quarta-feira, 8 de julho de 1998

MIKHAIL SERGEIEVITCH GORBATCHOV

“A Teoria Marxista não exclui que, no decorrer da construção da nossa sociedade, seja preciso começar tudo de novo!” – ( Gorbatchov – novembro/89 ).
O ano de 91 encerrou-se com a formalização do fim da URSS e com a renúncia de Mikhail Gorbatchov. Iniciando a Perestróika em abril de 85, esse dirigente comunista tornou-se referência internacional de credibilidade pessoal, arrojo e determinação política que lhe valeram o Nobel da Paz e a admiração generalizada.
A sua postura transparente lhe dava poder de convencimento. O seu estilo direto e franco, simples e contundente, a sua habilidade política feita de sagacidade, paciência e vontade de ouvir, fizeram-no uma figura humana profundamente carismática, um líder que todos desejavam para o seu país.
O Socialismo na URSS, marcado por condições históricas adversas e pelos erros que cometeu, a par dos seu inegável legado inscrito na história do século XX, enfrentava obstáculos imensos para a sua renovação. E ele os enfrentou com determinação, arrojo e coragem.
Derrotado, saiu do poder com a dignidade que sempre o exerceu. É por isso que muitos devem Ter assistido o discurso de renúncia com o coração apertado, com uma sensação de vazio e de frustração com os resultados do esforço renovador de Gorbatchov.
Mas, as condições atuais da crise naquela região, a fragilidade de suas novas lideranças, políticos menores marcados pelo oportunismo populista, não descartam a hipótese de ainda existir um papel reservado ao estadista Gorbatchov.
Entretanto, mesmo que isso não venha a ocorrer, para os comunistas e socialistas do mundo inteiro a experiência protagonizada por Gorbatchov deixa ensinamentos riquíssimos.
Exemplo disso é a “nova mentalidade”. Foi a partir dela que a questão da guerra e da paz foi desideologizada e tratada como questão humana acima das lutas de classes, resultando um mundo mais seguro para todos. Reconhece-se também que na agenda da política cotidiana, outras questões exigem tal tratamento como a ecologia, a liberdade individual, os direitos humanos, a questão feminina e da juventude e tantas outras. Por isso Gorbatchov falava fundo a toda humanidade.
O projeto socialista saiu do apartado histórico e , embora diferenciado, passou a conviver e fazer parte de um projeto humano mais amplo, de onde nunca deveria Ter se afastado pela sua natureza, seus propósitos e sua generosidade.
Encerrada a experiência do socialismo autoritário, com seu acervo de êxitos e derrotas, a sua negação dialética não pode ser outra senão o socialismo democrático. Essa tarefa que Gorbatchov não teve forças para cumprir na URSS, ficou para todos nós comunistas e socialistas do mundo inteiro que teremos a responsabilidade de viabilizar nossa utopia nas novas condições do século XXI. Provar que o socialismo pode conviver com a democracia, que o capitalismo não representa o “fim da história”, pois, o projeto humano é mais generoso. Para ajudar nessa tarefa ficaram os ensinamentos desse grande líder.

FAUSTO MATTO GROSSO

Membro do Diretório Nacional do PCB

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