segunda-feira, 7 de setembro de 1998

“OI NÓS AQUI TRAVEZ”

(À CRÍTICA)
Como diz o samba, o “Partidão” volta à Câmara Municipal de Campo Grande. Se antes chegávamos através de outras legendas, como era a regra do jogo da ilegalidade (Vasconcelos pela UDN, Marcelo Martins e eu pelo PMDB), hoje com Athayde Júnior chegamos com nossa própria cara. Entretanto é o mesmo inconformismo ético em relação às históricas iniqüidade da sociedade brasileira.
É o velho “partidão”, agora PPS, mas ao mesmo tempo um partido que tenta ser profundamente novo em suas concepções, contemporâneo, realizando um grande esforço para mostrar a necessidade e a possibilidade de uma nova esquerda, de profundo compromisso democrático e em luta permanente para construir um novo projeto humano.
Do nosso vereador esperamos a radicalização. Afinal, somos esquerda para isso. Para realizar todas as rupturas possíveis com o processo de exclusão social, com o autoritarismo arraigado das elites brasileira, com as atuais práticas políticas que têm amesquinhado e desmoralizado a política como atividade superior do homem.
Mas que radicalize só o bom radicalismo, aquele que o povo possa acompanhar, que possa ter sintonia com as aspirações mais amplas da sociedade, que seja agregador de força social e política transformadoras. Nunca aquele que isola. Afinal, é lá no canto do ringue que a direita gostaria de nos ver, isolados, apenas protestando, sem possibilidade real de isolados, apenas protestando sem possibilidade real de participar da disputa do poder, para transformá-lo.
Temos certeza de que valorizará o mandato que recebeu, que cumprirá as suas tarefas e prerrogativas legislativas, e não será mero espectador de iniciativa de leis pelo parte do Executivo, como tem sido a triste tradição parlamentar brasileira. Que fará isso profundamente ligado à sociedade civil, que desta, será canal e instrumento de transformação.
Que enfrentará à tradição despolitizada de enxergar o vereador como mero despachante para cuidar de buracos de rua. Aliás, na época do meu mandato, alguns vereadores até pressionavam o Executivo para que não recebesse diretamente as reivindicações do movimento comunitário, sem que essas passassem pelo clientelismo dos seus gabinetes. Custa muito caro ao povo manter a Câmara Municipal para função tão mesquinha.
Esperamos do nosso vereador muita coragem, o que ele já demonstrou na luta sindical. Que enfrente os especuladores da terra urbana, os sonegadores – eternamente à espera de anistia fiscal, os depredadores do meio-ambiente. Que cobre um planejamento urbano transparente e democrático. Que exija educação, saúde e lazer de qualidade para esse povão eternamente excluído. E que preste atenção no Orçamento Municipal, pois é aí que se administra transformação das intenções em realidade. Orçamento é Poder.
Que fiscalize seriamente a aplicação do dinheiro público, inclusive na Câmara, sem esquecer de verificar, muito atentamente, se o subsídio que receberá está perfeitamente dentro da legalidade e da moralidade que o novo Brasil está exigindo.
Comportando-se assim, não precisará importar-se o plenário está cheio ou vazio, pois estará respondendo às pessoas que viram nele a possibilidade da nova política; responsável, competente, contemporânea das novas expectativas éticas, democrática e transformadora.
Política feita por políticos dos quais os eleitores não precisam ter vergonha.

FAUSTO MATTO GROSSO