segunda-feira, 6 de julho de 1998

MOVIMENTO ESTUDANTIL – ENTREVISTA

(Informativo do CAENG – Centro Acadêmico de Engenharia UFMS – ABRIL/91)
“ Fausto participou do movimento estudantil do Paraná (1967-1971), neste mesmo tempo atuou na Ação Popular (partido clandestino que hegemonizava o M.E ). Foi professor da Universidade Estadual de Mato Grosso (1972-1974) de onde foi demitido por motivos políticos. Anistiado e incorporado à UFMS em 1987, onde assumiu vários cargos. Seguiu também a carreira política como vereador e suplente de Deputado Estadual, mas nunca deixando de participar das diversas diretorias da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Campo Grande . è membro da direção nacional e estadual(MS) do PCB onde milita desde 1972. Devido à sua vivência no M.E naquela época, procuramos, com esta entrevista saber um pouco mais a respeito deste acontecimento e quais são algumas das modificações a serem feitas em sua opinião.”
CAENG – Como foi o Movimento Estudantil (M.E) em 1964, quando surgiu o regime militar?
FAUSTO – O M.E. era uma das forças democráticas da sociedade brasileira. Os estudantes nos diversos níveis, fosse secundaristas ou universitários, desempenhavam um papel importante na resistência à ditadura constituindo-se numa das principais trincheiras da luta pela democratização do país. E isso até mais ou menos o ano de 1968, fosse o auge do movimento. Nessa época, eu já estava na Universidade. Quando foi decretado o AI 5 (Ato Institucional n 5), a ditadura deu uma endurecida maior e o movimento de resistência foi sufocado.
CAENG – Como o SR. Compara o M.E. antes da ditadura militar e o de hoje?
FAUSTO – Um dos problemas centrais foi que a ditadura quebrou a continuidade do M.E . Com isto, houve uma perda na memória das lutas. Na década de 50 e 60, nós vivíamos no país uma democracia. Isto fez crescer a organização da sociedade nos diversos segmentos intelectuais, operários, camponeses e estudantes. Esse nível deconscientização permitiu uma maior mobilização dos diversos setores da sociedade brasileira.
No regime militar, após o AI 5, passou a existir também, o 477, que servia para a repressão sobre as Universidades. Isto provocou uma ruptura daquela experiência histórica que o M.E tinha anteriormente. Então neste período ditatorial os professores das Universidades, citando especificamente a nossa, que tinham sido estudantes na década de 60 quando havia democracia no país, possuíam um nível de politização e de luta muito mais avançados que os estudantes, pois estes, já estavam sendo formados na mentalidade implantada pela ditadura. Por isso, que o movimento de professores nesse tempo foi muito mais ativo e politizado que o dos estudantes. A minha demissão , por exemplo, foi devido a minha participação política dentro da universidade. Coma conquista desta nova Democracia no país a massa estudantil ficou sem uma ligação com a luta do passado e as lideranças muitas vezes, principalmente as que organizaram o M.E, não conseguiram adaptar a política do M.E à nova realidade que o país está vivendo, pois não conseguiram palavras de ordem e formas de luta que mobilizassem os estudantes de hoje. Com a democracia , os problemas políticos são bem menores que a gente tinha no tempo da ditadura onde assumíamos o papel de resistir e agora há para o estudante, muito mais possibilidades de se discutir, pois, está em jogo o destino do país . Por isso, não se pode mais pensar na mentalidade do M.E de trinta anos atrás.
CAENG - Que pontos o M.E tem que ser mudado?
FAUSTO – A questão é complexa e deve ser resolvida pelo próprio movimento, mas eu arrisco alguns palpites. Deve ser conhecida a realidade do estudante e a partir disso ligar o movimento à questões do cotidiano da massa estudantil, levando questões como qualidade de ensino, apoio material ao estudo (bolsas, alojamentos, alimentação), criação de oportunidaes de integração social como o esporte, o lazer, a movimentação cultural. Aliás, a partir de um trabalho cultural bem feito, muito se pode avançar no nível de consciência e participação do estudante.
O M.E deve se abrir para discutir questões novas que interessem à juventude , como ecologia, música, sexualidade e drogas.
A necessária politização e sua ligação a lutas políticas geris da sociedade deve ser conduzida de maneira não excedente, respeitando o nível de consciência e o pluralismo e evitando a todo custo a partidarização e aparelhismos da entidade. Por aí acho que é possível retomar um grande papel para o M.E.
CAENG - Qual a causa da falta de mobilização dos estudantes em participar de um M.E?

FAUSTO – No caso do curso de Engenharia há uma sobrecarga de aula e atividades muito grandes, então ao exigirmos uma certa dedicação dos estudantes eles se julgam com muito pouco tempo para esta participação. Portanto se houvesse um horário mais organizado, o movimento estudantil, tenho impressão, seria muito maior.

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