A NOSSA
FRIACA
Esses fenômenos parecem desconexos, mas segundo a ciência
eles se prendem à realidade das mudanças climáticas. É importante diferenciar o
conceito de clima de uma região, do tempo que está fazendo nela. Clima é uma
característica dos padrões de comportamento de longo prazo, já a previsão do
tempo para amanhã ou para a próxima semana, é uma situação pontual sem maiores
consequências. As mudanças do clima colocam em risco a própria sobrevivência do
homem na face da Terra.
Não é fácil para o leigo entender as complexas questões do
funcionamento do sistema climático com seus fatores e elementos, mas a ciência
tem apontado que desde a Revolução Industrial vem aumentando a queima de
combustíveis fósseis (petróleo e carvão) e o desmatamento, ampliando na
atmosfera a quantidade de gases que ampliam o efeito estufa. Esses gases
dificultam a dispersão do calor dos raios solares que atingem o planeta, o que
tende a aumentar a temperatura no globo como um todo e tem sido a causa comum
desses desastres climáticos. Não que o efeito estufa em si seja o problema, ele
é um fenômeno natural que possibilitou a existência da vida no planeta, se tal
não existisse, segundo estimativas, a temperatura da Terra seria de
-18ºC. Entretanto são
as mudanças nesse sistema de frágil equilíbrio, causadas pelo homem, que
constituem ameaças aos sistemas vivos.
As recentes ondas de frio no Brasil parecem contrariar a
afirmação de que a temperatura na Terra está de fato aumentando. Na verdade, é
exatamente o aumento médio da temperatura na América do Sul que empurra ar
quente para a Antártida que em correntes circulares em sentido horário trazem,
no retorno, o ar frio que tem gelado, em ondas, o sul do Brasil. Mandamos à
Antártida massas de ar quente e recebemos dela massas de ar frio, segundo
asseguram pesquisadores.
Atualmente vivemos uma realidade marcada pelos eventos
decorrentes da crise climática, tanto na produção de alimentos como na produção
de energia.
As perdas milionárias nas lavouras queimadas ou congeladas
pelo frio provocam a redução da oferta de produtos e consequentemente o choque
inflacionário nos preços dos alimentos, que afeta duramente as camadas mais
vulneráveis da sociedade. Além de fazer os brasileiros tirarem os casacos do
armário, a onda de frio que atinge o país também vai obrigar a população a
colocar as mãos nos bolsos – só que não para esquentar.
As secas com os reservatórios vazios prejudica a produção de
energia e já levaram à utilização das termelétricas para evitar apagão
encarecendo as contas de luz dos brasileiros. É como se o Brasil entrasse no
“cheque especial” das energias mais caras e poluentes.
Friaca é uma palavra que não existe oficialmente na língua
portuguesa. Segundo alguns autores, ela nem deveria ser usada porque não
significa nada. Mais radicais, alguns ainda observam que, além de imprecisa,
ela é muito feia. Entretanto a palavra tem sido cada vez mais incorporada ao
linguajar dos noticiários meteorológicos.
Nos estados do Sul é como dizer: “Piá, pegue a japona que vem friaca
aí”.
FAUSTO MATTO GROSSO
Engenheiro e professor aposentado da UFMS
4 comentários:
Muito bom. Esclatecedor
Vc como sempre um pesquisador e professor incrível
Prezado professor Fausto Matto Grosso, boa tarde!
Gostaria de um contato particular com o senhor. Como não encontrei seu endereço eletrônico (e-mail), escrevo aqui esperando que me envie o contato. Saudações.
Vitor Oliveira (UFMS)
Vitor, seguem meus contatos
faustomt@terra.com.br
celular/whats 67 99982 8774
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