domingo, 15 de abril de 2018


DE TRANSIÇÃO EM TRANSIÇÃO
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  Quem espera grandes mudanças nas eleições de 2018, pode ir tirando o cavalinho da chuva. Como já disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o próximo governo ainda será um governo de transição, dada a extrema fragmentação política, a radicalização sectária e a falta de coesão da sociedade brasileira.
  Hoje existem cerca 15 pré-candidatos presidenciais para primeiro turno e, até agora, nenhuma boa ideia capaz para entusiasmar, unir e mobilizar a sociedade. A sociedade está cética e fragmentada. Nesse clima, não é possível construir um projeto de país, minimamente consistente, e que tenha governabilidade garantida. Devemos lembrar que, ao mesmo tempo em que votarmos no Presidente, estaremos elegendo deputados e senadores. Esses parlamentares serão aqueles beneficiários do engodo da minirreforma eleitoral que criou o Fundo Púbico Eleitoral, sob controle dos caciques partidários, que atuarão no sentido de dificultar a renovação política. O próximo Congresso deverá ser igual ao atual, ou pior.
  Quanto à análise sobre a radicalização, não há como fugir da questão, quem introduziu essa política de “nós contra eles” foi o PT, que agora é a sua principal vítima. Se inicialmente produziu grandes esperanças, hoje representa a esquerda saudosista e regressiva, dos anos 50 e 60, cuja visão está rejeitada pela história. Hoje tem contra si, a direita saudosista da ditadura. É atraso de esquerda contra atraso de direita, ambas tentando fazer política em um mundo que não existe mais.
  A política no País não avança e está vivendo de crise em crise. Depois da democratização, tivemos a transição com Sarney, o curto governo Collor, a transição com Itamar, seguida de quatro governos sociais democratas, dois do PSDB e quase dois do PT, seguido da atual transição com Temer. Tivessem PSDB e o PT que, de certa forma tinham projetos para o País, grandeza e responsabilidade, poderíamos ter a possibilidade de diálogo. Mas prevaleceram os projetos de poder, com os dois polos sociais democratas, reforçando as suas aproximações com forças conservadoras e fisiológicas para garantia da governabilidade. A corrupção foi a ferramenta dessa estratégia de poder. Foram quatro oportunidades perdidas.
  Hoje, falta à sociedade um mínimo de coesão social. Os diversos grupos vivem, cada um em um País diferente, o que dificulta o diálogo e a identificação de afinidades para articulação de projetos nacionais.
  Ter coesão significa que os diversos atores sociais e políticos devem se sentir parte de um mesmo País, para assim facilitar a interlocução sobre um projeto de futuro para o Brasil. O País terá que ser único, dos brasileiros, com as divergências disputadas no âmbito do último pacto político social que conseguimos fazer e se encontra consolidado na Constituição de 1998. As disputas teriam que se aterem aos limites desta.
  Enquanto isso, as recentes pesquisas eleitorais apontam para o favoritismo de Lula e Bolsonaro em cenários de primeiro e segundo turno, mesmo aquele não podendo ser candidato. Existe também um elevado percentual de rejeição à política e a todos os candidatos, o que passa de 50%.
Para responder a esse impasse político, seria necessário criar um campo de centro, que articulasse, também, a esquerda democrática e a direita civilizada, em um programa mínimo para ganhar a eleição e sustentar o novo governo, isolando nos guetos os radicais de direita e de esquerda, ambos com visões políticas regressivas e reacionárias diante de um mundo em profunda transformação. Convenhamos, trata-se de uma tarefa muito difícil, mas cuja construção ainda deve ser perseguida.
Isso não acontecendo, não teremos projetos nacionais em disputa em 2018. Teremos que nos conformar com um novo governo de transição, incapaz de reconstruir o País tendo que se dedicar, nos próximos quatro anos, a uma demorada e complexa reconstrução política do país. Nada mais.
Fausto Matto Grosso
Engenheiro, professor aposentado da UFMS
15.04.2018

segunda-feira, 9 de abril de 2018


A CRISE DO DESEMPREGO
O IBGE divulgou, recentemente, o índice de desemprego no Brasil correspondente ao trimestre entre Novembro e Janeiro. Ficou em 12,2%, o que corresponde a 12,7 milhões de pessoas desempregadas. Foi uma reversão de expectativa, pois o índice que vinha caindo desde março de 2017, voltou a subir. Isso aconteceu ao mesmo tempo em que a economia brasileira sai da recessão, tendo um crescimento de 1% em 2017 e projeta um crescimento de 2,87% para 2018. Ou seja, o emprego caminhou na contramão do crescimento econômico.
Muitos analistas chamam a atenção para o fato que o atual desemprego no Brasil, não é meramente conjuntural, fruto da crise econômica atual. É resultado, também, da modernização da indústria 4.0 e da reorganização da produção em escala global. Em outras palavras, a retomada do crescimento econômico não significará, necessariamente, oportunidades para os atuais desempregados. Está em curso a caminhada rumo a uma sociedade com menos emprego, que precisará, cada vez menos, de trabalhadores.
Essa nova sociedade da robótica avançada, da inteligência artificial, da internet das coisas (IoT) e da impressão 3D demandará menos trabalhadores e os primeiros a serem substituídos serão aqueles que realizam trabalhos repetitivos e trabalhos artesanais de precisão, facilmente traduzíveis em algoritmos a serem processados pelas máquinas. Muitas profissões já desapareceram nas últimas décadas.
Os analistas divergem quanto ao impacto dessas transformações tecnológicas no emprego. Otimistas, alguns afirmam que os novos empregos afastarão os trabalhadores atuais, mas que novas oportunidades serão abertas para estes em novas áreas. Chamam a atenção que todo processo de mudança causa apreensão e insegurança, ocorreram em todas as mudanças tecnológicas, mas as pessoas tem grande capacidade de adaptação e o sistema tenderá a se auto-equilibrar.
Por sua vez, o insuspeito Klaus Schwab, fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial (Davos) e autor de A Quarta Revolução Industrial, adverte que há uma certeza: as novas tecnologias mudarão drasticamente a natureza do trabalho em todos os setores e ocupações. A incerteza fundamental tem a ver com a quantidade de postos de trabalho que serão substituídos pela automação. Quanto tempo isso vai demorar e aonde se chegará? Daimler Benz (Mercedes Benz) afirma que 70-80% dos empregos vão desaparecer nos próximos 20 anos.
O problema do desemprego tenderá, pois, ao agravamento e tornar-se-á, provavelmente, o principal problema dos países nos próximos anos. Poderá fazer surgir grandes turbulências na sociedade. O que fazer com os trabalhadores que serão marginalizados nesse processo? Esse assunto deverá adquirir centralidade na pauta brasileira.
 A primeira dificuldade que teremos pela frente é a da falta de sensibilidade das lideranças, públicas e empresariais, para esse assunto. Há falta de visão estratégica na discussão sobre o desenvolvimento.
Também a qualidade da nossa educação, passaporte necessário para a nova economia, ainda é um problema não resolvido entre nós. Estamos colocados na retaguarda, em comparação com os países da OCDE. Considerando os 72 países que foram analisados pelo PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), ficamos em 55º lugar em leitura, 58º em matemática e 59º em ciências. É uma tragédia para o futuro dos jovens brasileiros, afirmou o próprio Ministro da Educação, quando da divulgação dos resultados.
Para anteciparmo-nos a essa crise, deveremos colocar em análise novos modelos de distribuição da riqueza produzida. No novo paradigma produtivo, a força de trabalho poderá ser crescentemente desnecessária, mas as pessoas não podem ser descartadas. A ideia da renda mínima cidadã, do sonhático senador Suplicy, talvez mereça ser resgatada. Hoje o conceito de cidadania é considerado ligado à obtenção de emprego e a renda. É preciso ampliar essa noção. Se o indivíduo existe deve ser considerado cidadão. Respirou é cidadão!  Esse talvez possa ser a novo lema humanista.
Fausto Matto Grosso
Engenheiro, professor aposentado da UFMS.
09.04.2018