TRANSPARÊNCIA DEMOCRÁTICA
O Brasil assiste ao vivo as transmissões das sessões da CPI
da Covid, ao mesmo tempo em que acompanha, também ao vivo, as sessões do
Supremo Tribunal Federal. Essa realidade de transparência é uma boa medida do
avanço da nossa democracia, no que diz respeito ao Judiciário e ao Legislativo.
Hoje a população brasileira sabe o nome dos ministros, como
sabe dos craques da seleção. O Levandowisk, o Gilmar Mendes, a Rosa Weber, o
Marco Aurélio entre outros são amados ou detestados conforme seus votos. Esse acompanhamento pela cidadania produz uma
maior legitimação democrática das decisões
Entretanto, a transmissão ao vivo das sessões do Supremo, não
é ainda uma questão pacificada. Os debates duros entre os ministros tem sido
argumento para aqueles que defendem que a transmissão seja feita à noite,
depois de editados os vídeos. Há ainda aqueles que advogam o fim da
transmissão, pura e simplesmente, em ambos os casos, um profundo retrocesso.
As transmissões ao
vivo dos julgamentos realizados pelo Supremo, são um mecanismo de transparência
que permite o controle externo indireto, realizado pela opinião pública. Ao
mesmo tempo essa prática aproxima o Poder Judiciário do povo, contribuindo para
a formação política da cidadania. Também é uma oportunidade para os estudantes
de Direito ampliarem a sua formação técnica a respeito das questões
constitucionais. As escaramuças descontroladas entre os ministros, que causa
perplexidade na população, são pontos fora da curva e serão mais raras em
sessões públicas, pois os ministros se obrigarão a se tratarem de maneira mais
respeitosa e equilibrada.
Também as transmissões
ao vivo das sessões da CPI do Covid cumprem um papel de transparência
democrática. Conhecer os subterrâneos do poder ajuda na formação política da
cidadania.
É através da CPI que
estamos conhecendo a corrupção na Saúde, os prejuízos causados pela incompetência
e pela burocratização, a frouxidão dos processos internos, a advocacia
administrativa e o empreguismo de militares envolvidos com mal feitos. Com a
presença de sete mil militares no governo, Bolsonaro espera garantir o apoio
das forças armadas ao seu mandato.
Causa preocupação também, o tráfico de influência
desempenhado por organizações evangélicas que acessam diretamente o governo,
com desenvoltura de máfias. A ligação dessas com o governo “tremendamente
evangélico” faz parte do plano do Presidente de consolidar sua base eleitoral,
cada vez mais desgastada.
O papel de
fiscalização, hoje desempenhado excepcionalmente pela CPI, não devia causar
tanto sobressalto na política, deveria ser encarada como uma questão rotineira.
As funções do Legislativo são de legislar, representar a população e fiscalizar
o poder executivo. É provável que com executivos mais fiscalizados
rotineiramente, diminuísse a necessidade de CPIs bombásticas. Infelizmente tal
não ocorre e predominam as relações de trocas e dependências entre legislativo
e executivo, pouco republicanas e promíscuas.
Atualmente, as
transmissões ao vivo das sessões do Supremo e da CPI do COVID, criam uma
atmosfera democrática, que permite os cidadãos terem acesso à realidade da
política. São como duas janelas que iluminam a vida democrática. Por isso é que
uma das primeiras coisas que as ditaduras fazem é fechar o Supremo e o
Congresso, como clamam algumas vozes saídas do fundo das cavernas e dos
pântanos. Vade retro!
FAUSTO MATTO GROSSO,
Engenheiro e professor aposentado da UFMS
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