segunda-feira, 31 de agosto de 1998

ESQUERDA E SUCESSÃO ESTADUAL

Traço comum de todos os discursos é a afirmação da crise nacional. Uma situação de crise normalmente é criada quando esgota-se um projeto hegemônico e um outro projeto não consegue se impor. E isso é o que caracteriza a história recente do país. O projeto de modernização conservadora implementado pelo regime militar perdeu a hegemonia para o projeto de democratização. Este entretanto não conseguiu ainda se firmar, implodido pela heterogeneidade da frente democrática.
O Plano Cruzado, face econômica de um projeto centrado na burguesia industrial não conseguiu se sustentar. O projeto neo-liberal, tentativa de modernização capitalista desejada pelo capital financeiro e por setores exportadores competitivos, fez água com a derrocada do governo Collor. O campo progressista não conseguiu firmar sua alternativa democrática para a crise. Todos os olhos voltam-se agora para a nova hegemonia que brotará das urnas em 94.
Enfim, a conjuntura política se transformou em uma infindável transição à espera de uma nova hegemonia enquanto a vida social resvala para o barbarismo. Começa-se a ouvir na opinião pública a inquietante pergunta se a democracia vale a pena.
Em nível estadual a falta de um projeto político alternativo, centrado nas forças progressistas , suficientemente amplo para se candidatar à hegemonia, faz também com que, há anos , a política regional gire em círculos, num troca-troca infindável entre as velhas lideranças oligárquicas ou seus prepostos. È só ver os nomes dos últimos governadores e prefeitos da capital .
O período do Governo Wilson Martins, no qual as forças progressistas tiveram alguma participação, revelou-se frustrante, devido a falta de audácia reformadora imposta pelos compromissos que lhe garantiram a vitória e balizaram a sua sucessão.
Novamente aproximamo-nos de uma disputa eleitoral. E desta vez teremos uma eleição casada. Que provavelmente será influenciada decisivamente pela disputa presidencial. Mais que nunca coloca-se para o campo progressista a necessidade da disputa pela hegemonia política, não mais de uma forma subalterna e caudatária mas com alternativa própria ampliada por alianças no campo democrático. As duas últimas eleições, a do governo do estado e da prefeitura da capital, mostraram que a esquerda, apesar das suas dificuldades, começa a apresentar alguma densidade eleitoral. Tivesse ela sido capaz de articular um bloco político, e um projeto mais consistente, outro poderia ter sido o resultado. Este é o desafio que está novamente posto pela conjuntura. Fugir do isolamento e oferecer ao campo democrático, progressista e de esquerda um projeto de governo e de poder, capaz de aglutinar amplamente as forças que estão dispersas no PMDB, no PSDB, no PDT e nos partidos de esquerda.
Esse projeto aglutinador não poderá ser algo estreitamente eleitoral e, portanto, de curto prazo. Há que ter um caráter estratégico, que assinale diferenças de perspectivas e de objetivos, que se projete como processo de construção de uma nova hegemonia fundada no compromisso com a solução da crise social e da crise ética, que aposte na modernização e no desenvolvimento do Estado. Este projeto deve ter uma perspectiva duradoura, passar pela eleição de 94 mas projetar-se para além dela, pois, trata-se um projeto de nova hegemonia, que enterre a política conservadora e destrua os pilares da ordem autoritária e injusta da oligarquia sul-matogrossense.

FAUSTO MATTO GROSSO

Presidente do PPS/MS

Nenhum comentário: