segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

PARA TODOS OS GOSTOS (*)
Chipanzé, Maquiavel e Ghandi. Assim Carlos Matus, ex-ministro de Allende, tipificava os estilos de liderança política. Essa seqüência representaria a evolução civilizatória.
Tais quais os chipanzés, os líderes assim classificados, são caracterizados pela expressão “o fim sou eu”. A forca representa o seu atributo político principal. Não existe projeto algum - o líder guia a manada a lugar nenhum e é guiado pela lógica de que “o projeto é o chefe e o chefe é o projeto”. A sua substituição se dá quando surge um líder com mais forca, quase sempre pela violência. É o estilo mais primitivo de fazer política. Os ditadores sul-americanos, velhos e novos, são uma boa representação desse espécime.
“Os fins justificam os meios” essa é a síntese da ideologia que sustenta o estilo Maquiavel. Em relação ao estilo anterior, a grande diferença é que neste caso há um projeto, que transcende o líder. O projeto não é mais individual, é coletivo, tem base social, mas é impossível realizá-lo sem o líder.
Aqui o poder pessoal não é o objetivo, mas o instrumento. Nesse contexto, não há amigos, só adversários e inimigos. O jogo político é pesado, pois prevalece a lógica de derrotar o adversário ou “inimigo” e, se necessário, em caso extremo, eliminá-lo.
Mas a humanidade já conseguiu produzir, embora mais raramente, um outro tipo de líder, que baseia a sua liderança na forca moral e no consenso. Ghandi é o paradigma desse tipo de liderança política.
Também aqui o projeto é coletivo, mas o líder não disputa para se-lo. Não precisa força física, lidera pela força do consenso e sua força é a superioridade de seus valores e da sua ética. Não precisa construir inimigos para vencê-los, mas sim subordinar e ganhar os adversários pela razão objetiva do projeto socialmente superior. Pratica a coerência entre discurso e ação, essa coisa hoje tão rara entre as igrejas, os estados, os partidos e as pessoas e que está na raiz da atual desmoralização da política.
Esses estilos de lideranças políticas raramente são encontrados em estado puro. Também, o líder não os escolhe ao seu bel prazer. O estilo real de cada político acaba sendo uma combinação particular entre alguns dos estilos básicos. Há que se falar em características predominantes e isso vai depender tanto da sua personalidade como do contexto dentro do qual se realizam as disputas.
A cada estilo de liderança vai corresponder um comportamento político esperado. O de pensar e usar o governo como coisa sua, ou comportar-se segundo princípios republicanos. O de isolar-se no uso pessoal do poder ou de compartilhá-lo com a sociedade. O de perpetuar conflitos ou buscar convergências que possam viabilizar projetos de interesse público.
Certamente Matus não escreveu esse tema para o Brasil ou para Mato Grosso do Sul. Mas sua validade e atualidade são preciosas para ajudar-nos a pensar a nossa política.
Fausto Matto Grosso

(*) Artigo originalmente publicado em 9 de dezembro de 2007, no Jornal da Cidade (http://www.jornaldacidadeonline.com.br), de Campo Grande (MS), meio de comunicação em que o autor é colunista.

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