quinta-feira, 30 de janeiro de 1997

REELEIÇÃO E AS PERSPECTIVAS DAS ESQUERDAS

Com a emenda da reeleição praticamente aprovada, muitos analistas consideram que acabou o governo FHC e abriu-se, prematuramente, o processo eleitoral. Itamar e Maluf já se insinuam candidatos. Sarney não esconde a sua pretensão. O bloco político dominante formado pelo PFL e PSDB aparenta confiança no seu rolo compressor e já conta, como certo, com um novo reinado de FHC, para aprofundar a modernização conservadora.
E as esquerdas ? O plural da frase anterior enfatiza exatamente que, pelas suas diferenças, não está predeterminado que elas marcharão juntas. O PPS se define como em oposição ao Governo FHC, contra o neoliberalismo mas também contra certo tipo de pensamento conservador, autoritário e isolacionista, ainda vigente em vários segmentos da esquerda.
A crise de civilização, da qual fazem parte tanto o esgotamento do “socialismo real” e da social-democracia européia como a onda neoliberal, impactou profundamente as esquerdas. Também atingido por essa conjuntura o PPS, ao mesmo tempo em que busca participar da “reinvenção” do socialismo para a sociedade pós-industrial do século XXI, não pretende se omitir diante dos problemas reais que o País tem aqui e agora. Por isso se recusa à simples oposição a qualquer mudança proposta pelo governo, posição inexplicável para quem se pretende de esquerda, e aponta a necessidade de as esquerdas disputarem, com as suas propostas, o rumo dessas mudanças. Sair da posição defensiva e credenciar-se também com agente de reformas é o nosso desafio. Existe alternativas à selvageria do mercado livre e à ilusão do Estado mínimo que não sejam o estatismo e o isolamento do mundo.
E mais, pelo caráter excludente do tipo de desenvolvimento imposto pelo neoliberalismo, a tarefa de enfrentá-lo não é só das esquerdas. Não cabe, neste momento, apenas “correr por fora”, buscando uma remota alternativa de poder para as esquerdas ou para o “campo popular”. Nosso desafio deve ser o de contrapor ao bloco conservador formado pelo PFL e PSDB um outro bloco político hegemônico,.também portador de futuro e de mudanças. Por isso a necessidade de se pensar, de maneira mais aberta, tanto um programa como uma política de aliança para as próximas eleições.
Nesse sentido aponta também recente seminário realizado em Tepozlán, no México, coordenado pelo professor Roberto Mangabeira Unger (PDT) e pelo professor mexicano Jorge Castañeda. Com a presença de Lula, Ciro Gomes e Tarso Genro, avaliando-se o quadro latino-americano, foi apontada a necessidade de a esquerda aproximar-se do centro para enfrentar o neoliberalismo.
Acredito ser esta a tendência da política eleitoral do PPS para 98. As eleições regionais, por serem casadas com a eleição nacional, deverão refletir essa tendência geral. Este é um rumo que pode viabilizar a unidade das esquerdas e, mais do que isso, uma unidade programática do campo democrático e progressista.

FAUSTO MATTO GROSSO
Presidente do PPS/MS

(30/01/97)