terça-feira, 19 de maio de 1998

DEMOCRACIA E DESENVOLVIMENTO

Poucas coisas chocam tanto os sul-mato-grossenses como a descontinuidade administrativa. Acostumada a ver o poder ser ocupado, alternadamente, pelo pedrismo e pelo anti-pedrismo conservador, nossa gente assiste a cada quatro anos as prioridades mudarem, as obras pararem, as armadilhas serem armadas para o sucessor, o dinheiro público se perder e tantas outras irresponsabilidades administrativas.
Alguém já definiu que estadista é aquele que governa pensando nas próximas gerações e não apenas nas próximas eleições. Nesse sentido tem faltado aos governantes de Mato Grosso do Sul a estatura de estadistas e o compromisso democrático.
Comportam-se como se não tivessem plano algum de longo prazo. Se os têm, a sociedade deles não toma conhecimento e não participa.
Recentemente, a Petrobrás, preocupada com os seus investimentos no gasoduto, patrocinou ao Governo do Estado uma importante consultoria para a elaboração de um estudo de cenários de Mato Grosso do Sul para o ano 2010. Desse trabalho resultaram importantes diretrizes estratégicas, saudadas com entusiasmo por todos que tiveram acesso ao documento. Infelizmente nenhuma iniciativa foi tomada visando transformar tais indicações em ação governamental.
A arrojada tentativa da sociedade civil sul-mato-grossense em intervir nessa discussão, através do Fórum MS, acabou se desestruturando, pela completa insensibilidade do Governo diante da possibilidade dessa interlocução.
Entretanto esse deve ser o caminho. O futuro de Mato Grosso do Sul deve ser definido pela participação da sua sociedade civil e os governos e governantes serem simples executores dessa vontade coletiva construída em consensos pluralistas e democráticos. Dessa maneira os governos, transitórios que são, passarão e, sucessivamente, adicionarão iniciativas construtoras de um projeto de longo prazo.
Esse é o exemplo que tem sido dado, nos últimos anos, pelo Ceará. Após o enfrentamento e a derrubada do poder dos coronéis, a nova elite cearense, da qual fazem parte Tasso Jereissati e Ciro Gomes, organizou o chamado "Pacto de Cooperação do Ceará". Essa articulação das forças vivas da sociedade cearense construiu de um projeto de longo prazo que está na raiz do atual processo de desenvolvimento da região. Pensou-se grande, com um horizonte de 25 anos.
As ameaças - sol e pedra - foram transformadas em oportunidades. O sol virou fruticultura e indústria turística. A pedra virou exportação de mármore e granito. As cadeias produtivas foram desamarradas e seus gargalos resolvidos um a um. Foi atribuído um papel claro a cada agente de desenvolvimento, inclusive para as Universidades da região.
O resultado é que o Ceará, um Estado dos mais miseráveis, de uma região das mais miseráveis do Brasil, começou a ganhar prêmios internacionais pelas seus resultados na área da saúde, da infância e pela melhoria de todos os seus indicadores sociais.
Esse processo hoje, praticamente, independe de quem governa o Estado. A dinâmica implantada na sociedade não admite reversão das metas construídas em parcerias democráticas e consolidadas.
Esse é um exemplo a ser seguido. Que o próximo governo de Mato Grosso do sul seja escolhido pela capacidade de liderar um processo semelhante de desenvolvimento sustentável democraticamente.

FAUSTO MATTO GROSSO
Engenheiro civil e professor universitário. Presidente do PPS/MS

19/05/98

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