sexta-feira, 27 de agosto de 2021

 

A MARCHA SOBRE BRASÍLIA




O fascismo surgiu na Itália sob a liderança de Benito Mussolini em 1919. Sua intenção era tomar o poder pela via eleitoral, mas, se fosse necessário, utilizaria a violência para garantir sua ascensão política. O fascismo obteve grande apoio político na Itália no início da década de 1920 por causa de sua atuação no combate ao socialismo.

A Marcha sobre Roma é como se conhece a grande marcha realizada pelos fascistas em 28 de outubro de 1922, em direção capital italiana. Esse evento foi responsável pela ascensão de Benito Mussolini  ao poder da Itália. No dia seguinte à marcha, Mussolini foi indicado para o cargo de primeiro-ministro. Mussolini foi cabo durante a guerra, mas no poder assumiu o cargo de Primeiro Marechal do Império.

Bolsonaro foi deputado federal por sete mandatos. Sua atuação parlamentar sempre foi caracterizada pelo discurso de ódio e de visões que incluem a simpatia pela ditadura militar, a defesa das práticas de tortura  e a defesa dos interesses dos militares, que constituíam sua principal base eleitoral.

Candidato, nunca enganou ninguém na sua campanha presidencial; pregava o armamentismo, o militarismo e o negacionismo. Foi beneficiário do medo da população e da insegurança social existente. Saiu da eleição colocando em dúvida a confiabilidade das urnas eletrônicas pelas quais tinha sido eleito.

No governo, revelou-se um presidente que não estava à altura dos grandes desafios da Nação: a crise econômica e o desemprego, a crise social e principalmente a crise sanitária. O Brasil piora a cada dia, há um clima de desconfiança e baixa credibilidade na economia e na política. O Presidente parece indiferente a isso, inclusive aos quase 600 mil mortos da Covid. Encheu seu governo de militares, mas acabou montando uma máquina pública absolutamente incapaz. Não se preocupa em governar e sim em construir crises políticas e institucionais. Usa o fracasso do seu governo como combustível para um autogolpe.

Não são poucas as semelhanças entre Brasília e Roma. Lá o “Duce”, aqui o “Mito”. Bolsonaro, diferentemente de Mussolini, já tem o poder, mas quer o poder sem limites. Não aceita as instituições democráticas, rejeita os limites da Constituição. Tem convocado e apoiado manifestações contra os outros poderes da República, inclusive com ameaças de invasão, violência física e depredações no Supremo e no Congresso. Segue o modelo desenvolvido por Trump, de quem foi grande admirador.

A Marcha sobre Brasília é hoje uma preocupação no país. É uma marcha da insensatez, capaz de levar o país a grandes conflitos, no limite, a uma guerra civil, que pode dividir o país pelas armas e até e ao enfraquecimento da unidade nacional. Essa situação interessa à Bolsonaro, pois dará justificativa para a intervenção das Forças Armadas, mantendo-o no poder.

Essa marcha tem que ser detida. Os governadores já se manifestaram nesse sentido e tem grande responsabilidade na busca de soluções.  Tem que ser detida essa ameaça à democracia. Marchar sobre Brasília com a intensão manifesta de atacar o Congresso e o Supremo é crime. Marchar sobre Brasília com armas, atenta contra a lei. Faixas e cartazes nesse sentido têm que ser subtraídos dos manifestantes e são prova da intenção criminosa.

Quem quiser quebrar nossas instituições democráticas não pode chegar a Brasília. Se chegar, não pode atingir a Praça dos Três Poderes, se o fizerem não podem se aproximar do Congresso e do Supremo. Se quebrarem as vidraças, Bolsonaro terá alcançado o seu principal objetivo e estaremos todos perdidos.

FAUSTO MATTO GROSO

Engenheiro e professor da UFMS

sábado, 7 de agosto de 2021

 

A NOSSA FRIACA


Neste ano, o frio extremo que vem do Sul atingiu fortemente o Sudeste e parte do Centro-Oeste brasileiro. Ao mesmo tempo o Hemisfério Norte padece com recordes de calor e volume de chuvas. No Canadá, os termômetros chegaram a quase 50ºC e as chuvas muito acima dos padrões inundaram cidades na Alemanha e na China, com grande perda de vidas.

Esses fenômenos parecem desconexos, mas segundo a ciência eles se prendem à realidade das mudanças climáticas. É importante diferenciar o conceito de clima de uma região, do tempo que está fazendo nela. Clima é uma característica dos padrões de comportamento de longo prazo, já a previsão do tempo para amanhã ou para a próxima semana, é uma situação pontual sem maiores consequências. As mudanças do clima colocam em risco a própria sobrevivência do homem na face da Terra.

Não é fácil para o leigo entender as complexas questões do funcionamento do sistema climático com seus fatores e elementos, mas a ciência tem apontado que desde a Revolução Industrial vem aumentando a queima de combustíveis fósseis (petróleo e carvão) e o desmatamento, ampliando na atmosfera a quantidade de gases que ampliam o efeito estufa. Esses gases dificultam a dispersão do calor dos raios solares que atingem o planeta, o que tende a aumentar a temperatura no globo como um todo e tem sido a causa comum desses desastres climáticos. Não que o efeito estufa em si seja o problema, ele é um fenômeno natural que possibilitou a existência da vida no planeta, se tal não existisse, segundo estimativas, a temperatura da Terra seria de 
-18ºC. Entretanto são as mudanças nesse sistema de frágil equilíbrio, causadas pelo homem, que constituem ameaças aos sistemas vivos.

As recentes ondas de frio no Brasil parecem contrariar a afirmação de que a temperatura na Terra está de fato aumentando. Na verdade, é exatamente o aumento médio da temperatura na América do Sul que empurra ar quente para a Antártida que em correntes circulares em sentido horário trazem, no retorno, o ar frio que tem gelado, em ondas, o sul do Brasil. Mandamos à Antártida massas de ar quente e recebemos dela massas de ar frio, segundo asseguram pesquisadores.

Atualmente vivemos uma realidade marcada pelos eventos decorrentes da crise climática, tanto na produção de alimentos como na produção de energia.

As perdas milionárias nas lavouras queimadas ou congeladas pelo frio provocam a redução da oferta de produtos e consequentemente o choque inflacionário nos preços dos alimentos, que afeta duramente as camadas mais vulneráveis da sociedade. Além de fazer os brasileiros tirarem os casacos do armário, a onda de frio que atinge o país também vai obrigar a população a colocar as mãos nos bolsos – só que não para esquentar.

As secas com os reservatórios vazios prejudica a produção de energia e já levaram à utilização das termelétricas para evitar apagão encarecendo as contas de luz dos brasileiros. É como se o Brasil entrasse no “cheque especial” das energias mais caras e poluentes.

Friaca é uma palavra que não existe oficialmente na língua portuguesa. Segundo alguns autores, ela nem deveria ser usada porque não significa nada. Mais radicais, alguns ainda observam que, além de imprecisa, ela é muito feia. Entretanto a palavra tem sido cada vez mais incorporada ao linguajar dos noticiários meteorológicos.  Nos estados do Sul é como dizer: “Piá, pegue a japona que vem friaca aí”.

FAUSTO MATTO GROSSO

Engenheiro e professor aposentado da UFMS