segunda-feira, 6 de abril de 2015

''O significado do Fora Dilma''

As manifestações de rua no 15 de março demonstraram a desaprovação e a grave crise de confiança dos brasileiros no governo.
A última pesquisa da CNT/MDA aponta que apenas 10,8% apontam a gestão Dilma ótima ou boa, enquanto 64,8% a tem como ruim ou péssima. Pior, mostra ainda que se a eleição presidencial fosse hoje, Aécio Neves venceria a disputa por folgados 55,7% contra 16,6%. Em relação aos escândalos na Petrobras, 68,9% acham que a presidente é culpada e 59,7% se diziam favoráveis ao impeachment, contra 34,7% que se dizem contrários. 
Inicialmente o governo e o PT tentaram descredenciar os manifestantes como sendo expressão dos derrotados da eleição presidencial, defensores do golpe militar, ou reacionários que se opunham aos avanços sociais. Ao contrário, o que move as ruas é a indignação com o presente e o imenso medo do futuro. 
A generosa intenção política de combinar desenvolvimento com justiça social não se assentou em bases sólidas. O projeto de criar um ciclo longo de desenvolvimento baseado na expansão do mercado interno tinha limites e centrou-se apenas em ações conjunturais de incentivo ao consumo individual, criando uma bolha de consumo, sem se preocupar com reformas estruturais que pudessem lhe dar longo curso, o que configura uma postura ideológica absolutamente conservadora: compre mais e vote no PT.
Houve um grande descuido quanto à expansão de bens e serviços coletivos como saúde, transporte público, saneamento, segurança e habitação, vitais em um País altamente urbanizado, com a população concentrada em grandes cidades, onde a vida do cidadão acaba se tornando um inferno cotidiano. 
Os equívocos da política econômica levaram à desindustrialização do País. A participação desse setor no PIB desceu ao nível dos anos 1940. A nossa economia voltou a se assentar crescentemente na produção primária, um recuo vergonhoso em termos da história econômica brasileira. A taxa de crescimento do PIB do primeiro governo Dilma foi o segundo pior resultado da história republicana.
Pior ainda, a crise fiscal começa a colocar em xeque todos os instrumentos de distribuição de renda montados nos últimos 20 anos. Os aumentos do salário mínimo acima do aumento da produtividade média da economia deverão se tornar cada vez mais improváveis, entre outras razões pela crise da Previdência.  A continuidade dos programas de transferência de renda já se encontra sob pressão em função do ajuste fiscal. A dura realidade do desemprego marcará os próximos dois anos, pelo menos. Enfim, deu no que tinha que dar a política de distributivismo sem geração de riqueza.
A outra crise se dá no plano da política. A governabilidade foi montada a partir do loteamento do estado nacional, para a manutenção da base de apoio político-partidária. O escândalo da Petrobras é apenas a ponta de um iceberg imenso que está ainda por se conhecer.  Esse tipo de prática rebaixou a credibilidade do sistema político, tornando a denúncia da corrupção o principal mote das vozes roucas das ruas.
Esse quadro mostra o esgotamento de um ciclo na política brasileira. Enfim, a pequena política, de curto prazo, sem dimensão estratégica, de simples projeto de poder sem projeto nacional, levou o País a uma imensa crise, que se reflete na crescente mobilização nas ruas. O próximo 12 de abril deverá comprovar isso. A festa acabou e esse bloco de poder não tem nada mais a oferecer ao País.
O que nos alivia é que o Brasil não vai acabar. Mas para passar por esse difícil período precisaremos da boa política, da grande política, que tem faltado ao Brasil. Com Dilma ou sem Dilma, esse problema terá que ser enfrentado com o esforço da nação. Poderá ser com Dilma? Isso é o que atualmente garantem a Constituição e as regras do jogo democrático. Mas para isso Dilma terá que, dialeticamente, se transformar no contrário do que é, com ou sem PT.


Engenheiro e professor da UFMS aposentado Fausto Matto Grosso