segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

O PRAGMATISMO QUE DESTRÓI A POLÍTICA (*)

O homem sensato adapta-se ao mundo; o insensato insiste em tentar adaptar o mundo a si próprio. Por conseguinte, todo o progresso depende dos homens insensatos.
George Bernard Shaw
O Brasil viveu nos últimos anos um processo de desmoralização dos partidos e dos políticos.
Medidas provisórias subjugando o Legislativo, fisiologismo explícito, aparelhamento de cargos públicos, troca-troca partidário em benefício dos governos, mensalão, escândalos com emendas parlamentares, entre outras coisas, jogaram em nível ainda mais baixo o prestígio dos políticos e dos partidos.
Como conseqüência mais perversa desses fatos: o descrédito da política como instrumento de convivência humana civilizada diante dos conflitos existente na sociedade.
Felizmente, antes de terminar o ano passado, o TSE, em medida moralizadora, joga uma oportunidade de redenção para a política: a decisão que subordina os mandatos aos partidos. A oportunidade estava dada para a mudança. As eleições poderiam, assim, se transformarem em disputas de programas partidários e deixarem de serem disputas por projetos pessoais.
No plano nacional, diante desse novo contexto, como é óbvio, quase todos os partidos começaram a decidir pelo lançamento de candidaturas próprias nas maiores cidades, com exceção dos partidos que hegemonizam o poder central, principais beneficiários da prática do “amor remunerado”.
Entretanto, quando essa política chega aos municípios vem sendo contraditada pela política paroquial. A atitude programática passa a ser contestada pela atitude “pragmática”. O pior é que tal prática se generaliza em todo o espectro ideológico: direita, centro e esquerda. Nisso há uma tendência de todos se comportarem igualmente.
Alianças impensáveis começam a serem cogitadas. Os que se posicionam por atitudes de independência são cobrados a apontar a prévia viabilidade financeira da campanha, sem se perguntar de onde virá o dinheiro dos candidatos hegemônicos. Antigamente havia pejo em se tratar esse assunto publicamente, hoje virou a coisa mais natural da política, com nenhum pudor.
Admitem-se candidaturas apenas se, previamente, forem para ganhar. Não percebem que a verdadeira vitória, não a de Pirro, só virá para os que se jogam na luta. Não fosse assim o partido da ditadura ainda estaria no poder. Quantas vezes, no caso da esquerda, perdemos, para um dia chegar ao poder, mesmo que hoje estejamos envergonhados de tê-lo conquistado em tão más companhias, com gente que foi ficando cada vez mais iguais à seus antigos adversários.
Tivemos que conquistar cada espaço, respaldado nas idéias e não na certeza da vitória. Tivemos que ousar, que ser insensatos, para construir essa democracia que, hoje, se encontra ameaçada pelo pragmatismo dos projetos de poder pessoal, liderado pelos políticos do movimento dos sem programas.
Pobre país, pobre democracia essa dos políticos do “baixo clero” que não enxergam a exigência dos novos tempos que clamam por política com motivação pública.
Viva a insensatez!
Fausto Matto Grosso
(*) Artigo originalmente publicado em 27 de janeiro de 2008, no Jornal da Cidade (http://www.jornaldacidadeonline.com.br), de Campo Grande (MS), meio de comunicação em que o autor é colunista.

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