quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

 

(Este artigo fará parte do livro Histórias que ninguém vai contar)

LUDIO E O PARTIDÃO



Com a vitória de Wilson Martins para o governo, em 1982, cabia-lhe fazer a indicação do prefeito da capital. Essa era a regra herdada da ditadura, já que as capitais eram consideradas áreas de segurança nacional e nestas não havia eleições diretas.

  Wilson poderia escolher qualquer um, ao seu livre arbítrio, mas o grupo do PMDB autêntico, liderado por Juarez Marques Batista e Valter Pereira, queria fazer a indicação, assim como os oriundos do PP pleiteavam a indicação de Antônio Mendes Canale. Por sua vez, Wilson já pretendia indicar Ludio Coelho, por retribuição ao apoio dos pecuaristas durante a campanha. Entretanto, precisava viabilizá-lo politicamente.     Com sua visão de frente democrática, os pecebistas também defendiam, como Wilson, que quem tivesse participado da campanha deveria participar do governo.  Além do mais, avaliavam que era importante aliviar a pressão e a desconfiança dos setores conservadores do estado com relação ao governo de centro-esquerda que estava se implantando.

Depois de muita pressão, Wilson resolveu ouvir o partido.  Antes da chegada ao governo, os diretórios do PMDB tinham pouca serventia para os políticos, razão pela qual os comunistas ocupavam, folgadamente e sem contestação, um terço das suas vagas do diretório municipal da Capital

Em uma convenção informal tumultuada, Ludio disputando com mais dois candidatos, saiu-se consagrado como o mais votado dos pretendentes, com a ajuda decisiva dos comunistas.

Assim Ludio chegou, à Prefeitura em 1983. Como novo prefeito teve uma dificuldade inicial para se se firmar, chegando a receber uma enorme vaia no comício das diretas em 1984. Ao final do seu governo, estava consagrado como um grande prefeito. Ficou conhecido por declarações e atitudes quase folclóricas, pelas histórias que ele mesmo inventava e pelo uso da linguagem popular. Seu chapéu de produtor rural, que não tirava da cabeça, virou seu símbolo.   A escolha de Wilson se revelou acertada.

  Seu governo foi de grande influência do PCB, que indicou o seu secretário de obras José Eduardo Tiberi, engenheiro do Dersul. Mas também indicou diversos outros quadros técnicos não pertencente ao partido, que qualificaram o governo em áreas estratégicas. Durante o seu governo o partido também tinha dois vereadores na Câmara Municipal, Marcelo Martins e eu.

  Esse período ficou marcado pelo conflito que existiu entre a gestão Ludio e o setor de obras do Governo Wilson, este dominado por concepções herdadas do “milagre brasileiro”, de obras faraônicas. Dentro do próprio governo existiam outras secretarias e lideranças que contestavam o grupo ligado ao Marcelo Miranda. A título de exemplo, foi essa resistência que salvou nossos córregos urbanos da Capital do envelopamento completo com concreto.

  Mas, Ludio Coelho tinha outros planos, queria ser governador do Estado. No PMDB o nome de Marcelo Miranda já estava à postos para essa disputa, razão pela qual Ludio saiu do partido e foi para o PTB. Nessa nova disputa, o PCB, que nacionalmente fazia parte da Aliança Democrática (PMDB, PFL, PCB e PCdoB), saiu coligado com o PMDB. A propósito, foi o senador Marco Maciel, em nome de Sarney, que interviu junto a Marcelo Miranda para que fosse feita a coligação com os comunistas.

  Foi uma disputa selvagem. Para nossa surpresa Ludio começou a fazer uma cerrada campanha anticomunista contra Marcelo Miranda. O velho fantasma ainda estava vivo. Nesse contexto, minha campanha de deputado estadual ganhou tempo de TV desproporcional. Parecia tempo de senador. Minha tarefa era chamar o Ludio de ingrato. Não fui eleito deputado, afinal não era bom de voto, mas o velho e bom Ludio Coelho também não conseguiu seu intento. Deve ter sido castigo pela ingratidão.

Fausto Matto Grosso

 


Um comentário:

Unknown disse...

Está bem explicativo o seu livro.
Sucesso.