despertaram reações de grande conteúdo emocional, instigadas e pasteurizadas pela comunicação da sociedade de massas. Inicialmente, o mote era a defesa da liberdade de imprensa e a sagração dos mortos como seus mártires.
Ato contínuo o presidente francês, aproveitando para se recuperar da baixa popularidade, respondeu com a ampliação da presença militar francesa no Oriente Médio. Também a direita francesa e européia, xenófoba e intolerante mobilizou suas multidões apontando para o chamado “choque de civilizações”: o pensamento islâmico seria incompatível com os valores culturais do ocidente. Marine Le Pen declarou: “a nação foi atacada, a nossa cultura, o nosso modo de vida. Foi a eles que a guerra foi declarada”, apontando para a segregação e o apartheid.
Já no mundo muçulmano, da Chechênia ao Afeganistão, da Argélia à Palestina, explodiu a indignação contra o desrespeito a sua cultura religiosa. No Níger chegaram a incendiar 45 igrejas cristãs causando 10 mortes. Essas manifestações continuam nos dias atuais e são a senha para a radicalização do mundo islâmico, contra o ocidente.
Diante da radicalização, o papa Francisco clamando pela moderação e pela responsabilidade foi incisivo: “Não se pode ofender, ou fazer guerra, ou assassinar em nome da própria religião ou em nome de Deus. Você não pode provocar e insultar a fé dos outros, você não pode zombar da fé. Não se pode fazer das religiões dos outros um brinquedo”. Enfático afirmou: “Se xingar minha mãe, espere um soco”, disse o Papa sobre ataque em Paris.
A grande pergunta é onde vamos parar com esse tipo de confronto onde todos têm razão. Minha convicção é que esse conflito não se resolverá pelas armas. Por essa via não haverá vencedores, pois é um permanente jogo de perde, perde. Diante dessa situação de completo contrassenso, é que evoco a lembrança da Guerra Fria e de como ela foi desarmada.
Lembro-me de Gorbatchov dizendo que apesar de todas as contradições existentes, de toda a diversidade de sistemas políticos e sociais, de todas as diferenças de escolhas feitas pelas nações, o mundo era uno. Ressaltava “estamos no mesmo barco, a Terra, e não podemos permitir que ele se afunde, não haverá uma segunda Arca de Noé”.
É esse tipo de responsabilidade moral que se espera dos líderes mundiais, a partir dos 50 que compareceram à marcha de Paris. O Ocidente tem a principal responsabilidade na saída dessa crise, porque é o lado mais forte e também por que não pode se arriscar em uma nova guerra do Vietnã, em um mundo globalizado e fragmentado, com a exacerbação do individualismo. A propósito, lembro que o Vietnã venceu os EUA dentro da sua própria casa. O povo americano, clamando pela paz, desarmou a sanha do Império, o que destaca o grande papel que pode ser representado pela opinião pública.
A solução dos impasses nessa guerra com o terrorismo, não é fácil, mas tem que ser buscada, em nome da humanidade. Acredito que o desarmamento dessa armadilha está nas mãos das potências ocidentais e que a solução dessa guerra passa por uma política internacional. Imagino que a partir da pluralidade representada pelos 50 líderes presentes em Paris, incorporando outros de lideranças incontestes, como o Papa e seus equivalentes das diversas religiões e apaixonando amplamente a sociedade se possa buscar uma saída. Precisa que, a partir dos principais fóruns internacionais, se possa adotar iniciativas que passem pela delimitação do Estado Palestino e pelo controle dos rentáveis negócios das armas, do petróleo e da terceirização das guerras, mas principalmente aponte para o desafio principal que é a construção de uma nova, forte e universal Cultura de Paz.

Fausto Matto Grosso
Engenheiro e professor aposentado da UFMS

Jornal da Cidade - 08/02/2015