segunda-feira, 28 de junho de 1999

O PRESIDENTE ESTÁ CHEIO DE PASSADO E REPLETO DE FUTURO”
Liebniz
Conheci Marisa Bittar ainda como uma jovem estudante de História. Fazia parte de um grupo de militantes estudantis que, a seu modo, “fazia” história. Nas lutas democráticas da década de 70, imprimiam a marca de sua juventude, de seu inconformismo, de seus sonhos nos fatos políticos de Mato Grosso (do Sul) e de Campo Grande. Entre eles, ela se destacava. Coerente, rigorosa já sinalizava o seu futuro intelectual.
Hoje, grande parte desse grupo, constitui a nova intelectualidade de Mato Grosso do Sul.
Para mim e para tantos outros de uma geração acima da daqueles jovens, mas que com ela conviveu e compartilhou sonhos generosos, é um orgulho. E também uma sensação de segurança. Invertendo a lógica: é poder chamar o jovem “irmão mais velho” quando a disputa se torna mais acirrada.
Afinal, em História, “...os fatos não se assemelham aos peixes expostos na banca do comerciante. Assemelham-se aos peixes que nadam no oceano imenso e muitas vezes inacessíveis; o que o historiador apanhará depende em parte do acaso, mas sobretudo da região do oceano que tiver escolhido para a sua pesca e da isca da qual se serve. Estes três fatores são, evidentemente, determinados pelo tipo de peixes que se propõe apanhar.”* Uma realidade única, quantas versões, quantas verdades !
E Marisa lança com precisão seu molinete. Desmistifica, apresenta fatos novos, aponta contradições, supre insuficiências. Sempre guiando-se pelo caminho seguro do rigor metodológico, escreve a sua “verdade relativa”, buscando nas fontes primárias, ouvindo protagonistas relevantes, registrando e organizando informações. Dessa forma passamos a ter uma historiografia sul-mato-grossense mais plural.
Nessa pluralidade “Geopolítica e Separatismo” acrescenta muito pela rica contextualização de Mato Grosso do Sul e de Campo Grande na política nacional. O tenentismo, a Revolução de 32, a ditadura Vargas e o Regime Militar, vão exercendo o papel de determinantes exógenos a comporem-se com as dinâmicas locais de ocupação do território e dos coronéis, das crises hegemônicas e dos chefes revolucionários, da ocupação da fronteira agrícola e das lideranças representativas dos novos grupos sociais, do poder ditatorial delegado e da resistência democrática. Assim foi sendo construído Mato Grosso do Sul e sua vibrante capital.
Nesse momento, quando o Estado e Campo Grande, crescentemente dedicam-se a delinear planos de futuro, nada melhor do que um mergulho no passado. Este livro é socialmente necessário. Não para buscar condicionantes, mas para ver como essa gente multicultural soube sempre enfrentar e superar seus desafios.
“Esta terra ainda vai cumprir seu ideal”. A autora, na conclusão, não esconde o seu saber afetivo de sujeito. Fez, faz, escreve sobre e, mesmo à distância, quer continuar fazendo história”.
No seu centenário, este livro pode ser considerado um belo presente para Campo Grande .

FAUSTO MATTO GROSSO
Professor da UFMS,
Secretário de Planejamento e de Ciência e Tecnologia do

Governo Popular de Mato Grosso do Sul