segunda-feira, 16 de novembro de 1970

REGIME PERUANO: O QUE É, O QUE NÃO É 1
 
    O Peru e um dos mais atrasados países da América Latina. Até bem pouco tempo os impostos eram arrecadados por empresas particulares e o Banco Central era dominado por banqueiros particulares ligados ao capital norte-americano.
     O Peru é o terceiro produtor mundial de cobre, mas toda a sua exploração está concedida a dois grupos norte-americanos: a "Southern Peru Coper Corp" e  a Cerro de Pasco Corp. A "Southern" é dona da única usina de refinação  de cobre, a de Toquepala. A exploração do ferro, do ouro, da prata, parte do  petróleo, esta também na mão de empresas estrangeiras.
   Outra riqueza do Pais, é a pesca    e a   produção de farinha  de peixe. Estes dois setores são dominados por  quatorze grupos norte-americanos, os   dois  maiores sendo a  "Heins Foods" e a "Ralston Purina".
   Também pertence ao capital norte-americano a produção de açúcar, algodão, lã, bem como, as empresas que controlam a exportação desses produtos. Em situação idêntica estão as importações e os serviços públicos de produção e distribuição de energia elétrica, o telégrafo e o telefone.
 
   Este é o Peru.

A SUBIDA DE ALVARADO

Este controle da economia peruana pelo capital estrangeiro tornava inevitável uma revolta popular, e ela pouco a pouco vinha crescendo. Em setembro de 1968 quando da assinatura pelo presidente Balaunde Terry de um novo acordo com a IPC, a situação explodiu. O povo protestou, alguns setores da burguesia nacional também levantaram seu grito.

Em três de outubro, aproveitando o descontentamento popular, as Forças Armadas Peruanas tomaram o poder. Assumiu o Ministro da Guerra do governo anterior, Juan Velasco Alvarado.

NOVOS METODOS

       Um dado bastante importante para a compreensão do regime peruano é uma declaração do General Alvarado na 8ª Conferência dos Exércitos Americanos (Rio de Janeiro) em setembro de 1968, um mês antes de tomar o poder. Nessa reunião o atual governante peruano colocou claramente a sua discordância quanto aos métodos tradicionais que os governos latino-americanos estavam usando para conter os movimentos revolucionários de tendência esquerdista. Para Alvarado era preciso,antes de mais nada, criar uma base popular para os militares e travar então a luta no campo político.

  Dentro dessa nova visão, encaixou-se a nacionalização da IPC e a não repressão dos setores populares que exigiam atitudes mais radicais. Quais os motivos reais desse novo comportamento das Forças Armadas do Peru?

1.        Medo de uma revolução popular controlada pela esquerda.  Era preciso então fazer algumas concessões e tomar algumas medidas de envolvimento para esvaziar as lutas que estavam sendo travadas.

2.        Para atender o desejo de alguns setores "associados" do capital americano para quem o aparecimento da União Soviética como um outro possível sócio, permitiria exigir, dentro da antiga aliança, uma situação economicamente mais privilegiada.

3.        O crescimento de uma burguesia nacional com profundas contradições com a dominação americana.

O QUE FEZ, O QUE NÃO FEZ

  A ditadura militar peruana é nacionalista só na fachada.  Apesar dos setores entreguistas terem sido forçados a uma aliança com a burguesia nacional, constituem eles a força predominante no atual governo.

  Algumas atitudes confirmam o falso nacionalismo. A jazida de Cuajone, uma das maiores do mundo (435 milhões de toneladas) foi entregue à "Southern Peru Copper Corp" . •As jazidas de "Quevalleco" ,  "Cerro Verde", "Miracocha" e "Michiquilay" serão entregues também a outros grupos estrangeiros.  Foram tomadas, quanto ao cobre, algumas medidas demagógicas como a obrigatoriedade de refinação e comercialização  pelo governo. Mas o mesmo decreto garante os "direitos adquiridos".  Isto é as contratações feitas anteriormente ao decreto, continuam válidas. Quem gostou muito desse "nacionalismo" foi a "Southern", dona da única refinaria de cobre do Pais.

 A nacionalização da IPC foi outra grande farsa montada. Essa antiga reivindicação do povo peruano foi atendida, dentro da perspectiva de ganhar para o governo uma base popular. E foi o caso único. O governo peruano vem publicando na imprensa dos EUA, custosos anúncios afirmando que não haverá mais nenhuma nacionalização. e os capitais americanos serão bem recebidos. Os EUA, embora tenham sido prejudicados parcialmente (IPC) compreendem a necessidade das medidas tomadas, para garantir seus investimentos como um todo, Mostra isso a não aplicação da "Emenda Hickenlooper" (corte de ajuda econômica) e da "Emenda Pelly" (corte da ajuda militar).

  Mesmo dentro do petróleo continuam operando no Peru as empresas "Richmond Oil", "Cerro Pasco Petroleum Co", "Peruvian Oils and Mineral", "UnionOil", "Mobil Oil", "Gulf Oil" , "Belco Petroleum", mostrando ainda mais claramente que o caso da IPC foi único.

  Quanto Reforma Agrária, as medidas são extremamente tímidas e buscam fundamentalmente contornar os as crises sociais, sem dar solução real aos  problemas da baixa produtividade no campo. A imensa maioria dos camponeses continuam sem terra, mas a criação de uma camada de pequenos proprietários amortecerá a luta que se vinha travando pela solução, em profundidade, dos problemas no campo.

 Em relação aos estudantes,o fato mais significativo foi a decretação da "Lei Orgânica da Universidade Peruana", que acabou com o ensino gratuito, e proibiu a atuação política dos estudantes. Estas medidas provocaram a reação dos universitários, o que fez com que o governo desse alguns recuos.

 

A VERDADEIRA FACE

Todos esses fatos mostram que o regime peruano pouco tem do verdadeiro nacionalismo e pouco tem de popular, como tanto alardeia. Muito pelo contrário, vem exatamente cumprir as modificações necessárias à atual etapa da dominação do capital estrangeiro.

  J. PITAN

[1] Artigo escrito na Revista Coordenada do Centro Acadêmico do Curso de Matemática da Universidade Católica do Paraná (Nov. 1970), sob o pseudônimo de J. Pithan