segunda-feira, 31 de agosto de 1998

ESQUERDA E SUCESSÃO ESTADUAL

Traço comum de todos os discursos é a afirmação da crise nacional. Uma situação de crise normalmente é criada quando esgota-se um projeto hegemônico e um outro projeto não consegue se impor. E isso é o que caracteriza a história recente do país. O projeto de modernização conservadora implementado pelo regime militar perdeu a hegemonia para o projeto de democratização. Este entretanto não conseguiu ainda se firmar, implodido pela heterogeneidade da frente democrática.
O Plano Cruzado, face econômica de um projeto centrado na burguesia industrial não conseguiu se sustentar. O projeto neo-liberal, tentativa de modernização capitalista desejada pelo capital financeiro e por setores exportadores competitivos, fez água com a derrocada do governo Collor. O campo progressista não conseguiu firmar sua alternativa democrática para a crise. Todos os olhos voltam-se agora para a nova hegemonia que brotará das urnas em 94.
Enfim, a conjuntura política se transformou em uma infindável transição à espera de uma nova hegemonia enquanto a vida social resvala para o barbarismo. Começa-se a ouvir na opinião pública a inquietante pergunta se a democracia vale a pena.
Em nível estadual a falta de um projeto político alternativo, centrado nas forças progressistas , suficientemente amplo para se candidatar à hegemonia, faz também com que, há anos , a política regional gire em círculos, num troca-troca infindável entre as velhas lideranças oligárquicas ou seus prepostos. È só ver os nomes dos últimos governadores e prefeitos da capital .
O período do Governo Wilson Martins, no qual as forças progressistas tiveram alguma participação, revelou-se frustrante, devido a falta de audácia reformadora imposta pelos compromissos que lhe garantiram a vitória e balizaram a sua sucessão.
Novamente aproximamo-nos de uma disputa eleitoral. E desta vez teremos uma eleição casada. Que provavelmente será influenciada decisivamente pela disputa presidencial. Mais que nunca coloca-se para o campo progressista a necessidade da disputa pela hegemonia política, não mais de uma forma subalterna e caudatária mas com alternativa própria ampliada por alianças no campo democrático. As duas últimas eleições, a do governo do estado e da prefeitura da capital, mostraram que a esquerda, apesar das suas dificuldades, começa a apresentar alguma densidade eleitoral. Tivesse ela sido capaz de articular um bloco político, e um projeto mais consistente, outro poderia ter sido o resultado. Este é o desafio que está novamente posto pela conjuntura. Fugir do isolamento e oferecer ao campo democrático, progressista e de esquerda um projeto de governo e de poder, capaz de aglutinar amplamente as forças que estão dispersas no PMDB, no PSDB, no PDT e nos partidos de esquerda.
Esse projeto aglutinador não poderá ser algo estreitamente eleitoral e, portanto, de curto prazo. Há que ter um caráter estratégico, que assinale diferenças de perspectivas e de objetivos, que se projete como processo de construção de uma nova hegemonia fundada no compromisso com a solução da crise social e da crise ética, que aposte na modernização e no desenvolvimento do Estado. Este projeto deve ter uma perspectiva duradoura, passar pela eleição de 94 mas projetar-se para além dela, pois, trata-se um projeto de nova hegemonia, que enterre a política conservadora e destrua os pilares da ordem autoritária e injusta da oligarquia sul-matogrossense.

FAUSTO MATTO GROSSO

Presidente do PPS/MS

BRIGAM AS COMADRES ...

O episódio do pagamento de 75 milhões de reais à Construtora Andrade Gutierrez e o subsequente empurra-empurra de responsabilidades, via mídia, entre as principais lideranças políticas do Estado é uma bela amostra das perversidades com que nossos governantes tratam Mato Grosso do Sul. Provavelmente os dois estão certos, pois, como diz o ditado, "quando brigam as comadres, é aí que se sabem as verdades".
O fato concreto é que o pedrismo e aqueles que se esgotam no anti-pedrismo são duas faces da mesma moeda. Produziram o que de bom e ruim existe em nosso Estado, e a resultante dessa intervenção foi a transformação de uma unidade federativa, que nasceu para ser modelo, em um Estado insolvente, que só exibe vitalidade, interesseira, nos anos eleitorais.
Fora disso, nenhum foi capaz de gerar um projeto de desenvolvimento consistente e duradouro. Ao contrário dos estadistas, pensaram apenas em seus períodos de governo, quando tanto. Brigam como patronos do futuro, mas representam as formas mais antigas de governar e de fazer política.
O resultado disso é um Estado com péssimo serviço público, estagnado na sua economia, com sérios problemas de infra-estrutura e com uma sociedade desiludida.
Mato Grosso do Sul, entretanto, tem jeito, desde que troque suas lideranças e inaugure um novo processo político que se inspire na sociedade e com esta compartilhe, democraticamente, os objetivos e as responsabilidades.
Um belo exemplo de mudança, no qual podemos nos inspirar, é o do Ceará. De um Estado dos mais problemáticos, na região mais problemática do Brasil, transformou-se hoje em uma referência nacional. Após derrotar as oligarquias, Tasso Jereissati e Ciro Gomes são hoje líderes de um Estado que ganha prêmios internacionais na educação, na assistência à infância, na saúde pública.
Isso foi possível porque forjaram um projeto de longo prazo, com a participação direta da sociedade, através do Pacto de Cooperação do Ceará. A partir disso, foram transformando ameaças em oportunidades, resolvendo os problemas das diversas cadeias produtivas e animando os agentes econômicos e sociais para o salto do desenvolvimento.
Aqui em Mato Grosso do Sul está posta a necessidade e a possibilidade de ousadia semelhante. Quebrar cadeias e, com responsabilidade, construir uma nova política capaz de gerar desenvolvimento e renovar esperanças

FAUSTO MATTO GROSSO

Presidente do PPS/MS

sábado, 29 de agosto de 1998

A QUESTÃO DA IDENTIDADE DA UFMS

(JORNAL DA UNIVERSIDADE)
É notória a nossa defasagem em relação, tanto às grandes universidades brasileiras, como em relação aos desafios que são colocados pelo desenvolvimento científico e tecnológico contemporâneos.
A primeira idéia que surge é a de procurar modelos bem sucedidos desenvolvimento universitário. Essa via não nos serve. Os caminhos que legaram à USP, à UNICAMP e alguns outros centros universitários de qualidade são singulares. Essas Instituições conseguiram aproveitar, e o fizeram bem, conjunturas específicas do seu meio econômico-social e se tornaram peças necessárias do processo de desenvolvimento nacional e regional. Essa experiência sim é preciso apreender. A USP articulou-se com o processo de industrialização-urbanização, a UNICAMP com a nova realidade econômica-social da revolução tecno-científica.
Os desafios que são postos hoje para a nossa Universidade não poderão também ser enfrentados com uma política de simples crescimento. Não basta aumentar o número de doutores, o número de trabalhos publicados, o número de laboratórios, etc. Esse simples crescimento, importante sem dúvida, será incapaz de nos transformar em uma Instituição importante.
Imprescindível perceber também que o alvo a ser atingido não deve ser a equiparação com as Instituíções-paradigmas e sim conseguir responder aos desafios concretos que são colocados pela realidade envolvente, sempre dinâmica e cada vez mais requisitando a informação e o conhecimento. Para qualquer planejamento estratégico é imperioso Ter isso muito claro.
Em sauna, temos que procurar o nosso caminho singular de desenvolvimento universitário. Não podemos ser uma Universidade como outra qualquer, até porque não o conseguiríamos. Em outros termos, precisamos definir a nossa IDENTIDADE. Aí sim, poderemos dar saltos da qualidade, efetuar rupturas, queimar etapas, obter e otimizar resultados.
Dois eixos parecem ser básicos na definição da nossa Identidade:
a) para sermos viáveis precisamos transformar a UFMS em peça necessário do processo de desenvolvimento regional:
b) precisamos, dada nossa função institucional específica, estar ligados a produção de conhecimentos mais avançados no contexto da revolução tecno-científico.
Com relação ao nosso compromisso regional, devemos começar por conhecer profundamente o nosso meio para alicerçar nossa proposta estratégica.
Entretanto alguns elementos para nossa definição já são bastante visíveis. Nosso Estado com base econômica agropecuária, busca um processo de industrialização (que precisa ser orientado), obriga importantes ecossistemas como o Pantanal e o Cerrado e deverá ser, a curto prazo, ponto de passagem da integração latino-americano (já estão aí a Hidrovia do Paraguai, a ZPE de Corumbá e o gasoduto da Bolívia).
Nossa identidade deverá ser a de uma Universidade que mobiliza o que há de mais avançado no conhecimento universal, de cuja criação participa, para ajudar nosso Estado e a nossa região a criar e distribuir riquezas, afirmar e integrar a nossa cultura e defender o meio ambiente.
Para desenvolver a essa vocação responsabilidade, tendo em conta a necessidade de concentrar e priorizar recursos e esforços, parecem ser necessários criar e fortalecer 4 grandes programas institucionais:
a) PROGRAMA DE ESTUDOS AMBIENTAIS, generalizando (?) o já criado “Programa de Estudos do Pantanal”, que deverá Ter como objetos principais de estudo o Pantanal e o Cerrado;
b) PROGRAMA DE ESTUDOS LATINO-AMERICANOS, já criando;
c) PROGRAM DE ESTUDOS REGIONAIS, que permitirá aprofundar o conhecimento da nossa realidade envolvente;
d) PROGRAMA DE ESTUDO DO FUTURO, que visará continuamente tensionar o trabalho científico e tecnológico na direção do que existe de mais avançado, permitindo a formação de especialistas em planejamento (estratégico) governamental, empresarial, etc.

FAUSTO MATTO GROSSO

ENTREVISTA PARA FOLHA DO PANTANAL:

Recentemente estiveram visitando nossa cidade o Presidente regional do PPS (Partido Popular Socialista), Fausto Matto Grosso e o membro da direção municipal de Campo Grande, o arquiteto Celso Costa.
Aproveitando então essa visita, a Folha do Pantanal entrevistou o senhor Fausto Matto Grosso, que nos disse o seguinte:
FP - Fausto, qual o motivo de sua vinda a Coxim ?
FMG - Nossa visita a Coxim faz parte do trabalho de organização do PPS nos diversos municípios do interior do Estado. É importante dizer que o receptividade política aqui encontrada foi das melhores. Fomos ajudados por amigos e antigos simpatizantes da nossa legenda que nos propiciaram importantes contatos com as lideranças locais. Pudemos discutir, inclusive com o Prefeito Júnior Mochi, o quadro nacional e regional, compartilhando com essa autoridade nossas preocupações sobre o futuro do nosso Estado.
FP - Como está sendo estruturado o PPS em Coxim ?
FMG - Encontramos em Coxim um clima político muito favorável à proposta de renovação defendida pelo PPS. Ao mesmo tempo sentimos em lideranças da região, mesmo naquelas ligadas a partidos como o PT, o PDT e o PMDB um ponto de vista favorável à ampliação das opções partidárias no município. Avaliamos isso como uma sinal de maturidade democrática coxinense.
Vamos formar nosso partido com importantes lideranças. Com quadros da política e da sociedade civil. Com lideranças comunitárias e religiosas. Com profissionais liberais, artistas, ambientalistas e intelectuais. Pessoas da maior inserção social e representatividade. Enfim, gente independente que em vez de ser simplesmente ator, quer ser autor de uma nova história política nessa região.
Esperamos ainda neste mês de janeiro compor a Comissão Provisória a partir da indicação de nomes saídos de reunião que está sendo montadas localmente, iniciar então as filiações para, até o final de fevereiro, instalarmos o Diretório Municipal.
FP - Como está o Partido a nível nacional e estadual ?
FMG - Somos um pequeno partido com muita vocação para crescer. Entre nós costumamos brincar que temos jogado um "bolão", embora na terceira divisão. Exemplo disso foram as últimas eleições municipais. Nacionalmente, nós que tínhamos apenas 1 prefeito, o de Florianópolis, conseguimos eleger 38. Nosso número de vereadores saltou de 40 para 480 e hoje já está chegando perto de 800, número esse ao qual deveremos somar, brevemente, mais 1 em Coxim. Com a candidatura Ciro vamos agora para o campeonato nacional, e para ganhá-lo.
Em Mato Grosso do Sul estamos experimentando um grande crescimento e ampliação. Tem crescido o nosso número de vereadores e de diretórios municipais. Para a eleição de 98 estamos empenhados em formar uma coligação com o PT, PDT, PSB, PV, PMN e PCdoB e vamos oferecer um nome do nosso partido para encabeçá-la
FP- O Ciro Gomes será mesmo candidato `a presidência da República neste ano ?
FMG - Sozinha, a esquerda terá muita dificuldade de ganhar a eleição presidencial. É preciso ampliar sua articulação com o centro. E fará isso, se tiver juízo. Por isso estamos lançando a candidatura Ciro Gomes. Com seu perfil político, em sendo o candidato da esquerda, será capaz de formar uma frente de centro-esquerda que ampliará nossas possibilidades. Aos votos tradicionais do Lula, juntará os votos que sempre nos faltaram. Ciro é candidato e esperamos que em torno de sua candidatura juntem-se todos os partidos e lideranças progressistas do País.
FP - Sua mensagem ao povo coxinense.

FMG - Coxim, com a instalação do PPS, perceberá que não se trata de apenas mais um partido. Será um instrumento à disposição dos cidadãos dessa cidade para construir uma política sadia da qual todos se orgulhem. Rica de história, de cultura e de belezas naturais essa região poderá contar com o PPS para construir um futuro mais justo e feliz para todos os seus filhos.

‘BAÚ DAS IDÉIAS’: PAIXÃO E TRAJETÓRIA MILITANTE DE FAUSTO MATTO GROSSO

A História da humanidade não é feita apenas de efemérides, atos grandiosos ou personalidades marcantes e excepcionais. Muito ao contrário, a construção histórica é um ato coletivo, solidário e faz-se através de gestos simples e cotidianos, com generosidade e desprendimento. Nas ações mais corriqueiras de uma coletividade encontra-se a essência das grandes transformações. A dinâmica do processo histórico adquire, então, uma ampla e significativa dimensão pela trama complexa e articulada de ações individuais e coletivas que se inscrevem na vida e no tempo. À cada geração cabe a tarefa de recuperação e preservação da memória dos fatos, das ações, dos gestos e das idéias, seja no âmbito individual ou coletivo.
Por isso, faz-se necessário registrar fatos, idéias, impressões e invenções humanas, das mais simples até as grandes transformações provocadas na sociedade, buscando apreender o que existiu de mais significativo em cada fase da História, através da preservação de vestígios, evidências e provas das construções mais primitivas aos processos tecnológicos mais modernos e revolucionários, passando pela compreensão do pensamento e das construções ideológicas que caracterizaram cada etapa histórica.
Nessa perspectiva, merece especial atenção a preservação da memória histórica de Mato Grosso do Sul. Apesar de ser um Estado criado em tempo recente, sua construção histórica transcende a sua idade cronológica oficial. Nesse sentido, o resgate da memória e da história dessa região, através de registros escritos ou orais, é tarefa obrigatória para quem tem compromisso com a transformação de sua comunidade. Infelizmente, muito se perdeu, e ainda se perderá, pela falta de cuidado em preservar esses registros históricos. Por isso, é gratificante quando vem a público uma coletânea como a de Francisco Fausto Matto Grosso Pereira, registrando em artigos, através do olhar aguçado, crítico e sensível de professor e militante político, as transformações do mundo contemporâneo e suas implicações na vida cotidiana de brasileiros e de sul-mato-grossenses.
Nascido em 1949, filho de um representante comercial, Fausto Matto Grosso viveu sua infância em Aquidauana, vindo depois a residir em Campo Grande. Estudou Engenharia Civil na Universidade Federal do Paraná, formando-se em 1971. Enquanto universitário e estudante de Engenharia participou ativamente do movimento estudantil, nos embates contra a ditadura militar, ingressando na Ação Popular. Ao retornar à Campo Grande, ingressou em 1972 na Universidade Estadual de Mato Grosso como professor, ao mesmo tempo que passava a fazer parte, na clandestinidade, dos quadros do PCB. Sua experiência como professor universitário foi interrompida quando em fins de 1974 foi demitido, vítimado pela intolerância e pela obscuridade dos anos de chumbo no Brasil. No âmbito interno da Universidade, a sua demissão foi decorrência direta de sua ativa participação política e acadêmica. No plano político nacional, o afastamento arbitrário do seu ambiente de trabalho coincidiu com a violenta repressão, em especial, dirigida aos militantes do PCB e com as repercussões da primeira grande derrota eleitoral imposta pela oposição ao regime de exceção então vigente (com os cargos conquistados pelo MDB em diversos Estados da União).
Somente em dezembro de 1987, após longo afastamento compulsório, em virtude dos novos ventos da abertura democrática e da anistia, conseguiu retornar às atividades acadêmicas, na então Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. No período em que se distanciou involuntariamente das atividades docentes, dedicou-se à sua atividade profissional de engenheiro e à militância partidária no PCB, abrigado sob o surrealista guarda-chuva político do PMDB. Por esta sigla oposicionista foi eleito vereador de Campo Grande (1982-1986), tornando-se um dos mais atuantes e combativos parlamentares de sua geração, e obtendo, também, a condição de primeiro suplente de deputado estadual nas eleições seguintes. Além do mais, foi por duas vezes secretário da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Campo Grande. E, mais recentemente, desempenhou as funções de Pró-reitor de Extensão e Assuntos Estudantis da UFMS.
Como observador aguçado de seu tempo, e sem jamais abrir mão de suas convicções e militância partidária, produziu para a imprensa local uma série de textos, contribuindo de forma contundente e marcante para o debate sobre assuntos de interesse da coletividade. Faz parte desta coletânea (subdividida em assuntos e sem a preocupação de seguir uma seqüência cronológica), textos curtos, claros e objetivos, que contribuem para a reflexão de assuntos contemporâneos, revelando nas entrelinhas um pouco de sua personalidade, de seu caráter e da sua vida despojada em defesa da sua causa e das idéias que abraçou, definida em suas próprias palavras: “sonho com um País onde todos comem, onde todos moram, onde todos vivem e não apenas sobrevivem”.
Nos primeiros textos, produzidos para revelar um ponto de vista ideológico, procurou compreender as mudanças que então ocorriam com a crise do socialismo e dos partidos comunistas no Leste Europeu. Desse modo, sem negar ou minimizar o papel do PCB, defendeu a sua opção pelo PPS, enquanto parte de um processo complexo de modernização, de continuidade e ruptura, e de superação dialética. Definiu ainda a sua opção política no contexto de reordenamento e transformação da esquerda tradicional e representada pelos PCs, a partir de uma concepção pluralista. Rejeitando o sectarismo e o reducionismo que vitimou uma parcela importante e histórica das esquerdas no Brasil, Fausto Matto Grosso defendeu, e continua defendendo, a utopia do século XXI, que é: “provar que o socialismo pode conviver com a democracia, que o capitalismo não representa o ‘fim da história’, pois, o projeto humano é mais generoso”.
Sobre a Universidade Pública, Fausto contribuiu para ampliar uma importante e oportuna discussão nacional, a partir de sua realidade, a UFMS, levantando os problemas cruciais enfrentados pela comunidade universitária, como o seu sucateamento, os baixos salários de professores e servidores administrativos, os enfrentamentos sindicais, as greves, e, também, as suas propostas enquanto Pró-reitor de Extensão e Assuntos Estudantis. Combateu as ações do Governo Federal, desde o período de Collor, que iniciou o processo de transformação da Universidade pública brasileira em “um reino de mediocridade e da enganação”, fazendo uma sincera e contundente defesa da última greve dos docentes das IFES como “um grito de resistência da Universidade brasileira contra a sua humilhação, destruição e extinção”, imposta pela ação do “professor FHC”.
Seu olhar crítico e acurado não deixou de lado as questões da política estadual e do desenvolvimento sócio-econômico regional, defendendo a esquerda como alternativa política viável para o Estado de Mato Grosso do Sul, pelo esgotamento da gangorra política tradicional, aliás, assunto em aberto nessas eleições de 1998. Apresentou também um belo conjunto de observações sobre a sua viagem à Cuba, cunhadas pelo calor humano dos cubanos, convictos dos princípios e do valor da Revolução, mas cientes das imensas dificuldades e contradições vividas pelo enclave socialista na América.
Enfim, este é um livro contemporâneo, instigante pelos seus assuntos, que faz pensar no papel do cidadão na sociedade, seja para compreender o esforço contraditório da manutenção de uma ordem falida na História, seja para colaborar para a sua transformação inexorável, que é, sem dúvida, a opção corajosa e coerente de Fausto Matto Grosso. Fausto não se satisfaz em ser apenas um mero observador do seu tempo, impondo-se como protagonista da Histório. Ele mesmo afirmou, ao ser indagado sobre o estigma de ser comunista: “Alguns consideram até xingamento. Entretanto, é uma das coisas das quais me orgulho. Aos preconceitos respondo com minha prática de vida, como gente, como profissional, como político, como professor”. Este testemunho já é o bastante para fazer de Fausto um militante singular, que tem dedicado seu trabalho e seu pensamento, traduzidos em ações políticas conseqüêntes, num projeto de vida que transcende suas aspirações como homem comum, professor, pai, companheiro, amigo, para concretizar um sonho que não se sonha só: o de construir um mundo mais justo, mais humano e socialista.

Campo Grande, nos altos do Santa Fé
Inverno de 1998.

VALMIR BATISTA CORRÊA

PARTIDO POPULAR SOCIALISTA - PPS/MS

RESPOSTA PARA O QUESTIONÁRIO DA ALUNA CRISTIANE
1 - PARA ONDE CAMINHA A HUMANIDADE ?
A história da civilização, até o tempo presente, tem sido a história da afirmação do homem sobre a natureza, através do trabalho. A maneira como o homem produz, no fundamental, tem determinado a maneira como ele se organiza em todas as relações sociais.
Os dois últimos séculos foram moldados pela revolução industrial, salto importante na maneira de produzir, e viver, da humunidade. Da revolução industrial surgiram as fábricas, o proletariado e o reforçamento da burguesia como classe hegemônica. Igualmente surgiram os sindicatos, os partidos operários, as revoluções “proletárias”, e os estados socialistas.
Com o advento da Revolução Técnico-Científica, caracterizada pela aplicação, em altíssima escala, da ciência na producão (informática, robótica, bio-engenharia, química fina, mecânica de precisão, etc), estão sendo mudados, rapidamente, o modelo produtivo e as relações sociais herdadadas da RI. Vivemos um momento verdadeira crise de civilização, a crise do socialismo “real” foi uma das suas faces. A civilização do trabalho industrial está sendo sucedida por uma civilização pós-industrial (“pós-moderna”), baseada no conhecimento e na informação, novos ingredientes para a reprodução ampliada do capital.
Este novo processo produtivo libera grande quantidade de força de trabalho, fato esse que tanto pode ser auspicioso, ao liberar o homem para o lazer, a cultura, etc, como pode vir a ampliar ainda mais a exclusão social. Esta exclusão pode também tornar “descartáveis”, países e regiões inteiras do planeta (é só ver a Äfrica).
Longe de significar o “fim da história” esta fase que estamos vivendo, prenuncia uma grande ampliação das lutas sociais e ideológicas.
2 - QUAL O PAPEL DA ESQUERDA NESTA NOVA ORDEM SOCIAL ?
A esquerda tradicional, especialmente a socialista e a comunista, são produtos políticos-ideológicos da Revolução Industrial. Enfrenta ela hoje o desafio de identificar as contradições novas surgidas com a RTC. Para isso precisa se livrar de vários dogmas que a nova realidade e a crescente complexidade do mundo esgotaram.
O compromisso com a democracia passa a ser uma exigência fundamental para a sua sobrevivência. As novas contradições da sociedade não podem ser reduzidas exclusivamente à luta de classes (que continua existindo). Existe hoje um rol de questões novas, que exigem articulações policlassistas e supraclassistas, tais como a questão ambiental, as questões de gênero, as questões do poder local, etc, para as quais a esquerda tem que ter propostas.
Em nossa visão tradicional, estas questões eram consideradas menores e a solução delas ficava sempre para depois da tomada do poder do Estado. Tudo tinha que esperar a “revolução”, que estava sempre no futuro remoto. Hoje tem que se entender a revolução como um processo permanente e atual de rupturas parciais. Numa visão moderna de esquerda, a sociedade solidária, livre, de igualdade de condições sociais, com a qual sempre sonhamos, pode e tem que ser plasmada no presente.
Continuará existindo um papel para a esquerda que conseguir se reciclar. A continuidade e a exacerbação da exclusão social garantirão a continuidade do desafio da esquerda de lutar pela igualdade social (ver Bobbio)
3- QUE EFEITOS PRODUZIU NO MUNDO O FIM DO SOCIALISMO ?
A existência de um “bloco socialista” condicionou a história o Século XX. A par de grandes equívocos e enormes distorções ocorridas, o mundo teria sido pior sem o “socialismo real”. A sua existência favoreceu a derrota do nazi-facismo, ofereceu fortes limitações às ações imperialistas, propiciou apoio à descolonização de muitos países. Acima de tudo fortaleceu política e ideológicamente a luta dos trabalhadores nos paises capitalistas, propiciando conquistas sociais importantes. Entretanto tal realidade se esgotou, pois também a “cultura socialista” era fruto da “sociedade industrial” que entrou em crise
O fim da guerra fria, ela própria tornada inviável pelo desenvolvimento tecnológico, acabou com o equilíbrio bipolar. No aspecto militar restou o poderio dos EUA que se impôs como potência hegemônica e intervencionista (Iraque, Somália, caso Noriega, etc). No aspecto econômico a distensão política facilitou a multipolaridade e o desenvolvimento de blocos regionais.
A auto-dissolução da União Soviética e a desintegração de muitos países socialistas provocaram numerosas e sangrentas guerras locais. A economia dessas regiões, longe de desenvolverem-se segundo os padrões capitalistas, entraram em grandes crises.
A derrocada do socialismo real seguiu-se uma profunda crise ideológica no campo da esquerda. No seu processo de “reinvenção” a parte da esquerda que se renovou, principalmente pela aproximação com o compromisso democrático, começa a contabilizar vitórias eleitorais, como recentemente na Itália, mas também na Polônia, Hungria, Eslovênia, Letônia, etc.
Alguns países “socialistas”, como é o caso da China e Vietnam, apesar de não terem ainda enfrentado processos de democratização, passaram a adotar sistemas mistos que denominam de “economia socialista de mercado” e são considerados, em todos os prognósticos, economias promissoras para a virada do século.
4 - NO BRASIL
O PCB, fundado em 1922, a partir do final da década de 50, já havia começa a sua aproximação com a via democrática para o socialismo. O seu processo de ajuste à nova realidade do pós-guerra fria se deu por transformações em sua linha política tendo como referencias mais importantes o abandono do “marximo-leninismo” como doutrina oficial, e o seu comprometimento com o princípio da radicalidade democrática. Mudou seu nome para Partido Popular Socialista.
O PPS tem propugnado uma postura propositiva para a esquerda, como maneira de enfrentar as reformas propostas pelo governo FHC. Defende a reforma democrática do Estado, no sentido da sua desprivatização. Desenvolve atualmente esforços na direção da criação de uma nova formação política para a esquerda democrática, que reuna os setores renovados da esquerda brasileira.
Em nosso país a esquerda encontra-se representada por vários, reflexo da complexidade crescente da sociedade brasileira. O PT, o maior deles, foi menos afetado pela crise do socialismo, uma vez que sua matriz ideológica era menos ligada à experiência do “socialismo real”.

FAUSTO MATTO GROSSO

O PAPEL DA EXTENSÃO NA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO

(Exposição feita na UnB, em janeiro de 1996 (?)durante Fórum de Extensão do Centro Oeste)
Inicialmente devo dizer que, no fundamental, não farei uma abordagem de cunho epistemológico como o tema sugere. Em um encontro como este, de gestores de políticas de extensão das universidades do centro-oeste, a contribuição mais positiva que posso dar é a de externar algumas reflexões, embora singelas, originadas no cotidiano da nossa prática universitária. Serão reflexões sobre como se problematiza entre nós a extensão e a sua relação com a produção universitária. Tenho certeza que são contribuições modestas, principalmente diante daquelas que esta nossa reunião recolherá de alguns dos nossos conferencistas, reconhecidos estudiosos da prática extensionista das universidades brasileiras.
Falo, principalmente, como um gestor e não como um investigador. Minha contribuição é mais no sentido de colocar inquietações e dúvidas que, por certo, serão comuns a muitos dos pró-reitores aqui reunidos. Se eu conseguir colocar claramente as questões que nos provocam como administradores, ou seja, a nossa pauta, acho que terei cumprido o meu papel.
Primeiramente gostaria de definir um ponto de partida para as nossas reflexões. A Constituição de 88, no artigo 205, fixa como objetivo da educação o “pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. São três conceitos chaves: pessoa (aí incluida a individualidade), cidadania e trabalho.
Tenho convição que esses três conceitos não podem ser analisados genericamente, necessitando sim serem objetivados em relação a uma dada sociedade e a um determinado período histórico. Precidamos procurar entender como se coloca hoje, na sociedade brasileira, a pessoa, o cidadão e o trabalhador. Compreender o tempo em que vivemos é, portanto, fundamental para respondermos o papel da educação e o papel da extensão universitária.
Nesse sentido, é importante observar que a partir dos anos 60 o mundo começou a viver uma importante transição rumo a um novo paradigma produtivo. Na raíz desse processo estava a Revolução Científico-Tecnológica - conjunto de novas tecnologias levadas à produção como a informática, a micro-eletrônica, a telemática, a biotecnologia, os novos materiais, a química fina, etc.
Se a Revolução Industrial, simples utilização de máquinas na produção, havia produzido a modernidade do Séc. XX, o que esperar agora da utilização de computadores, de robôs e de sensores eletrônicos no processo produtivo ?. Fazendo uma comparação singela, enquanto aquelas respresentavam simples extensões do braço do homem, estes últimos representam verdadadeiras extensões do cérebro e dos sentidos do homem no processo produtivo.
No plano econômico as mercadorias passam a valer mais pela densidade de informação que contém do que pela quantidade de trabalho direto empregado na sua produção.
A velocidade da produção do conhecimento assume escala cada vez mais acelerada. Futurólogos apontam que no ano 2020, o acervo de informação da humanidade estará sendo duplicado a cada 83 dias, as profissões não teriam mais do que 9 anos de duração e as especializações tempo ainda menor.
A história da humanidade, no fundamental, tem sido a história da maneira como se trabalha. O impacto desse salto tecnológico, está mudando, profundamente, a forma de trabalhar, consequentemente transformando também todo o conjunto de relações humanas dela decorrentes, inclusive as que definem a individualidade, a cidadania e as relações de trabalho. Tão profundas as tranformações que há quem diga que passamos a viver uma crise de civilização. Crise naquele sentido de que o velho está morrendo e o novo ainda não nasceu. Hobsbawn, por exemplo, afirma que o século XX já terminou no começo dos anos 90.
Vivemos hoje as dores do parto de um novo ciclo civilizatório marcado por inúmeras possibilidades humanizadoras, mas ao mesmo tempo ameçador de exclusão de milhoões de seres humanos. No plano social e político, longe deste momento representar o “fim da história”, acredito que a nossa e as próximas gerações serão atingidas por graves convulsões sociais, prenunciadoras de novos ordenamentos societários. O mesmo Hobsbawn nos sinaliza que, “entre 1970 e 1991, dá-se o “desmoronamento”, quando caem por terra os sistemas institucionais que previnem e limitam o barbarismo contemporâneo, dando lugar à brutalização da política e à irresponsabilidade teórica da ortodoxia econômica, abrindo as portas para um futuro incerto”.
Chamemos essa nova realidade de “sociedade da informação”, “pós moderna”ou “pós-industrial”, a verdade é que o mundo está sendo redesenhado, ainda que entre nós, como é comum em nossa história, este processo se apresente tardiamente.
Nessa nova realidade como será o processo de produção do conhecimento? Será possível pensar o desenvolvimento científico e tecnológico baseado apenas na produção das Universidades ? Que papel estará reservado para a Universidade e para a produção universitária ? Surgirá uma nova praxis universitária ? Estará a Universidade, política, acadêmica e adminstrativamente preparada para os seus novos papéis? E é dentro deste contexo que devemos nos perguntar qual será o novo pardigma da extensão universitária ? Estas questões, para as quais não tenho resposta, mais cedo ou mais tarde teremos que desvendar.
Minha fala daqui para frente tem que ser entendida no seu claro carater provocativo. Longe de mim ter respostas para tão complexas questões. Lanço então algumas opiniões, em forma de teses, muito mais para abrir algumas polêmicas e tensionar as discussões no rumo dos novos paradigmas que precisam ser construidos.
Primeira tese: embora de maneira desigual, a humanidade está revolucionando a maneira de apropriação do conhecimento, fruto da utilização de novas tecnologias de informação.
É só observarmos como nosso filhos se relacionam com os video-games, com os computadores, como se sociabilizam pela plugagem em redes, que podemos sentir, em alguma medida, o que está por vir.
Se tentarmos, com eles disputar a eficiência no acesso às informações através desses meios eletrônicos, por certo, estaremos condenados à derrota. Enquanto, cartesianamente, buscamos os caminhos na leitura dos manuais dos equipamentos e dos softwares, eles, usando a prática da experimentação em alta velocidade, do acerto e do erro, vão nos deixando rapidamente para trás. Alguns cientistas tem realizado estudos que apontam até o surgimento de novos mecanismos de elaboração mental nessas novas gerações.
Acredito que a educação formal, terá, mais cedo ou mais tarde, que adaptar-se, radicalmente, a essa nova realidade. A educação, ao que parece, tenderá cada vez mais a exigir a experimentação. Talvez estejamos caminhando rumo a uma nova valorização do empírico, mas agora isso acontecendo em um nível superior, com a utilização de instrumentos de simulações, hoje disponíveis, como a realidade virtual.
Como a experimentação tem acentuado carater individual, um multiplicidade de caminhos serão percorridos, pelo diferentes atores, na construção do conhecimento, com um fortalecimento da individualidade e ampliação da diferenciação.
Entretanto, em um aparente paradoxo, a produção do conhecimento e o acesso às informações se darão em uma escala muito mais ampliada socialmente. A relação entre os centros produtores de conhecimento, e a sociedade, tenderá a ser muito mais íntima..
Logicamente os riscos da alienação, do desligamento do real, serão enormes, mas para enfrentá-los teremos que ter em conta esta megatendência e a ela respondermos adequadamente. Fazer essa ponte entre o “virtual” e o real da sociedade, será uma das funções da extensão universitária.
Segunda tese: A experiência de construção da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, clama por uma crítica que aponte na superação dessas categorias por conceitos mais globalizadores.
Começemos pela simulação de uma questão muito próxima da nossa experiência administrativa. O que aconteceria, em nossa Universidade, com um programa ou projeto que fosse formatado com o nível de indissociabilidade, que na nossa retórica corrente costumamos cobrar ? Tenho a segurança em responder por todos os pró-reitores presentes: tal projeto teria imensa dificuldade para conseguir aprovação nas instâncias das nossas universidades. E isto aconteceria, fundamentalmente, porque à retórica da indissociabilidade não corresponde uma estrutura de adminstração acadêmica voltada para a construção dessa integração.
Mudar essa realidade, com certeza, não é fácil, afinal, as diferentes pró-reitorias, com todo o seu acervo de normas, comissões, burocracia, etc, são espaços de poder.
Sinto que o próprio conceito de indissociabilidade contém, muito fortemente, a idéia de que ensino, pesquisa e extensão são, e devem continuar sendo, funções diferenciadas. Parece ser necessário construir um novo conceito mais ligado à idéia de unidade do processo de construção e democratização do conhecimento.
Terceira tese: Com a rapidez com que caminha atualmente a produção do conhecimento, a idéia do curso universitário como ponto terminal precisa ser definitivamente arquivada em benefício da idéia da educação continuada.
Cada vez mais afirma-se o papel da Universidade como formadora do espírito crítico e da capacidade investigativa do aluno, em contraposição à escola repassadora de informações, técnicas e habilidades.
Em uma sociedade que duplica o conhecimento acumulado a cada 8 anos, como acontece atualmente, de que valem as informações que possamos repassar hoje aos nosso alunos? Ao que parece, à curto prazo, ficará superado o papel das Universidades, como chanceladoras cartoriais de profissionais prontos e acabados. Ensinar a aprender hoje e a continuar aprendendo pelo resto da vida é a tarefa que se cobra hoje da educação.
Nesse sentido, os diversos currículos universitários devem ser repensados. É necessário que se cuide, básicamente, de promover uma sólida formação conceitual em relação aos fundamentos científicos da área profissional específica (parte mais estável), de capacitar para a utilização do método da ciência (para capacitar o profissional à apreensão permanente do conhecimento novo), de preparar para o domínio dos códigos de comunicação (expressão oral, linguas estrangeiras, informática, etc) e desenvolver, durante a formação, as responsabilidades sociais inerentes à cidadania.
Mas como a prática profissional também precisa das informações e metodologias permanentemente atualizadas, a universidade será, cada vez mais, cobrada a realizar a reciclagem profissional. Se ela não assumir este papel, outras instituições o farão.
Está aberto portanto um amplo campo de interação da universidade com a comunidade profissional por ela formada, de alta importância para o desenvolvimento do país. Ao mesmo tempo essa relação exigirá da universidade uma atualização permanente em relação à realidade da sociedade, nos seu diversos aspectos.
Quarta tese: O esgotamento do modelo de desenvolvimento brasileiro torna a Reforma do Estado uma necessidade objetiva, demandando um novo papel para as instituições públicas e impondo às uiniversidades, a busca de nova relações que lhe relegitimem perante a sociedade, demandando-se assim novas responsabilidades para a extensão universitária.
Nas discussões que se travam atualmente sobre a Reforma do Estado e de seus impactos sobre a Universidade, é comum atribuir-se todo esse processo à uma articulação que decorre imediatamente do “Consenso de Washington”. Tal idéia, bem de acordo com uma visão conspirativa da história, é muito simplista. Imagina-se que uma reunião de alguns funcionários governamentais, com dirigentes de alguns organismos financeiros internacionais, e de algumas empresas multinacionais possam dirigir, ao seu bel prazer, todo o desenvolvimento da história.
Na verdade, o processo que vivemos tem origem mais profunda, na própria reorganização produtiva produzida pela Revolução Científico-Tecnológica. Em Washington, o que se fez foi, a partir da percepção dessa realidade, tentar trabalhá-la segundo os interesses daqueles grupos hegemônicos. Enquanto isso nós fechamos os olhos a essa transformação profunda e passamos a “jogar na defensiva”, tentanto perpetuar instituições com formatos que correspondiam a etapas ultrapassadas do processo histórico.
Sem ceder às ilusões ou ao idelogismo do “estado mínimo”, é preciso reconstruir o Estado brasileiro, para que ele seja, de fato, público, democrático, moderno, eficiente e sirva ao bem comum. Seguramente este novo Estado, pela natureza das transformações civilizatórias que estamos assistindo, precisará, cada vez mais de instituições de produção de ciência, de tecnologia, de educação e de cultura.
A Universidade deve então buscar afirmar o seu papel junto à Sociedade. Para isso precisa, preliminarmente, avaliar-se e eliminar seu bolsões improdutivos, ociosos, alienados e parasitários. Fazer um corte radical com o corporativismo que, no fundo, é uma forma de privatização da universidade.
A partir disso poderá, então, reforçar sua função de produtora de conhecimento e sua relação transformadora com a sociedade, comprometendo-se com a solução dos graves problemas do País e da sua inserção, não subalterna, nessa nova ordem em formação.
E aí, não se pode, em uma reunião realizada na UNB, deixar de lembrar o Prof. Darcy Ribeiro em seu discursso de posse como primeiro Reitor desta Universidade, nos idos de 64, quando ele nos ensinava que o papel da Universidade era “pensar o Brasil como problema”. Mais de três décadas depois, radicalizar este compromisso continua a ser uma tarefa atual para todos nós. E falar desse assunto é naturalmente falar de extensão universitária, é falar de conhecimento exercendo uma relação transformadora com a sociedade.
Cumprido esse desafio, teremos fortalecida a nossa legitimidade na sociedade e passaremos a tê-la como aliada em nossa luta para afirmar nossa condição de instituição útil e imprescindível à construção de um projeto humano mais decente neste ponto do planeta.

FRANCISCO FAUSTO MATTO GROSSO PEREIRA

Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Estudantís da UFMS

sexta-feira, 28 de agosto de 1998

A NOVA POLÍTICA DE RELAÇÕES ESTUDANTÍS

Uma nova realidade condiciona e abre perspectiva positivas para o futuro da UFMS. Um contexto nacional de busca do fortalecimento da ética e da cidadania cria um clima favorável e ao mesmo tempo impõem que a administração universitária enfrente as velhas e novas questões com ações ousadas e transformadoras.
Nesse sentido também aponta a nova política de relações estudantís da UFMS.
Resgatando o compromisso democrático, a PREAE, coordenadora dessa política, se colocará sob controle social dos estudantes. Nesse sentido será imediatamente reimplantada a Comissão Permanente de Assuntos Estudantís (COPAE), formada pela representação estudantil, que garantirá a transparência e a participação discente nas suas decisões.
A assistência estudantil, que tradicionamente carrega toda uma carga paternalista e cooptadora, será orientada pelo reconhecimento do direito dos estudantes aos benefícios que lhes garantam condições de permanência na escola independentemente de sua origem social. Ideológicamente isto é resultante da compreensão de que somos uma instituição mantida pelos rendimento do trabalho social, inclusive de milhões de pessoas que não consegem nem chegar perto da Universidade.
As esferas cultural e desportiva, de apôio à representação discente e ao associativismo são de responsabilidade da PREAE e são áreas vitais para a formação da consciência de cidadania dos estudantes. Nossa ação será então no sentido de apoiar ações que propiciem o crescimento do discente, visando a construção de sua visão global da sociedade e do seu meio, a potencialização da sua capacidade de intervenção social e política e o crescimento e afirmação da sua individualidade, enfim a construção da sua cidadania.
Serão apoiadas todas as ações que visem garantir a autonomia, o fortalecimento político, administrativo, financeiro e representativo das entidades estudantis. Nesse sentido buscaremos identificar e expurgar os dispositivos autoritários, cooptadores e fragilizadores do movimento estudantil ainda constantes da legislação universitária. Assim também apoiaremos a criação de novas estruturas e novas práticas associativas que incorporem aspirações, valores culturais e humanos novos, decorrentes das profundas modificações pelas quais passa a juventude nos tempos atuais.
Com essas diretrizes implementadas acreditamos que a UFMS colocará em um novo e mais alto patamar a sua política de relações estudantís.

FAUSTO MATTO GROSSO
Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Estudantís.

CG100593

COMUNISTA SEM PRECONCEITO - (PERSONAGEM)

(Executivo Shop – 07/07/90 - ano1- nº4)
“Ele nasceu no dia dois de janeiro de 1949, viveu a infância aquidauanense: fugindo para nadar no rio e queimando o pé nas brasas da “maria-fumaça” que passava em frente à casa do seu avô ferroviário (Chico de Castro). Do outro avô, Fausto Pereira, além do nome, herdou o gosto pela política.
Engenheiro Civil formado pela Universidade do Paraná, em 1971, Francisco Fausto Matto Grosso Pereira dedicou-se à área de cálculo estrutural com importantes projetos em Mato Grosso do Sul e fora do Estado. É professor do Curso de Engenharia Civil na UFMS, de onde foi demitido em 1974, por razões políticas, para retornar em 1987 depois de anistiado.
Ele, que foi vereador pelo PCB, no período de 1982 a 1986, integra a direção estadual, além do Diretório Nacional do “Partidão”, é o nosso personagem da semana” .
UNIVERSIDADE
Fausto – “Não pode ser a última a saber das últimas. Deve atuar nas fronteiras do conhecimento, com meios mais modernos e com os melhores quadros da sociedade. Precisa Ter compromisso com a solução dos problemas do país e do povo. A universidade deve ser o viveiro do espírito crítico, única postura compatível com o desenvolvimento do conhecimento. Acima de tudo, tem que ser democrática, condição imprescindível para que possa ser moderna, nacional, popular e crítica.”
ENSINO PÚBLICO
Fausto – “ Quando as elites mantinham seus filhos na escola pública, não faltavam recursos e o ensino era de bom nível. A partir do momento em que se massificou, abrindo espaço para as camadas sociais subalternas , começou a faltar recursos e entrou em crise. A política oficial nas últimas décadas tem sido a de privatização. Nas universidades, 70% das vagas estão na rede empresarial de ensino.”
POLÍTICA
Fausto – Existem duas: a com “p” minúsculo e a com “P” maiúsculo, esta última pouco praticada. A política é indispensável nas sociedades democráticas. Suprimi-la é acabar com a democracia.”
PERESTROIKA
Fausto – “Gorbachev, reconhecidamente é o maior líder político da década, uma das mais importantes personalidades do século. A Perestróika está criando uma nova mentalidade na política mundial. No socialismo significa a ruptura do dogmatismo o enfrentamento dos problemas acumulados, principalmente quanto à questão democrática e a eficiência na produção. Vai preparar o socialismo para voltar a ser o sonho mais generoso que a humanidade já produziu.”
SUCESSÃO
Fausto - “ O quadro não é nada alentador. Dá uma sensação de que andamos muito, mas não saímos do lugar. A novidade é a coligação progressista em torno do Bronze. Estou com ela.”
ESTADO BRASILEIRO
Fausto – “ É preciso democratizá-lo, fazê-lo das maiorias e não de poucos, desprivatizá-lo, fazendo que sirva ao povo e não aos grandes grupos privados. O Estado brasileiro quando entrou na atividade econômica (siderurgia, petróleo, energia, etc.) garantiu a emergência do Brasil que somos. Hoje, o Estado pode sair de algumas atividades, mas necessariamente deve entrar em outras que sejam estratégicas para o novo ciclo de desenvolvimento, que será baseado nas tecnologias de ponta (engenharia, informática, robótica, supercondutores, ultra-sensores, química fina, etc.)”.
MATO GROSSO DO SUL
Fausto – “ Tudo por fazer, inclusive na política.”
RELIGIÃO
Fausto – “ Uma das principais componentes da cultura do nosso povo. A base humanista das religiões e a liderança moral que as igrejas possuem, lhes conferem um imenso potencial na luta contra as injustiças.”
PREOCUPAÇÃO
Fausto – “ Com a falta de participação política da juventude, com o futuro do nosso meio ambiente, com a crise social crescente, com a falta de respeito à dignidade das pessoa humana.”
GLASNOST
Fausto – “ Precisava haver mais aqui no Brasil. Significa transparência, democracia e participação.
ESTIGMA

Fausto – “ Ser comunista. Alguns consideram até xingamento. Entretanto é uma das coisas das quais me orgulho. Aos preconceitos respondo com minha prática de vida, como gente, como profissional, como político, como professor. Mostro também com quem ando: Niemeyer, Di Cavalcanti, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Ferreira Gullar, Dias Gomes, Roberto Freire, Paulinho da Viola e tantos outros. Citando o último, “só em boa companhia”.

quinta-feira, 27 de agosto de 1998

A EDUCAÇÃO CONTINUADA NA UFMS

Os tempos em que vivemos são de modificações profundas em nosso processo civilizatório. Decorrem elas da incorporação do conhecimento, em altíssima escala, na produção da vida material e cultural da sociedade.
A química fina, os novos materiais, a mecânica de precisão, a robótica, a bio-engenharia, o desenvolvimento da comunicação de dados e da computação reorientam as atividades produtivas, impactando as técnicas e as relações de produção.
Este processo, conhecido como Revolução Técnico-Científica está redesenhando os paradigmas da Revolução Industrial e inaugurando um modelo societário crescentemente baseado na informação e no conhecimento. Incorporada de maneira desigual pelos diferentes países e regiões, está mudando a geografia econômica e política do mundo.
As mercadorias passam a valer, não tanto pelo trabalho direto gasto para produzi-las, mas pela sua densidade tecnológica, ou seja pela incorporação trabalho indireto dos pesquisadores e cientistas, e pelo grau de desenvolvimento recursos humanos utilizados.
O conhecimento passou assim a ser um insumo imprescindível na vida da sociedade. Acompanhar o ritmo do seu desenvolvimento é cada vez mais importante para os países e regiões que não queiram se condenar à subalternidade nas próximas décadas. Da mesma forma, este desafio se coloca para os profissionais das diversas áreas, sob pena da exclusão irreversível do mercado de trabalho e de serviços.
Este é o cenário que convoca a Universidade a um novo e importante papel: o de alimentar continuamente a sociedade com o conhecimento novo.
O seu universo de alunos passa a ser, não mais o dos matriculados nos seus cursos regulares de graduação, mas sim toda a força de trabalho existente na região da sua influência geo-educacional.
Este é o desafio que a UFMS está procurando enfrentar com o seu PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA. Este programa abrigará inúmeras atividades de atualização e reciclagem dos profissionais já colocados no mercado de trabalho e serviços.
Ao mesmo tempo, comprometida com a diretriz de "romper o isolamento científico e social" constante do seu Plano Diretor 94/98, a UFMS procura cumprir essa tarefa, profundamente articulada com as entidades profissionais da região. Neste sentido, já foram assinados convênios para a educação continuada com quase 20 entidades entre Conselhos Profissionais, Sindicatos e Associações científicas e profissionais. Já estão atendidas as áreas de odontologia, engenharia, arquitetura, agronomia, ciências contábeis, medicina, farmácia e bioquímica. O objetivo é atingir todas as áreas profissionais, pelo o que a Universidade continua trabalhando.
Recentemente foi assinado o convênio da EDUCAÇÃO CONTINUADA EM MEDICINA VETERINÁRIA , que envolve o Conselho Regional, o Sindicato dos Médicos Veterinários e a Sociedade Matogrossense do Sul de Medicina Veterinária. Estão lançadas portanto as bases para uma cooperação profícua com essas entidades que congregam profissionais de profundas responsabilidade no processo produtivo regional.

FAUSTO MATTO GROSSO

Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Estudantís/UFMS

ADUFMS, ÉTICA E POLÍTICA

Em artigo no “ADUFMS na Hora” que antecedeu a eleição da entidade, o professor Hemano Melo afirmou não ter sido “eticamente correta nem quanto ao aspecto político, nem em relação à postura sindical” a nova candidatura do Prof. Jesus Eurico, atual Diretor do CCHS. Conclamou também à reflexão e à discussão sobre esse assunto que poderia afetar o futuro do nosso sindicato.
Não tenho nenhuma procuração para defender o Presidente da ADUFMS, nem é minha intenção fazê-lo. Mas não posso ser indiferente ao futuro do nosso sindicato e quero discutí-lo, exatamente à luz da sua história recente, ajudado exatamente pela exposição transparente da concepção expressa no artigo do Prof. Hermano.
Depois de afirmar que a candidatura era anti-ética, sem conseguir alinhar um único argumento nesse sentido, pergunta ele, a respeito da dupla representação do Prof. Jesus Eurico, “como ser patrão em empregado ao mesmo tempo?” Pede-nos também que imaginemos a contradição de o Vicentinho ser também diretor da FIESP.
Nessa reflexão o articulista abre o jogo e desnuda a essência de uma concepção política que tem orientado nosso sindicalismo docente e que talvez seja a causa de suas dificuldades atuais.
Reduzir as contradições da Universidade às contradições de classe é uma simplificação inaceitável. Trazer para o movimento, concepções, prática, formas de luta e de organização nascida para enfrentar o embate capital x trabalho só pode levar nosso sindicato ao isolamento. Infelizmente isso tem acontecido e temos sido vítimas do previsíveis resultados. É certo que essas contradições se representam também na universidade, mas longe de serem elas que estruturam a realidade, os alinhamentos político internos e o cotidiano da Universidade.
Há que se conseguir entender a natureza peculiar da instituição universitária, entender suas contradições próprias, suas nuances extremamente complexas. Aí sim conseguiremos ter uma boa política sindical universitária, agregadora, efetiva, vitoriosa. Este é o nosso desafio coletivo que ainda está em aberto.
No seu artigo o prof. Hermano expressa ainda um enorme e inaceitável preconceito contra o trabalho administrativo/institucional. Tivesse valido o meu voto para Reitor, tenho certeza que ele, na Reitoria, não representaria a “burguesia”.

FAUSTO MATTO GROSSO (CCET/DEC)

Membro do Núcleo Mário Schemberg (PPS/UFMS)