COMO ENTREI NO PCB.
Ângelo Arruda
O ano era 1980. Eu tinha acabado de chegar em Campo Grande
vindo de Recife-PE. Formado em arquitetura e urbanismo e comecei a trabalhar no
escritório do arquiteto Jurandir Santana Nogueira (JSN) na Rua Pedro Celestino
306 e um belo dia de semana ensolarado eu conheci o engenheiro Fausto
Matogrosso que fazia trabalhos de cálculos estruturais para o escritório do
Jura (era assim que ele era chamado). Participávamos de uma reunião técnica de
um projeto e eis que, imediatamente, Fausto me convida para participar da
Associação de Engenheiros e Arquitetos de Campo Grande (AEACG) que tinha sede
na Rua Dom Aquino bem em frente às Lojas Americanas.
Na AEACG acabei conhecendo muita gente que se tornaram meus
amigos como Edson Bossay, Frederico
Valente, Euclides de Oliveira, Paulo César e tantos outros. Essa galera
era tudo militante ou simpatizante do PCB e eu não sabia. Um dia Fausto chega
prá mim e diz: “olha queremos te convidar para participar de reuniões do
partido. O que você acha?”
Eu que em Recife como estudante de cursinho tinha dado meu
primeiro voto aos 18 anos a um deputado comunista e votado em Marcos Freire
para o Senado em 1974 que era de esquerda, aceitei o convite e passei a
integrar a “base dos engenheiros e arquitetos”.
Essa base se reunia na casa do engenheiro Nilson Teodoro na
Vila Pioneiros, saída para São Paulo e era um grupo bem grande de militantes.
Caio Nogueira, Caco Lobo, Nilson, Paulo César, Euclides, Fausto, Valente, etc.
Era muito bom discutir política nacional e internacional alinhada com o
pensamento socialista em plena ditadura militar. Isso era 1980 ainda.
Tempo passa, passeata, Diretas Já, carreata em defesa do
Pantanal, tantas lutas e veio o ano de 1982 com eleições gerais para todos os
cargos legislativos, para governador, mas o prefeito de capital ainda era
indicado.
O ano de 1982 foi emblemático para mim no PCB. No primeiro
semestre, eu, Paulão e Mauri, seu irmão, fomos de busão para São Paulo
participar do VII Congresso do PCB que não chegou, contudo, a se realizar, pois
a polícia invadiu o local e prendeu os participantes, que foram liberados logo
depois. Voltamos para casas frustrados.
No segundo semestre, as eleições e fizemos uma campanha muito bacana,
dentro do MDB (como o PCB estava na clandestinidade, todos os seus militantes
atuavam nesse partido) e elegemos Fausto Mato Grosso, Marcelo Barbosa,
diretamente com o voto dos comunistas e ainda ajudamos a eleger Juvêncio César
da Fonseca (que acabou em 1985 se elegendo prefeito) e Waldemir Moka, todos
vereadores de Campo Grande.
Nesse ano ainda teve bomba em banca de jornal da cidade e
tínhamos grande preocupação com a polícia política. As nossas reuniões na casa
do Nilson Teodoro, por exemplo, eram cercadas de mistério. Todos eram avisado
por telefone fixo e cada um tinha uma hora prá chegar na casa, na realidade uma
mansão dentro de um bairro de classe baixa, com muros altos, grandes portões e
a gente sempre entrava lá desconfiado.
Esses tempos foram muito importantes para a minha formação
política de esquerda no campo socialista e a abertura de uma rede enorme de
amigos e amigas que mantenho até os dias de hoje.
ÂNGELO ARRUDA – arquiteto e urbanista, professor aposentado
da UFMS
Um comentário:
Quanto tempo, Professor Ângelo Arruda! Fico feliz de ver seu depoimento sobre seu ingresso no PCB, e logo num período emblemático, em que o regime de 1964 teimava em resistir ao desmoronamento, sobretudo pela erosão do apoio dos setores que o conceberam mediante golpe.
Depois de nosso encontro, ainda na década de 1980, e nosso reencontro durante a luta pela reativação do Trem do Pantanal (quando a "Ferroviva" era o carro-chefe do movimento popular em todo o estado), tive a honra de saber que duas de minhas irmãs o conheceram e tiveram estreito contato com Você, e mais tarde um de meus sobrinhos foi seu aluno, e mais tarde discípulo, no curso de Arquitetura e Urbanismo, na UFMS...
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