sexta-feira, 10 de outubro de 1997

O DESAFIO DA MUDANÇA

A esquerda brasileira vive hoje o que talvez seja o seu maior desafio. Derrotada eleitoralmente por FHC, colocou-se , à exceção do PPS, em uma posição meramente defensiva, postando-se na “retranca” contra qualquer mudança. Começou aí a sua derrota política, ao descredenciar-se como pólo alternativo à reforma neoliberal.
Deixando a bandeira das reformas cair nas mãos da direita, confundiu-se com o conservadorismo e foi incapaz de articular amplamente suas posições, como o fez , de maneira adequada, no processo constituinte.
Do MST, única oposição à FHC com apoio real na opinião pública, não entendeu a essência: a luta à “favor” e não simplesmente contra.
Aproximando-se o processo eleitoral de 98, é de fundamental importância que a esquerda perca a arrogância, perceba que a luta contra o neoliberalismo não é só sua, e abra-se para articulações mais amplas em direção ao centro e à centro-esquerda. Em escala latino-americana essa tem sido a indicação de importantes fóruns políticos.
A candidatura Lula deve ser apenas uma das possibilidades, não a única. Terá inclusive que analisar as alternativas Ciro Gomes e Itamar Franco, isto se não quiser continuar jogando apenas com uma utopia sempre colocada no futuro, como era da sua antiga e esgotada tradição.
O programa comum a ser construído com as outras forças progressistas deve incluir necessariamente uma proposta de reformas amplas, além do desenvolvimento sustentado e do resgate da dívida social.
Em Mato Grosso do Sul, um quadro semelhante está colocado.
Pela primeira vez em nossa história política a esquerda vai, efetivamente, disputar o poder. Não se trata mais de lançar cadidatos para acumular força ou simplesmente para eleger deputados. Essa etapa já está cumprida. A última eleição municipal, na capital, mostrou o inconformismo e o potencial renovador do eleitorado bem como os sinais claros de esgotamento da política tradicional. No interior do Estado pode-se sentir a mesma expectativa quanto à renovação das lideranças políticas.
Claro está para nós que a esquerda, sozinha, não pode se considerar dona desse sentimento. Nosso desafio é o de construir uma ampla articulação capaz de juntar lideranças representativas de um amplo leque ideológico que vá do centro até a esquerda, para viabilizar a força político-eleitoral que a credencie como alternativa de poder. Temos consciência de que esse bloco precisa ser maior do que a esquerda, mas também a convição de que este não será capaz de renovar a política, se a esquerda dele estiver ausente.
Não deverá ser também um bloco ou uma frente contra quem quer que seja, mas sim uma alternativa nova, construida em torno de eixos programáticos claros e sintonizados com as aspirações da população e que devem incluir, além das questões gerais, o compromisso claro com a eficiência e moralização do poder público..
Não se trata de movimento para viabilizar uma ou outra candidatura pré-fabricada, mas sim uma articulação plural, capaz de trabalhar a unidade em torno do nome que melhor representar o sentimento de mudança da população e que tiver melhor competitividade eleitoral. Hoje o PT tem o nome do deputado Zeca. E o PPS tem o nome de Carmelino Rezende, atual presidente da OAB. Muitas outras alternativas poderão surgir no interior dos partidos da nossa aliança, que inclui também o PSB, PDT, PV, PMN, PcdoB e PAN com possibilidades de incluir ainda outros partidos democráticos.
Prevalecendo a responsabilidade política diante dos desafios que estão colocados, vencendo-se as tentações hegemonistas e divisionistas, as possibilidades poderão transformar-se em realidade. Mato Grosso do Sul poderá ter uma nova política, após 98, da qual se orgulhem os sul-mato-grossenses.

FAUSTO MATTO GROSSO

Presidente do PPS/MS

sexta-feira, 12 de setembro de 1997

O DESAFIO DA MUDANÇA E DA INTEGRAÇÃO REGIONAL

Pela primeira vez em nossa história política a esquerda vai, efetivamente, disputar o poder em Mato Grosso do Sul. Não se trata mais de lançar cadidatos para acumular força ou simplesmente para eleger deputados. Essa etapas já estão cumpridas. A última eleição municipal, na capital, mostrou o inconformismo e o potencial renovador do eleitorado bem como os sinais claros de esgotamento da política tradicional.
No interior do Estado também pode ser sentida uma grande unidade da opinião pública
Em torno da idéia da renovação das lideranças políticas. Claro está para nós que a esquerda, sozinha, não pode se considerar dona desse sentimento. Nosso desafio é o de construir uma ampla articulação capaz de juntar lideranças representativas de um amplo leque ideológico, que vá do centro até a esquerda, para viabilizar a força político-eleitoral que nos credencie como alternativa de poder. Temos consciência de que esse bloco precisa ser maior do que a esquerda, mas também a convição de que ele não serrá capaz de renovar a política, se a esquerda dele estiver ausente.
Não deverá ser também um bloco ou uma frente contra quem quer que seja, mas sim uma alternativa nova, constrúida em torno de eixos programáticos claros e sintonizados com as aspirações da população. Eficiência e moralização do poder público, política de fomento ao desenvolvimento sustentado e compromisso com o resgate da dívida social são algumas dessas questões aglutinadoras.
Essa articulação, nascida no seio da esquerda, atrai a atenção e a simpatia de inúmeras lideranças políticas e deverá provocar, até o final deste mês importantes deslocamentos, rumo a esse campo, do que há de melhor na política estadual.
Não se trata de movimento para viabilizar uma ou outra candidatura pré-fabricada, mas sim uma articulação plural, capaz de trabalhar a unidade em torno do nome que melhor representar o sentimento de mudança da população e que tiver melhor competitividade eleitoral. Hoje o PT tem o nome do deputado Zeca. O PPS tem o nome de Carmelino Rezende, atual presidente da OAB. Muitas outras alternativas poderão surgir com as novas adesões aos partidos da nossa aliança, que inclui também o PSB, PV, PMN, PcdoB e PAN com possibilidades de vir a incluir ainda outros partidos democráticos.
Daí o desafio de dar uma abrangência estadual ao PPS e aos outros partidos do nosso campo. Os nossos esforços tem se dirigido, em especial, ao Bolsão, território onde toda a esquerda se encontra fragilizada no aspecto organizativo. A atual viagem do deputado Zeca do PT à região, prende-se também a essa realidade.
A geografia, a história, a economia e a tradição cultural tem afastado o Bolsão de uma integração maior à política estadual, situação inconcebível, principalmente na época da globalização e da comunicação instantânea. As novas condições de integração possibilitadas pela recepção local dos sinais da televisão sul-mato-grossense ajudam nessa integração.
Os moradores de Paranaíba, Cassilândia, Três Lagoas, Aparecída do Tabuado, Chapadão, Costa Rica e outros municípios terão mais facilidade para saber quem é quem na política sul-mato-grossense. Terão a possibilidade de constatar que existe em nosso Estado uma política de esquerda moderna, responsável e competitiva eleitoralmente. Perceberão que a mesmo sensação de se sentirem fraudados pela política dos velhos caciques, existe também em todas as outras regiões de Mato Grosso do Sul.
Frizamos também que o espaço aberto pela esquerda na região estará disponível às lideranças locais, que esperamos, cada vez mais integradas ao nosso esforço, inclusive com mandatos populares conquistados nas urnas de 98, para construirmos um outro destino político para Mato Grosso do Sul,

FAUSTO MATTO GROSSO

Presidente Regional do PPS

segunda-feira, 5 de maio de 1997

COISAS DE TUCANO

Alguém já disse que intelectual tucano é mesmo assim. Se você discorda de sua opinião ele a expõe novamente, com outra forma, pacienciosamente, porque pensa que você não a entendeu.
É incapaz de admitir a divergência.
Agora, intelectual tucano no poder ainda é pior. Obstinado, dono da verdade, começa a chamar os divergentes de neo-bobos, toscos e os acusa de estarem fazendo mero nhé-nhé-nhém!
Na semana passada, FHC deu um passo mais audacioso. Disse que os adversários da privatização da Vale eram pessoas que achavam que “ o certo era o regime da ex- União Soviética”. Se me contassem eu não acreditaria, mas essa eu ví na telinha.
Diante dessa postura de cristão novo do neo-liberalismo, só podemos dar razão a Dom Pedro Casaldáliga: “FHC era bem melhor na época em que era ateu!”
A mesma coisa se repete com relação ao Plano Real. Para o governo só existe um caminho para a estabilização da moeda e a na contabilidade dos prós e contras só é aceita a estatística eufórica, do franguinho a mais na dieta do brasileiro pobre, sem dúvida nenhuma uma proeza que precisa ser comemorada.
Acontece que, para o conjunto dos trabalhadores, tem que ser posto na mesa, além do frango, o desemprego (falsificado pelas estatísticas oficiais), a falta de saúde pública, a falta de educação pública e a falta de segurança pública.
É só olhar para Mato Grosso do Sul que esta verdade salta à vista. A nossa crise estadual , fruto de irresponsabilidades e incompetências de nossa elites dirigentes, tem também fortes componentes nacionais. É o recurso subtraido pelo fundo de estabilização fiscal (cuja renovação deve ser aprovada pela nossa dócil bancada federal), é a lei Kandir, é a política econômica de juros altos que inviabiliza os investimentos produtivos, etc. O resultado disso é a qualidade da nossa educação, da nossa saúde e da nossa segurança pública.
Mas não pensem que nosso Estado não tem saída. Após uma previsível crise de governabilidade, que ocorrerá quando os 50 mil servidores tiverem acumulados, sem receber, 3 ou 4 meses de salários (isto lá pelo final do ano), o Governo Federal, jogará uma tábua de salvação financeira provisória. Naturalmente isso virá pela mão do tucano ungido como candidato a governador / cabo eleitoral presidencial.
Haja coração !

FAUSTO MATTO GROSSO

06/05/97

quinta-feira, 3 de abril de 1997

PARABÉNS, O GOVERNO ACORDOU !

(03/04/97)
Após mais de dois anos de letargia, parece que o Governo do Estado começou a acordar. Lançou uma onerosa campanha publicitária para dizer que não tem dinheiro, encaminhou à Assembleia uma série de projetos que compõe o Programa de Ajuste Fiscal (PAF) e anunciou, ainda para final de maio, o lançamento de um Plano de Desenvolvimento.
O conjunto de medidas, além de tardias, apresenta uma série de problemas, inconsistências e insuficiências graves. Tomadas no desespero da falência da máquina pública, reproduz uma ideologia de escolher o funcionalismo como bode expiatório da crise do Estado.
Vamos a um problema preliminar: a credibilidade. Não se trata aqui da respeitabilidade pessoal do Governador, mas as “vozes roucas das ruas” e dos formadores de opinião falam muito mal desse governo. E nesse caso tem que valer a máxima “a mulher de César, além de ser honesta tem que parecer honesta”. Medidas que enfrentem essa questão são preliminares imprescindíveis para que o Governo possa recobrar a confiança da população e realizar as reformas que são necessárias.
Em mensagem à Assembléia o Governador afirma que tem consciência da necessidade de instituir um “modelo novo de política administrativa”, mas em nenhum momento sinaliza minimamente qual é esse modelo, aponta apenas para o problema do “tamanho do Estado”, tal com está colocada, mera ideologia imposta por órgão financiadores internacionais e nacionais. Retrato dessa desorientação é a formulação dada ao Plano de Demissão Voluntária.
Pelo PDV, qualquer servidor pode pedir demissão premiada. Assim, pressionados por salários miseráveis e atrasados, professores, policias, e profissionais da saúde provavelmente abandonarão em massa o serviço público. Ora, nem o mais empedernido dos neoliberais advogaria uma destruição, ainda maior, da capacidade do Estado nas áreas de Educação, Segurança e Saúde Pública. Tem mais, as vagas correspondente serão extintas, vedada a recriação no período de dois anos. Medidas dessa natureza ou são simples exacerbação ideológica ou denotam a mais absoluta incompetência analítica.
Seguindo a mesma pressão, os técnicos mais capazes, que hoje fingem que trabalham enquanto o Estado finge que lhes paga, serão os primeiros a integrarem o PDV, desta maneira se destruirá ainda mais a capacidade de o Estado enfrentar, com competência, seus desafios, entre eles o de propor um Plano de Desenvolvimento, que Wilson Martins promete ainda para o final de maio.
Apesar de todas essas barbaridades, diante da proposta do governo, a oposição de esquerda deve se comportar com a mais rigorosa responsabilidade. Isto passa por reconhecer que a situação do Estado é grave e exige o esforço e a capacidade de todos.
O Programa de Ajuste Fiscal é um grande “limão”. Devemos ter competência para fazer dele uma saudável limonada. Elaborar alternativas é o grande desafio. A esquerda, na oposição, diante da crise, deve pautar-se pela mesma responsabilidade que teria, se já fosse poder, até para, um dia, vir a sê-lo.

FAUSTO MATTO GROSSO

Presidente do PPS/MS

terça-feira, 18 de março de 1997

75 ANOS DE HISTÓRIA

Não sei se por desinformação, ou por intenção malévola, alguns órgãos de imprensa têm se referido aos quadros do PPS como “ex-comunistas”. Ex-comunistas, uma ova !
Não somos daquela gente que pede que esqueçamos o que escreveu. Para nós isto seria até impossível porque, como diz o poeta Ferreira Gullar, nossa história, em muito, coincide com a história das lutas do povo brasileiro.
Se a mídia precisa simplificar nossa essência em uma única palavra, que nos chame então de pós e não de ex. Esta é a verdadeira situação do PPS.
O surgimento do PPS não significou à negação do PCB, mas sim a sua superação dialética.
A crise de civilização, dentro da qual se inscreve tanto a crise do socialismo real como a da social-democracia e do próprio capitalismo, nos impôs a busca de instrumentos mais adequados ao salto civilizatório que estamos vivendo.
O PPS, nesse sentido, representa continuidade e ruptura.
Por definição estatutária, somos herdeiros diretos do PCB e do seu patrimônio histórico-político. Temos o maior orgulho de carregar o que o sociólogo Werneck Vianna chama de “o baú” do Partidão. Temos sastisfação de sermos reconhecidos como a grande escola de quadros da sociedade brasileira, que deixaram marcas nas lutas sociais, na cultura e na política.
Mas ao mesmo tempo somos parte de um processo de reordenamento da esquerda, pois incorporamos várias outras correntes progressistas, socialistas, sociais-democratas, humanistas e ecológicas, de origem política e filosófica diversa da tradição pecebista. Somos hoje um partido com programa mas com composição e concepção pluralista, que busca reinventar o socialismo e o humanismo para as condições da pós-modernidade, partindo do insubstituível ideal ético da solidariedade, que sempre orientou nossas lutas. Este é o sentido da nossa praxis tranformadora na política brasileira.
O PCB nasceu como instrumento de luta política e acabou marcando a história do Brasil. Mudamos de nome e renovamos nossas concepções para continuarmos fazendo política e, se possível, história.
Se o velho PCB, nos seus primórdios, pensava a revolução como um momento de insurreição, nós do PPS não nos julgamos menos revolucionários, ao encará-la como processual e como exercício da radicalidade democrática. Pretendemos ser um pólo de aglutinação da esquerda democrática do País.
Neste 25 de março nossa aventura completará 75 anos, ¾ de século. Queremos continuar o sonho do jornalista Astrogildo, do contador Cordeiro, do gráfico Pimenta, do sapateiro José Elias, do vassoureiro Luís Peres, dos alfaiates Cendon e Barbosa, do ferroviário Hemogênio e do barbeiro
Nequete.
Aqui entre nós também sonham ou sonharam esse sonho o médico Alberto Neder, os contadores Sá Carvalho e Arthur de Barros, os operários Ezequiel e Vitorino, os engenheiros Euclydes e Diomédes, o carroceiro Granja, os encanadores da família Bissoli, os professores Itamar e Ênio Cabral, os advogados Brandão e Amorésio, os jornalistas Vasconcelos e Rádio Maia e tantos outros matogrossenses ilustres e respeitados.
A inúmeras fichas de filiação, abonadas neste fim de semana pelo Senador Roberto Freire, representam a continuidade dessa história e desse sonho.
Sonho com um País onde todos comem, onde todos moram, onde todos vivem e não apenas sobrevivem.

FAUSTO MATTO GROSSO
Presidente do PPS/MS

                                                                                                 

terça-feira, 11 de março de 1997

MST: QUEM NÃO GOSTA LEVANTA A MÃO...

... e exija que o Governo faça a Reforma Agrária, senão vai ter que continuar assistindo o MST fazer a sua.
Os movimento sociais, gostemos ou não deles, são frutos da realidade social do País. É impossível criá-los ou mantê-los artificialmente se não existe tal correspondência, principalmente um movimento com a amplitude adquirida pelo MST.
Também, de nada adiantará o Governo cumprir sua meta de assentar 200 mil famílias se o problema tem a dimensão de 12 milhões de trabalhadores rurais sem terra.
Um governo que se pretenda social-democrata deveria saudar a existência do MST, mesmo com todos os seus problemas. O professor Celso Furtado tem apontado a grande possibilidade que pode ser representada pela volta e fixação ao campo dos milhões de excluídos da “modernização”.
O Brasil está sendo um caso único no mundo onde pode existir, a curto prazo, uma saída não traumática para a crise do desemprego estrutural.
E neste caso não adianta a hipocrisia de cobrar “vocação rural” desses trabalhadores, que, aliás, a têm mais do que o Presidente da República, ele próprio um intelectual proprietário rural. A sociedade pós-moderna, cuja implantação está sendo acelerada pela globalização, terá mais dia, menos dia, conforme apontam alguns estudiosos, que substituir o paradigma baseado no emprego pelo paradigma baseado na ocupação.
Neste caso, mesmo a agricultura familiar de subsistência é preferível, aos programas de renda mínima que a sociedade terá que providenciar sob pena de sucumbir diante da explosão da bomba social. A não ser que, sendo impossível esconder debaixo do tapete os excluídos da globalização, se opte pela “solução final” hitlerista de extermínio em massa dos miseráveis.
Durante a última semana vários setores da mídia tem procurado infundir, na opinião pública a desconfiança em relação ao MST. No tempo da Guerra Fria o movimento seria apontado como beneficiário do “ouro de Moscou”. Impossível faze-lo hoje, seu inimigos buscam desesperadamente desmoralizá-lo pela origem dos seus 20 milhões arrecadados no ano passado, principalmente quanto aos 4 milhões de reais provenientes de doações de trabalhadores beneficiários de financiamentos oficiais.
Seria mais justo que se preocupassem com os caixas já abarrotados para as próximas campanhas eleitorais, com origem duvidosa, onde tal valor, no geral é gasto para eleger um simples deputado federal.
Embora seja difícil, é bom não perder a ordem de grandeza dos números. O Estado de Santa Catarina perdeu, segundo a CPI dos precatórios, 86 milhões com o deságio dos títulos e 33,2 milhões com comissões de intermediários, Alagoas perdeu 69 e 14 milhões respectivamente. Só a Distribuidora Negocial faturou 168 milhões nas suas operações. Diante disso, o que são 4 milhões? Apenas o valor da última casa de praia do banqueiro Júlio Bozzano, presidente do Banco Bozzano & Simonsen, uma das principais empresas operadoras das recentes privatizações feitas pelo Governo Federal.
Mas voltando ao MST. Não posso dizer que gosto dele. Da visão fundamentalista e da subestimação da importância da democracia, que podem ser filtradas nas manifestações de algumas de suas mais expressivas lideranças. Politicamente trabalha com métodos que assustam a qualquer mentalidade arejada de esquerda, nesse sentido, sendo a contraface perfeita da UDR. Acho inclusive que, não tendo cuidado, corre um grande risco de deixar de ser um movimento social legítimo e passar a ser um partido político. Reflete , entretanto, a barbárie, a violência e o atraso das relações sociais no campo e a dimensão do problema da exclusão social do País. Por isso, exatamente temos que respeitá-lo e valorizar a sua luta e representatividade.

FAUSTO MATTO GROSSO

Presidente do PPS/MS

quinta-feira, 13 de fevereiro de 1997

MS SEM RUMO

Qualquer observador atento já constatou que a política sul-mato-grossense nos últimos 30 anos gravitou em torno da estreita opção entre o pedrismo e o antipedrismo. Com uma sociedade civil fracamente organizada, que tem sido incapaz de gerar quadros políticos representativos, Mato Grosso do Sul assiste impotente a alternância entre a modernização conservadora- autoritária e o nada, que tem sido representado pelo anti-pedrismo no governo.
A esquerda tem sido também impotente para produzir uma nova política que seja superação e não apenas negação da política dos dois pólos dominantes. Isto tem sido, provavelmente, a causa da sua dificuldade em se credenciar, na sociedade, como alternativa de poder.
Assim, nosso desenvolvimento tem sido fruto de situações de fato criadas pela intervenção do projeto (?) pedrista e pela ação espontânea e aleatória dos agentes econômicos. Falta política de desenvolvimento. Falta também a intervenção coerente do Estado, direta ou associadamente, na infra-estrutura, no oferecimento de serviços básicos e na produção da base científica e tecnológica necessária ao novo padrão de desenvolvimento produzido pela revolução científico-tecnológica.
Alguns sinais auspiciosos, entretanto, começam a surgir.
Recentemente a Petrobrás patrocinou uma assessoria ao Governo Estadual para a produção de um importante estudo sobre os cenários de MS para o ano 2010. Analisando as macro-tendências mundiais, nacional e regional foram apontadas importantes orientações estratégicas que deveriam balizar a ação governamental e dos agentes privados no processo de desenvolvimento . Parabéns para a Petrobrás. Zero para o governo que, a não ser por parte um ou outro técnico, aparenta desconhecer e desconsiderar tal estudo.
Esse estudo, não podendo ser tomado como enunciado de verdades absolutas, representa um importante ponto de partida para um amplo debate estadual sobre o rumo que queremos para Mato Grosso do Sul.
Dois outros sinais positivos surgem da sociedade civil. A criação do Fórum MS, formado por instituições e cidadãos que buscam a construção de consensos estratégicos para o desenvolvimento do Estado e o Movimento pela Eficiência e pela Moralidade do Poder Público, liderado pela OAB/MS. Este último tem atuado em duas importantes questões: o combate ao nepotismo - sintoma da degradação ética do serviço público - e a mobilização da sociedade para a discussão do orçamento público estadual.
São movimentos amplos e generosos, espaços de cidadania , sinais de que a sociedade civil quer deixar de ser tutelada pelos governos e pela viciada política dominante, buscando a maioridade.
Reforçar esses movimentos é da maior importância para o futuro do Estado, ao mesmo tempo em que se deve cobrar do Governo a responsabilidade da discussão pública das orientações estratégicas do estudo da Petrobrás.

FAUSTO MATTO GROSSO

(Presidente do PPS/MS)

quinta-feira, 30 de janeiro de 1997

REELEIÇÃO E AS PERSPECTIVAS DAS ESQUERDAS

Com a emenda da reeleição praticamente aprovada, muitos analistas consideram que acabou o governo FHC e abriu-se, prematuramente, o processo eleitoral. Itamar e Maluf já se insinuam candidatos. Sarney não esconde a sua pretensão. O bloco político dominante formado pelo PFL e PSDB aparenta confiança no seu rolo compressor e já conta, como certo, com um novo reinado de FHC, para aprofundar a modernização conservadora.
E as esquerdas ? O plural da frase anterior enfatiza exatamente que, pelas suas diferenças, não está predeterminado que elas marcharão juntas. O PPS se define como em oposição ao Governo FHC, contra o neoliberalismo mas também contra certo tipo de pensamento conservador, autoritário e isolacionista, ainda vigente em vários segmentos da esquerda.
A crise de civilização, da qual fazem parte tanto o esgotamento do “socialismo real” e da social-democracia européia como a onda neoliberal, impactou profundamente as esquerdas. Também atingido por essa conjuntura o PPS, ao mesmo tempo em que busca participar da “reinvenção” do socialismo para a sociedade pós-industrial do século XXI, não pretende se omitir diante dos problemas reais que o País tem aqui e agora. Por isso se recusa à simples oposição a qualquer mudança proposta pelo governo, posição inexplicável para quem se pretende de esquerda, e aponta a necessidade de as esquerdas disputarem, com as suas propostas, o rumo dessas mudanças. Sair da posição defensiva e credenciar-se também com agente de reformas é o nosso desafio. Existe alternativas à selvageria do mercado livre e à ilusão do Estado mínimo que não sejam o estatismo e o isolamento do mundo.
E mais, pelo caráter excludente do tipo de desenvolvimento imposto pelo neoliberalismo, a tarefa de enfrentá-lo não é só das esquerdas. Não cabe, neste momento, apenas “correr por fora”, buscando uma remota alternativa de poder para as esquerdas ou para o “campo popular”. Nosso desafio deve ser o de contrapor ao bloco conservador formado pelo PFL e PSDB um outro bloco político hegemônico,.também portador de futuro e de mudanças. Por isso a necessidade de se pensar, de maneira mais aberta, tanto um programa como uma política de aliança para as próximas eleições.
Nesse sentido aponta também recente seminário realizado em Tepozlán, no México, coordenado pelo professor Roberto Mangabeira Unger (PDT) e pelo professor mexicano Jorge Castañeda. Com a presença de Lula, Ciro Gomes e Tarso Genro, avaliando-se o quadro latino-americano, foi apontada a necessidade de a esquerda aproximar-se do centro para enfrentar o neoliberalismo.
Acredito ser esta a tendência da política eleitoral do PPS para 98. As eleições regionais, por serem casadas com a eleição nacional, deverão refletir essa tendência geral. Este é um rumo que pode viabilizar a unidade das esquerdas e, mais do que isso, uma unidade programática do campo democrático e progressista.

FAUSTO MATTO GROSSO
Presidente do PPS/MS

(30/01/97)