quinta-feira, 16 de julho de 1998

UNIVERSIDADE: GREVE E ENSINAMENTOS

Terminada a longa greve das Universidades Federais é hora do balanço.
As vantagens econômicas obtidas foram pífias. O sistema de gratificações diferenciadas aprovado para os docentes nem de perto atende a enorme defasagem salarial existente. Continuará o descontentamento dos professores e técnicos, a Universidade continuará perdendo quadros, continuarão faltando recursos essenciais para custeio e investimento, continuará a falta de professores.
O prejuízos coletivos não foram pequenos. O tempo perdido não se recupera mais. O processo de minimização dos efeitos da paralisação serão penosos para todos - alunos, professores e técnicos.
Valeu a pena ?
Greve boa é aquela que produz resultados antes de começar. Entretanto, não havia alternativa. A Universidade foi empurrada para essa greve pela política do Governo. Seguindo orientações claras e explícitas dos centros mundiais de poder, entre eles o Banco Mundial, o MEC quer livrar-se dos encargos de manutenção do sistema universitário público.
Neste caso, socorrendo-me no poeta, não há dúvida, valeu a pena pois a causa não é pequena. O resultado foi imenso. A Universidade não se dobrou de joelhos.
Entretanto isso só não basta. O mais importante está por vir no segundo tempo.
Trazida a questão universitária à opinião pública, o Governo tentará, a seguir, impor a sua Reforma, goela abaixo. Nesse caso não basta apenas coragem e firmeza para enfrentá-la, é preciso iniciativa e audácia para contrapor-se com propostas concretas. Não basta jogar na defesa. Time que não faz gol, leva.
E isso nos tem faltado. Há que se ter um projeto transformador para as Universidades, fruto da criação da inteligência e não apenas da estreiteza corporativista. Um projeto que deverá enfrentar o desafio da autonomia, da avaliação, do financiamento, tal como essa questões se colocam hoje no final do século. Que seja plasmado no compromisso em transformar a Universidade em instrumento de desenvolvimento e de enfrentamento dos problemas nacionais. Que seja abrangente, trate o ensino superior de maneira sistêmica, integrando-o com os demais níveis de ensino, bem como, considere a existência real do sistema privado.
Há que se enfrentar o problema do acesso e acabar com a excrescência do vestibular. Efetivar a modernização e flexibilização dos currículos. Clarear a estrutura da carreira universitária, neste caso enfrentando as distorções existentes, entre elas a do igualitarismo corporativista. Não ter medo da meritocracia.
Esse projeto deve ser fruto de amplo e bem informado debate interno e ser arejado pela participação da sociedade, a quem sobretudo interessa a sobrevivência da Universidade Pública. Deve estar pronto para o próximo governo, seja ele qual for.
Se a Universidade aprendeu com a greve, deve estar sabendo que o próximo dever de casa é pensar a sí própria, senão outros pensarão por ela.


FAUSTO MATTO GROSSO, engenheiro civil e professor da UFMS, Presidente do PPS/MS -16/07/98

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