domingo, 2 de agosto de 2009

MAIS UMA DE COLUNA

Não existe mal maior do que o da coluna. Não há reunião festiva ou conspiração política, mesa de bar ou reunião de trabalho, festa de casamento ou velório sem que alguém venha a ensinar, ao coitado sofredor, uma mezinha já testada, um tratamento miraculoso ou um massagista japonês infalível. O “colunista” é acima de tudo um irritado sofredor social. Começa a detestar até aos amigos mais solícitos e bem-intencionados.
O pior é quando a coluna é de um engenheiro calculista, que começa a suspeitar de uma absoluta inadaptação estrutural de seu esqueleto. O esqueleto é uma caveira que não para em pé, absolutamente instável. Estrutura hipoestática, não se sustenta por si própria, como ensinava o vetusto professor de Resistência dos Materiais. Daí a chatice de ter que fazer academia ou fisioterapia para a musculatura ficar apta para ajudar o esqueleto a se sustentar.
Também pudera, a tal da coluna, no nosso ancestral peludo era uma viga horizontal. Por culpa de um naturalista subversivo Charles Darwin o bicho começou a se levantar, liberando as patas dianteiras para usar instrumentos. Um deles, mais defeituoso, teve uma mutação e, ao contrário dos outros animais começou a ter um dedo que se movia em direção à palma da mão, o que lhe ampliou a facilidade de usar instrumentos. Aí tudo mudou.
O filme “2001 - Uma Odisséia no Espaço”, feito nessa ocasião, flagrou o momento em que o abusado do símio jogou o osso para os céus e este virou uma nave espacial.
Bem sucedido com essa vantagem competitiva, nosso parente peludo ganhou espaço entre as espécies. Usando suas armas de ossos, paus e pedras, para disputar proteína animal com os grande predadores, começou a desenvolver, no seu cérebro, os rudimentos do raciocínio. Começou a estabelecer a relação entre o uso que faria das ferramentas e os resultados que poderiam ser obtidos. Acabou virando um animal sofisticado, com cérebro maior e especializado, com capacidade de pensar. Deixou de ser animal bicho e virou animal homem, até com direito a ser candidato a Presidente ou Senador.
Mas, ao que parece, o castigo dos céus não demorou muito. Foi condenado a ser um animal inadaptado, pois teve a sua ossatura horizontal, originalmente desenvolvida para funcionar como viga, transformada em um pilar na vertical. Essa foi sua condenação por alterar o rumo natural das coisas. Adicionalmente foi castigado: em qualquer lugar por onde andasse teria que ouvir conselhos sobre como sarar da coluna.
Pedindo perdão antecipado aos especialistas, também dou a minha receita salvadora para curar das dores da coluna: é o sujeito voltar a andar de quatro, aliás, posição que numerosos bípedes pensantes, acomodadamente, já adotam há muito tempo.

FAUSTO MATTO GROSSOEngenheiro e Professor da UFMS
faustomt@terra.com.br

Jornal da Cidade - 02/08/2009