terça-feira, 15 de dezembro de 2020

 (Um livro escrito página a página)

FIM DE UM MANDATO


  No ano de 1982, ainda durante a ditadura, ocorreu a primeira eleição direta para governadores. Antes disso, eles eram escolhidos por colégios eleitorais de exceção.

  Naquele ano, houve eleições para governadores, senadores, deputados federais e estaduais, e vereadores. Nas capitais, então consideradas áreas de segurança nacional, os prefeitos eram de livre indicação dos governadores de estado.

  Em Mato Grosso do Sul, foi eleito governador, Wilson Barbosa Martins, tendo como vice Ramez Tebet. Para o Senado, foi eleito Marcelo Miranda , o PMDB elegeu quatro deputados federais, e doze deputados estaduais, a metade das vagas em disputa em cada Casa.

  Para a Câmara Municipal da capital, o PMDB elegeu 14 dos 21 vereadores, dando uma histórica virada na política municipal. O quadro      partidário na época tinha claro perfil ideológico, oposição ou apoio à ditadura.

  O PCB, então abrigado dentro da legenda do PMDB, tinha se preparado para essa disputa. Organizadamente lançou dois candidatos o advogado Marcelo Barbosa Martins, de sobrenome político ilustre (seu tio candidato a governador e seu pai, candidato a deputado federal) e eu,  engenheiro e professor da UFMS. Sem grande vocação para a articulação política eu era, dentro do partido, reconhecido como articulador orgânico, um organizador, característica que o partido pretendia para sua organização na sociedade civil.

  A campanha dos candidatos do PCB era um projeto partidário. O trabalho foi inteiramente de militância. O grupo de advogados, com Onofre Costa Lima Filho e Carmelino Rezende à frente coordenou a campanha de Marcelo, agregando também grande parte da nossa militância estudantil. A minha campanha teve a coordenação de Ricardo Bacha e Nilson Theodoro de Farias. Custo pessoal praticamente zero. Chegou ao ponto de o partido fornecer suporte financeiro pessoal, para que eu pudesse abandonar meu trabalho profissional, que estava criando dificuldades para a dedicação integral à campanha.

  A eleição foi um sucesso para o PCB, Marcelo ficou em terceiro lugar, com 4.473 votos e eu em sétimo lugar com 2.275 votos em uma população três vezes menor que a atual. Em proporção à população atual equivaleria hoje a uma votação três vezes maior, cerca de 13 mil votos e 6.800 votos, respectivamente. O vereador mais votado de Campo Grande neste ano de 2020 teve 6.200 votos, em um quadro de grande pulverização partidária e individualismo político.

  Nosso mandato de seis anos foi destacado e mereceu grande reconhecimento público, o que me garantiria reeleição considerada praticamente certa em 1988.

  Coerentemente com a nossa política nacional de frente democrática, planejamos sair coligado com o PMDB, principalmente porque seu candidato seria Plínio Martins, um dos nossos principais aliados. Tudo foi acertado com suas principais lideranças, inclusive com o ex-Governador Wilson Martins. Eis que, nossa convenção já tendo decidido pela coligação, foi surpreendida pela recusa da convenção peemedebista, de coligação com o PCB. Tratava-se de uma rebelião dos candidatos à vereador do PMDB, pois esta coligação garantiria um mandato para o PCB, uma vaga a menos para o Partido.

  Essa desarrumação repentina nos levou à improvisação de uma candidatura própria de última hora. Nosso candidato a prefeito Alan Pithan obteve menos de 1000 votos. Nossa chapa de vereadores não atingiu o cociente eleitoral.

 Muitos pemedebistas gastaram décadas tentando nos explicar o inexplicável. Como resposta política imediata, retiramos nosso companheiro Carmelino Rezende da Secretaria do Trabalho de Marcelo Miranda. Nesse episódio, revelou-se um episódio de baixa política, que manchou a importância histórica do PMDB. Enquanto pensávamos na política nacional da transição democrática, aqui na província pensava-se em uma vaga de vereador.

Fausto Matto Grosso


Um comentário:

Unknown disse...

Tempos distintos, lógica semelhante, muito legal Fausto estou lendo todas suas reminiscências, obrigado por compartilhar a história conosco!!

Ivan