quarta-feira, 26 de agosto de 1998

CIRO VEM AÍ (I)

No próximo dia 4, Ciro Gomes estará em Campo Grande. Sua fala sobre “Conjuntura e Eleições 98” colocará entre os sul-mato-grossenses a sua virtual candidatura.
Não sei se o ex-Governador conseguirá ser candidato. Filiando-se ao PPS, um pequeno partido com enfrentamentos claros no campo da esquerda, assumiu um caminho pedregoso. Afinal sem uma ampla frente de centro-esquerda, na qual estejam os principais partidos de esquerda, será muito difícil a sua vitória e nada nos garante hoje que a esquerda terá juízo em 98.
Entretanto, o simples lançamento de sua pré-candidatura já produziu dois efeitos positivos e inegáveis. Primeiramente golpeou frontalmente a aura de invencibilidade de Fernando Henrique Cardoso. Foi só o seu nome aparecer na disputa e a marcha batida do exército pefelista-tucano para a vitória começou a ser colocada em dúvida.
O outro aspecto da maior importância foi o de colocar em xeque as articulações visando uma candidatura “pura” de esquerda. Não há caminho para a vitória que não corresponda a uma articulação ampla, generosa, sem presupostos hegemonistas e sem cartas marcadas. Considerando-se previamente derrotada, a esquerda estava conformada em marcar posição, praticar mais uma vez a política de acumulação de forças e concentrar-se nas eleicões parlamentares e estaduais.
A batalha, teria uma aparência de uma luta real, mas na verdade estariam se enfrentando o lutador e o seu sparring. Tal como na luta de box, a esquerda estaria escalada apenas para apanhar e ajudar a simular a luta.
Ciro Gomes obrigou a esquerda a abrir-se em articulações mais amplas, a analisar diversas alternativas eleitorais, buscando a maior competividade possível. O próprio PMDB não fernando-henriquista passou a ser considerado como possível parceiro.
Enquanto isso, o PPS procura explorar, junto à opinião pública e junto aos outros partidos democráticos e de esquerda, as possibilidades de sua plataforma e de seu candidato Não como pressuposto, mas como alternativa.
Insiste o PPS numa plataforma que contenha um compromisso claro com as reformas, com o desenvolvimento e com o resgate da dívida social. A questão das reformas, desde a candidatura presidencial de Roberto Freire, é o nosso elemento diferencial no campo da esquerda. Não podemos esquecer que o próprio golpe de 64 foi feito contra a luta pelas reformas de base da qual participava ativamente a esquerda.
Não concordamos com a simples oposição às reformas neo-liberais. Há que se produzir,a partir da visão democrática e de esquerda, um conjunto de propostas que encaminhem para a solução da crise brasileira. É certo que não somos responsáveis por ela, mas se quisermos nos credenciarmos como alternativa de poder é preciso mostrar qual é o nosso Estado, qual a nossa Previdência, qual o nosso sistema financeiro, qual a nossa proposta tributária, etc.
E não se trata de termos propostas apenas para quando ( e se) chegarmos ao governo, até porque isso não está garantido que aconteça. É preciso orientar a nossa intervenção parlamentar, aquí e agora, a partir dessa plataforma.
Há quem coloque em dúvida nossas possibilidades, como minoria, de influir no processo das reformas. Esquecem a lição da Constituinte. Aliando pressão popular e postura agregadora e não hegemonista, derrotamos o poderoso Centrão e produzimos uma Constituição avançada.
Esquerda que se recusa a discutir e lutar por reformas, além de se deixar isolar, pode ser confundida com outra coisa, o que não fará bem para a nossa história.
Tais são as questões colocadas pela candidatura Ciro Gomes.

FAUSTO MATTO GROSSO – Presidente do PPS/MS

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