A CULTURA
PECEBISTA
(Esta crônica será publicada no livro Histórias que Ninguém Iria Contar)
Na história política
brasileira há um estilo de pensar e agir “pecebista”.
O PCB, que fará 100
anos em março de 2022, nasceu no mesmo ano em que acontecia a Semana de Arte
Moderna de 1922, movimento esse que rompeu com os paradigmas elitistas e marcou
a cultura brasileira. Vários intelectuais que fizeram parte desse movimento se
filiaram a esse partido.
Ao longo do tempo, esse
passou a ser o caminho natural de grande parte de intelectuais brasileiros, fato
que permitiu ao PCB ter massa crítica para pensar sua política a partir do
exame da realidade brasileira, longe da cópia de modelos pensados em outras
realidades. Pensar a realidade brasileira para a definição da sua política
passou a ser um dos pilares da cultura pecebista.
A cassação de seu registro em 1948 levou
o partido a um breve período de radicalização esquerdista, mas, já em 1958, a
partir da Declaração de Março, o partido rompe com o stalinismo, indica o
caminho democrático para a revolução brasileira e começou a pleitear o seu
reconhecimento legal para participar da luta política como qualquer outro
partido. Para isso, muda o nome para Partido Comunista Brasileiro (PCB) já que com
o nome antigo havia sido cassado. Esse compromisso com a democracia foi o
segundo pilar da sua cultura política.
A
resposta ao Golpe Militar marcou um divisor de águas na esquerda brasileira,
com o surgimento de vários grupos de luta armada. O Partidão manteve-se firme
na política de frente democrática. Condenou a luta armada e apontou o caminho
da unidade das forças democráticas para a conquista da Anistia, da Constituinte
e de eleições livres e diretas. Esse foi o caminho vitorioso da
redemocratização. Essa política de frente democrática ampla se transformou na
via vencedora na luta contra a ditadura. Foi a insistência nessa política de
frente democrática no pós-64 que lhe deu confiabilidade e uma influência bem
maior que o seu verdadeiro tamanho. Foi a afirmação da luta política, e não o
caminho da das armas para a revolução brasileira.
A
afirmação da luta política diante dos descaminhos da luta armada constituiu o
terceiro pilar do pecebismo.
Esses três elementos, pensar a
realidade brasileira, defender a democracia e acreditar na política como forma
de luta, constituem os elementos fundantes da cultura pecebista. Essa cultura
influenciou a política brasileira por muitos anos, e esparramou-se para além das
fronteiras partidária.
Para
além do lugar que ocupam na história nacional, os comunistas do PCB deixaram
várias contribuições para o pensamento de esquerda no Brasil, dentre elas, a
mais importante é a da valorização da política e da democracia no campo da
esquerda. O pensamento político do PCB não se reduziu a mero reflexo de uma
ideologia exógena, forjou um tipo de atuação influenciado por valores
democráticos e particularmente por condutas unitárias.
As
crônicas que colocamos nesse livro dizem respeito à história de vida de muitas
pessoas com as quais compartilhamos a mesma luta política. A cultura pecebista
forjou uma camaradagem sólida entre os personagens dessas histórias, que hoje
perpassa as fronteiras partidárias e se tornou um valor afetivo.