quinta-feira, 14 de maio de 1998

UM PROFESSOR CONTRA A UNIVERSIDADE

As Universidades Federais estão paradas. Nunca um movimento grevista conseguiu, entre nós, tamanha abrangência. Todas as 52 instituições de ensino superior do sistema federal aderiram à paralisação.
Mesmo em algumas delas, como é o caso da UFMS, a adesão não sendo total, não diminui a importância do movimento. Seguramente a maior parte dos que assim procedem, não o fazem por satisfação com a nossa situação atual, mas sim por não depositarem nenhum crédito na sensibilidade do governo FHC.
A greve atual é um grito de resistência da Universidade brasileira contra a sua humilhação, destruição e extinção.
Triste fim. A eleição do professor Fernando Henrique Cardoso, por certo, despertou grande expectativa nas Universidades. Afinal seu rico currículo acadêmico e político assim o justificava. Passados menos de 4 anos, o presidente , que viaja o mundo recebendo homenagens de instituições estrangeiras, talvez seja, nas Universidades, o mais desacreditado presidente das últimas décadas.
Afinal, ao ser empossado, ele mesmo pediu que esquecessem o que já tinha escrito. Repudiar, repentinamente, idéias antes defendidas, tudo em nome da nova aliança conservadora, é inaceitável em uma instituição que se dedica a produzir idéias e utopias . Foi seu primeiro gol contra.
A política universitária desenvolvida a partir daí foi de humilhação, terrorismo e falta de respeito.
Três anos sem reajuste salarial reduziram pela metade o já aviltado nível salarial e de vida dos professores e técnicos . O resultado disso é a desesperança e o desestímulo. A Universidade, que deveria ter condições de selecionar e manter os mais competentes quadros da sociedade, hoje, é empurrada para a mediocrização.
O terrorismo feito em torno da reforma da previdência jogou para fora das instituições públicas de ensino um enorme contingente dos mais titulados professores. Gente na qual o dinheiro público foi investido durante décadas foi cair, de graça, no sistema privado. Tudo isso poderia ter sido evitado se, em vez de anunciar iminente perda de direitos, fossem criados incentivos à continuidade na atividade acadêmica. Um governo que se pretende moderno teria necessariamente tal política.
Para completar o serviço, o governo do professor Cardoso não permite a reposição, em nível adequado, das vagas geradas pelas aposentadorias. Sem autorização para abertura de concurso, as Universidades vem sendo obrigadas a contratar, em número insuficiente e a título precário, professores substitutos. Isso está gerando uma situação profundamente desigual, injusta e inaceitável no aspecto acadêmico. Tais professores pagos por prestação de serviço, dedicam-se apenas às aulas sem poderem participar de atividades de pesquisa, de extensão e de qualificação docente que completam, na essência, a missão constitucional da Universidade. O governo FHC implantou o sistema de bóia-frias no ensino superior público.
Corte de verbas, corte de bolsas, semeadura de desesperanças. Por aí vai o professor Fernando Malvadeza. Com seu discurso modernizador e a sua prática de destruição do patrimônio universitário brasileiro produzido, a duras penas, com trabalho de muitas décadas, por professores, cientistas, pensadores que jamais mandariam esquecer aquilo que escreveram e sonharam.

FAUSTO MATTO GROSSO,
Engenheiro civil e professor universitário. Presidente do PPS/MS

14/05/98

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