segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

ZONA DE REBAIXAMENTO (*)

A cada crise política cresce, na sociedade brasileira, um sentimento difuso favorável a mudanças no sistema político-eleitoral. Embora viva impasses na sua tramitação no Congresso Nacional, a Reforma Política já tem alguns pontos de forte consenso, entre esses o financiamento público de campanhas e a proibição de coligações nas eleições legislativas.
Esta última questão é uma importante medida para dar identidade aos partidos políticos. A ninguém será dada a oportunidade de tomar carona em votos emprestados de outras legendas. A representação assim conseguida terá maior caráter partidário e menor caráter pessoal, como convém a um sistema democrático que precisa de partidos fortes e com identidade político-ideológica. Por isso, todos os partidos, grandes e pequenos, se preparam para lançar chapas completas de vereadores nas próximas eleições.
O mesmo já não acontece com relação a candidaturas a prefeitos, quando muitas agremiações abdicam precocemente da possibilidade de apresentar suas diferentes propostas ao julgamento eleitoral da população. Dissolvem sua identidade, desaparecem do debate eleitoral e passam a ser representadas por lideranças de outros partidos. Candidatam-se à insignificância e assumem a inexistência de fato.
Fossem as coligações nas eleições majoritárias, frutos de construções autenticamente programáticas, esse fato poderia ser perfeitamente aceitável e representar até, em certa medida, maturidade política. Mas o que acontece, no geral, é a pura adesão a candidaturas polarizadoras, a partir de projetos de poder e não de projetos construídos nas relações dos partidos com a sociedade. Aqueles que assim procedem empobrecem e amesquinham o debate político, ao não colocar alternativas diversas à sociedade. Esta acaba comendo um prato feito na pobreza do cardápio das opções apresentadas.
Este contexto acaba criando dois tipos de partido, os de primeira classe e aqueles que abdicam de disputar na primeira divisão, ou mesmo de jogar jogo algum. Aí vale a máxima futebolística, “time que não joga, não tem torcida”. Os grandes continuarão grandes e os outros passam a ser meras siglas para negócios eleitorais.
Por outro lado, as eleições municipais, principalmente nas capitais, estão se constituindo em preliminares para as eleições de 2010. Em todos os lugares é isso que se vê. Daí as orientações nacionais, de diversos partidos, para a disputa, com candidaturas próprias, pelas prefeituras. Para os grandes é um momento vital para a eleição presidencial, para os pequenos, para se superar a cláusula de barreira.
No caso do PPS é também essa a orientação eleitoral nacional. Candidaturas próprias nos 164 municípios brasileiros com mais de 100 mil eleitores, com supervisão da Executiva Nacional. O PPS, a prevalecer a orientação nacional, vai jogar em Dourados e Campo Grande porque, com a sua história e a sua política democrática de esquerda, não deve jogar no campo pelado da várzea.
Fausto Mato Grosso

(*) Artigo originalmente publicado no Jornal da Cidade (http://www.jornaldacidadeonline.com.br/), de Campo Grande (MS), em 16 de novembro de 2007, data em que o autor voltou a colaborar como colunista do jornal, fundado no final da década de 1970.

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