TEMER E A JUSTIÇA
Todos nós fomos surpreendidos com as manchetes de que Juiz
absolvera Temer, Cunha e ex-deputados do 'quadrilhão' do MDB. Além dos já
citados, foram incluídos na sentença os ex-ministros Eliseu Padilha e Moreira
Franco, e os ex-deputados Henrique Eduardo Alves, Geddel Vieira
Lima e Rodrigo da Rocha Loures. O Juiz de Brasília é o mesmo que absolveu Lula
em processo semelhante.
Ao todo, Temer já foi denunciado cinco vezes pelo Ministério
Público e é investigado em dez inquéritos. Quando deixou a Presidência quatro denúncias
foram para a 1ª Instância da Justiça Federal em Brasília; quatro estão na
Justiça Federal em São Paulo; uma foi para a Justiça Federal no Rio de Janeiro;
e uma está na Justiça Eleitoral, também em São Paulo.
À Justiça Federal de São Paulo caberá julgar as denúncias a
respeito das irregularidades no Porto de Santos, que levou o presidente
temporariamente à prisão, junto mais nove pessoas presas na mesma operação. Um
HD externo com cerca de 80 gigabytes de informações foi enviado pelo Supremo,
para ajudar os procuradores de São Paulo. Seria tudo mentira? Ou seria excesso
de provas?
Em São Paulo está a denúncia relativa à Operação
Descontaminação, que envolveria corrupção e tráfico de influência no caso da
Eletronuclear, onde o ex-presidente está denunciado junto com o seu assessor e
amigo coronel Lima e o presidente da empresa Othon Luiz Pinheiro da Silva.
Ainda em São Paulo, na Justiça Eleitoral, corre o caso da
doação de Odebrecht para campanhas eleitorais do MDB com um pagamento de R$ 10
milhões, uma das mais bem fundamentadas acusações.
Na Justiça Federal em Brasília, correm quatro casos.
O caso JBS é talvez o mais rumoroso de todos. Na ocasião da
denúncia houve dúvidas sobre se Temer continuaria no cargo, ou renunciaria. Fazem
parte desta investigação as famosas imagens gravadas pela Polícia Federal do
ex-deputado e ex-assessor de Temer, Rodrigo Rocha Loures andando com uma mala
contendo R$ 500 mil em dinheiro pelo centro de São Paulo e o apartamento-cofre
de Gedel, cheio de caixas e malas de dinheiro.
Também em Brasília "quadrilhão do MDB" é parte de
um pacote de denúncias apresentadas pelo ex-Procurador Geral da República
Rodrigo Janot contra as cúpulas de três partidos: PP, PT e MDB. No caso do MDB,
foram duas acusações: uma dirigida à cúpula do MDB no Senado; e outra à cúpula
da Câmara. Janot acusou Temer e outros emedebistas de cometer vários crimes de
corrupção a partir de 2006, envolvendo vários órgãos e empresas públicas:
Petrobras, Furnas, Caixa Econômica, Ministérios da Agricultura e Integração
Nacional, e a própria Câmara que foi dirigida por Temer por dois mandatos. Pelo
meu entendimento leigo, acho que foi neste caso que Temer conseguiu
recentemente se livrar de condenação, trata-se de sentença de 1º grau, sujeita ainda
ao crivo do Tribunal do Estado, e, possivelmente do STJ. Ainda tem pano para
manga.
Procurando entender melhor os casos me vi enrolado em um
cipoal de decisões, instâncias, recursos, protelações, pedidos de vistas, um
verdadeiro inferno. Só consegue acesso a esse pântano, gente do ramo. As coisas
da justiça não são para os mortais indignados. A gente acaba não sabendo com
quem se indignar se com os denunciados, se com o Ministério Público
descuidado/leviano ou com os juízes pusilânimes. O fato é que tudo parece muito
confuso para o brasileiro, depois de tanta acusação ver o denunciado dar a
volta por cima. O caso Temer parece ser uma absolvição por excesso de provas.
Um espanto.
Do jeito em que as coisas estão, temo que daqui a alguns anos, Bolsonaro, o capitão sem curso de Estado Maior, possa ser libertado da cadeia
por falta de prova das mortes pelo COVID 19.
Assim, como disse Luiz
Werneck Viana, isolados do resto do mundo, não temos para onde fugir. As portas
do êxodo estão fechadas para nós, que temos de ficar aqui e encontrar as vias
de saída do inferno que nosso país se tornou.
FAUSTO MATTO GROSSO,
Engenheiro de Professor aposentado da UFMS
Nenhum comentário:
Postar um comentário