O
PARTIDO MILITAR
Cientistas políticos do Observatório da Defesa e Soberania consideram
a existência, no Brasil, de um Partido Militar, que se formou durante a
Ditadura, quando ocupava diretamente o Governo. Ao entregarem o poder aos civis,
os militares procuraram outras formas de articulação para atuar na esfera
política, mantendo e ampliando o seu poder. O principal objetivo desse Partido
são as reivindicações gerais da corporação numa lógica sindical. Quando
analisamos o Governo Bolsonaro, isso faz muito sentido.
Não se trata de um partido que busque a oficialização como
uma legenda registrada no Tribunal Superior Eleitoral, isso não lhes interessa,
pois seria uma limitação aos seus objetivos. Mas têm um programa e uma direção
centralizada na alta oficialidade. Disputam eleições e formam articuladas bancadas.
A própria eleição de uma chapa presidencial composta por um capitão e um
general dá a medida do poder político desse Partido Militar.
Paralelamente a isso, os cientistas apontam também a
existência de um Partido Fardado formado no âmbito das polícias militares, com as
mesmas características. Ambos os partidos se aliançam na atuação política. O
poder desses partidos é mensurado pelo número de cargos que ocupam na
administração pública e pelas conquistas que oferecem às suas corporações.
No governo Bolsonaro a principal cidadela ocupada pelos
militares foi a Casa Civil, centro nevrálgico da ação política no governo. Também
são dirigidas pelos militares a Secretaria de Governo, a Secretaria de Assuntos
Estratégicos, a Secretaria Geral da Presidência, o Gabinete Pessoal da
Presidência e o Gabinete de Segurança Institucional, ou seja, aqueles que
constituem o círculo mais próximo ao Presidente. Segundo a Casa Civil são 341
militares comissionados nesses órgãos.
Os militares estão também presentes em numerosos postos de
direção ou em conselhos de administração de algumas das maiores empresas
estatais do país, como Petrobras, Eletrobrás, Itaipu Binacional, Telebrás,
Correios e Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. A distribuição de
cargos se faz sem nenhum critério técnico, o que tem levado o Governo a
desastres administrativos, como no Ministério da Saúde e da Educação.
Segundo o estudo Militarização da Administração Pública no
Brasil, do cientista político William Nozaki, são mais de seis mil militares,
da ativa e da reserva, a ocuparem funções civis no governo. Nesse sentido, nada
mais parecido com o governo Hugo Chaves/Maduro, do que o Governo Bolsonaro.
Nunca a presença militar no governo foi tão grande quanto
atualmente, nem no regime militar. As Forças Armadas sempre foram canais de
ascensão das camadas mais baixas da sociedade. Agora passaram a serem também,
canais de acesso ao poder político, e aos cargos públicos, em todos os níveis.
Nas eleições de 2020, segundo o estudo de Nozaki, concorreram 6755 candidatos
militares.
Com o poder acumulado, inclusive pela chantagem representada
pela posse das armas, os militares passaram a contar com um sistema de proteção
trabalhista, social e previdenciário privilegiado, diferenciado em relação ao
que tem acesso a maioria dos cidadãos brasileiros. Os privilégios que já tinham
foram mantidos e ampliados nas reformas previdenciária e trabalhista. E já está
garantido que sairão sem arranhões na Reforma Administrativa que pretende
desmontar o serviço público.
Os privilégios recebidos contribuem para colocar os militares
em defesa do bolsonarismo, também por uma razão fisiológica de manutenção das
“boquinhas”, pelas quais vendem a alma ao diabo, como no Fausto de Goethe.
Essa forte presença militar no governo pode atingir negativamente
a imagem institucional das Forças Armadas. O caso Pazuello é dos mais
emblemáticos na desmistificação da suposta aura de competência política,
intelectual e administrativa dos militares. Isso é muito ruim para o Brasil.
FAUSTO
MATTO GROSSO,
Engenheiro
e professor aposentado da UFMS
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