segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

ADEUS AOS CANTEIROS DE MATO GROSSO (*)

A obra do monumental templo evangélico que está sendo construído na Mato Grosso tem sido objeto de acesa polêmica. Entretanto o pano de fundo desse problema há muito vem sido pintado.
No final da década de 70, Campo Grande se preparava para ser capital. Durante a administração do Prefeito Marcelo Miranda, foi elaborada uma avançada Lei do Uso do Solo orientada pelo urbanista Jaime Lerner, pela qual se reservava várias áreas privadas, de grande dimensões, localizadas na região central da cidade, e classificadas como “Zonas Especiais”, para as quais só poderia ser dada destinação púbica.
Eram consideradas reservas para a construção de edifícios públicos, de equipamentos culturais como teatros, museus, bibliotecas e outras de naturezas afins. A legislação ousada baseava-se no princípio de que a propriedade deveria cumprir a sua função social. Eram espaços vitais para a organização da vida futura da cidade.
Esses imóveis se sujeitavam, naturalmente, a um universo restrito de compradores - União, Estado ou Município - portanto com preço comprimido pelo mercado. Eram verdadeiros “micos” nas mãos de seus proprietários, a menos que se lhes fossem alteradas as classificações.
Foi uma época de grandes embates na Câmara Municipal. Foram lançados vários empreendimentos para esses locais, que vinham associados a propostas de mudanças na Lei do Uso do Solo.
Certa feita foi lançado um projeto de um grande shopping center no quarteirão do atual templo, que exigia a retirada da feira livre. No “buracão” da Pedreira, foi projetado um conjunto de oito torres residenciais. A tudo isso se opunham as entidades de engenheiro e de arquitetos, que conseguiam levantar consigo amplos segmentos da opinião pública.
Esses empreendimentos acabaram não se realizando por razões de natureza econômica, mas acabaram levando à modificação da classificação de uso dessas áreas. A Câmara Municipal que sempre se posicionava 100% contrária às mudanças, amanhecia no dia da votação com ampla maioria em apoio às mesmas.
Hoje temos o templo evangélico, que tanta polêmica já gerou com os impactos nas edificações vizinhas. Quando começar a funcionar plenamente, congestionará irremediavelmente a Avenida Mato Grosso.
Algumas quadras acima, um imenso canteiro de obras anuncia outro mega-empreendimento. Dessa vez um templo de consumo, um imbatível "super-hiper-mercado" com amplo impacto de vizinhança, com imenso potencial de concentração de trafego.
E a cidade que já fomos vai começando a se perder na sua trajetória cultural. Triste destino esse das cidades sem passado.
Quem quiser guardar uma lembrança para, no futuro, matar saudades ou mostrar para os netos, trate de tirar uma foto do canteiro da Avenida Mato Grosso.
Fausto Matto Grosso
(*) Artigo originalmente publicado em 13 de janeiro de 2008, no Jornal da Cidade (http://www.jornaldacidadeonline.com.br), de Campo Grande (MS), meio de comunicação em que o autor é colunista.

Nenhum comentário: