terça-feira, 27 de julho de 2021

 

A CULTURA PECEBISTA

(Esta crônica será publicada no livro Histórias que Ninguém Iria Contar)

 



Na história política brasileira há um estilo de pensar e agir “pecebista”.

O PCB, que fará 100 anos em março de 2022, nasceu no mesmo ano em que acontecia a Semana de Arte Moderna de 1922, movimento esse que rompeu com os paradigmas elitistas e marcou a cultura brasileira. Vários intelectuais que fizeram parte desse movimento se filiaram a esse partido.

Ao longo do tempo, esse passou a ser o caminho natural de grande parte de intelectuais brasileiros, fato que permitiu ao PCB ter massa crítica para pensar sua política a partir do exame da realidade brasileira, longe da cópia de modelos pensados em outras realidades. Pensar a realidade brasileira para a definição da sua política passou a ser um dos pilares da cultura pecebista.

A cassação de seu registro em 1948 levou o partido a um breve período de radicalização esquerdista, mas, já em 1958, a partir da Declaração de Março, o partido rompe com o stalinismo, indica o caminho democrático para a revolução brasileira e começou a pleitear o seu reconhecimento legal para participar da luta política como qualquer outro partido. Para isso, muda o nome para Partido Comunista Brasileiro (PCB) já que com o nome antigo havia sido cassado. Esse compromisso com a democracia foi o segundo pilar da sua cultura política.

A resposta ao Golpe Militar marcou um divisor de águas na esquerda brasileira, com o surgimento de vários grupos de luta armada. O Partidão manteve-se firme na política de frente democrática. Condenou a luta armada e apontou o caminho da unidade das forças democráticas para a conquista da Anistia, da Constituinte e de eleições livres e diretas. Esse foi o caminho vitorioso da redemocratização. Essa política de frente democrática ampla se transformou na via vencedora na luta contra a ditadura. Foi a insistência nessa política de frente democrática no pós-64 que lhe deu confiabilidade e uma influência bem maior que o seu verdadeiro tamanho. Foi a afirmação da luta política, e não o caminho da das armas para a revolução brasileira.

A afirmação da luta política diante dos descaminhos da luta armada constituiu o terceiro pilar do pecebismo.

         Esses três elementos, pensar a realidade brasileira, defender a democracia e acreditar na política como forma de luta, constituem os elementos fundantes da cultura pecebista. Essa cultura influenciou a política brasileira por muitos anos, e esparramou-se para além das fronteiras partidária.

Para além do lugar que ocupam na história nacional, os comunistas do PCB deixaram várias contribuições para o pensamento de esquerda no Brasil, dentre elas, a mais importante é a da valorização da política e da democracia no campo da esquerda. O pensamento político do PCB não se reduziu a mero reflexo de uma ideologia exógena, forjou um tipo de atuação influenciado por valores democráticos e particularmente por condutas unitárias.

As crônicas que colocamos nesse livro dizem respeito à história de vida de muitas pessoas com as quais compartilhamos a mesma luta política. A cultura pecebista forjou uma camaradagem sólida entre os personagens dessas histórias, que hoje perpassa as fronteiras partidárias e se tornou um valor afetivo.

3 comentários:

Unknown disse...

Relato bonito de uma história verdadeira!!!

Unknown disse...

Muito bom, esclarecedores, seus comentários.

Unknown disse...

Importante esse registro.