A MARCHA SOBRE BRASÍLIA
O fascismo surgiu na Itália sob a liderança de Benito
Mussolini em 1919. Sua intenção era tomar o poder pela via eleitoral, mas, se
fosse necessário, utilizaria a violência para garantir sua ascensão política. O
fascismo obteve grande apoio político na Itália no início da década de 1920 por
causa de sua atuação no combate ao socialismo.
A Marcha sobre Roma é como se conhece a grande marcha
realizada pelos fascistas em 28 de outubro de 1922, em direção capital
italiana. Esse evento foi responsável pela ascensão de Benito Mussolini ao poder da Itália. No dia seguinte à marcha,
Mussolini foi indicado para o cargo de primeiro-ministro. Mussolini foi cabo
durante a guerra, mas no poder assumiu o cargo de Primeiro Marechal do Império.
Bolsonaro foi deputado federal por sete mandatos. Sua atuação
parlamentar sempre foi caracterizada pelo discurso de ódio e de visões que
incluem a simpatia pela ditadura militar, a defesa das práticas de tortura e a defesa dos interesses dos militares, que
constituíam sua principal base eleitoral.
Candidato, nunca enganou ninguém na sua campanha
presidencial; pregava o armamentismo, o militarismo e o negacionismo. Foi
beneficiário do medo da população e da insegurança social existente. Saiu da
eleição colocando em dúvida a confiabilidade das urnas eletrônicas pelas quais
tinha sido eleito.
No governo, revelou-se um presidente que não estava à altura
dos grandes desafios da Nação: a crise econômica e o desemprego, a crise social
e principalmente a crise sanitária. O Brasil piora a cada dia, há um clima de
desconfiança e baixa credibilidade na economia e na política. O Presidente
parece indiferente a isso, inclusive aos quase 600 mil mortos da Covid. Encheu
seu governo de militares, mas acabou montando uma máquina pública absolutamente
incapaz. Não se preocupa em governar e sim em construir crises políticas e
institucionais. Usa o fracasso do seu governo como combustível para um
autogolpe.
Não são poucas as semelhanças entre Brasília e Roma. Lá o
“Duce”, aqui o “Mito”. Bolsonaro, diferentemente de Mussolini, já tem o poder,
mas quer o poder sem limites. Não aceita as instituições democráticas, rejeita
os limites da Constituição. Tem convocado e apoiado manifestações contra os
outros poderes da República, inclusive com ameaças de invasão, violência física
e depredações no Supremo e no Congresso. Segue o modelo desenvolvido por Trump,
de quem foi grande admirador.
A Marcha sobre Brasília é hoje uma preocupação no país. É uma
marcha da insensatez, capaz de levar o país a grandes conflitos, no limite, a
uma guerra civil, que pode dividir o país pelas armas e até e ao
enfraquecimento da unidade nacional. Essa situação interessa à Bolsonaro, pois
dará justificativa para a intervenção das Forças Armadas, mantendo-o no poder.
Essa marcha tem que ser detida. Os governadores já se
manifestaram nesse sentido e tem grande responsabilidade na busca de
soluções. Tem que ser detida essa ameaça
à democracia. Marchar sobre Brasília com a intensão manifesta de atacar o
Congresso e o Supremo é crime. Marchar sobre Brasília com armas, atenta contra
a lei. Faixas e cartazes nesse sentido têm que ser subtraídos dos manifestantes
e são prova da intenção criminosa.
Quem quiser quebrar nossas instituições democráticas não pode
chegar a Brasília. Se chegar, não pode atingir a Praça dos Três Poderes, se o
fizerem não podem se aproximar do Congresso e do Supremo. Se quebrarem as
vidraças, Bolsonaro terá alcançado o seu principal objetivo e estaremos todos
perdidos.
FAUSTO MATTO GROSO
Engenheiro e professor da UFMS