sexta-feira, 10 de outubro de 1997

O DESAFIO DA MUDANÇA

A esquerda brasileira vive hoje o que talvez seja o seu maior desafio. Derrotada eleitoralmente por FHC, colocou-se , à exceção do PPS, em uma posição meramente defensiva, postando-se na “retranca” contra qualquer mudança. Começou aí a sua derrota política, ao descredenciar-se como pólo alternativo à reforma neoliberal.
Deixando a bandeira das reformas cair nas mãos da direita, confundiu-se com o conservadorismo e foi incapaz de articular amplamente suas posições, como o fez , de maneira adequada, no processo constituinte.
Do MST, única oposição à FHC com apoio real na opinião pública, não entendeu a essência: a luta à “favor” e não simplesmente contra.
Aproximando-se o processo eleitoral de 98, é de fundamental importância que a esquerda perca a arrogância, perceba que a luta contra o neoliberalismo não é só sua, e abra-se para articulações mais amplas em direção ao centro e à centro-esquerda. Em escala latino-americana essa tem sido a indicação de importantes fóruns políticos.
A candidatura Lula deve ser apenas uma das possibilidades, não a única. Terá inclusive que analisar as alternativas Ciro Gomes e Itamar Franco, isto se não quiser continuar jogando apenas com uma utopia sempre colocada no futuro, como era da sua antiga e esgotada tradição.
O programa comum a ser construído com as outras forças progressistas deve incluir necessariamente uma proposta de reformas amplas, além do desenvolvimento sustentado e do resgate da dívida social.
Em Mato Grosso do Sul, um quadro semelhante está colocado.
Pela primeira vez em nossa história política a esquerda vai, efetivamente, disputar o poder. Não se trata mais de lançar cadidatos para acumular força ou simplesmente para eleger deputados. Essa etapa já está cumprida. A última eleição municipal, na capital, mostrou o inconformismo e o potencial renovador do eleitorado bem como os sinais claros de esgotamento da política tradicional. No interior do Estado pode-se sentir a mesma expectativa quanto à renovação das lideranças políticas.
Claro está para nós que a esquerda, sozinha, não pode se considerar dona desse sentimento. Nosso desafio é o de construir uma ampla articulação capaz de juntar lideranças representativas de um amplo leque ideológico que vá do centro até a esquerda, para viabilizar a força político-eleitoral que a credencie como alternativa de poder. Temos consciência de que esse bloco precisa ser maior do que a esquerda, mas também a convição de que este não será capaz de renovar a política, se a esquerda dele estiver ausente.
Não deverá ser também um bloco ou uma frente contra quem quer que seja, mas sim uma alternativa nova, construida em torno de eixos programáticos claros e sintonizados com as aspirações da população e que devem incluir, além das questões gerais, o compromisso claro com a eficiência e moralização do poder público..
Não se trata de movimento para viabilizar uma ou outra candidatura pré-fabricada, mas sim uma articulação plural, capaz de trabalhar a unidade em torno do nome que melhor representar o sentimento de mudança da população e que tiver melhor competitividade eleitoral. Hoje o PT tem o nome do deputado Zeca. E o PPS tem o nome de Carmelino Rezende, atual presidente da OAB. Muitas outras alternativas poderão surgir no interior dos partidos da nossa aliança, que inclui também o PSB, PDT, PV, PMN, PcdoB e PAN com possibilidades de incluir ainda outros partidos democráticos.
Prevalecendo a responsabilidade política diante dos desafios que estão colocados, vencendo-se as tentações hegemonistas e divisionistas, as possibilidades poderão transformar-se em realidade. Mato Grosso do Sul poderá ter uma nova política, após 98, da qual se orgulhem os sul-mato-grossenses.

FAUSTO MATTO GROSSO

Presidente do PPS/MS