O QUE QUER JAIR BOLSONARO?
Bolsonaro quer ser reeleito presidente do Brasil. A maior
parte dos analistas políticos aponta que isso é uma missão impossível.
O Presidente tem contra si a imagem de ditador, sua
desastrosa condução da crise sanitária, a perda da bandeira da ética e
principalmente o fracasso de sua política econômica, que levou o país à
inflação e ao desemprego em massa.
Dessas variáveis, porém, a que mais ameaça sua presença no
segundo turno é o fracasso econômico. A crise econômica deverá ser determinante
para o voto dos brasileiros. Para a dura realidade dos preços e do desemprego,
não há fakenews que possa resistir.
Recentemente bateu mais um desespero no Palácio do Planalto:
as projeções do mercado para a alta do petróleo neste ano, que deve chegar a
US$ 100 o barril, com isso o preço do litro da gasolina saltaria para R$ 8,00.
Ainda haveria uma grande desvalorização do real frente ao dólar, obrigando o
Banco Central a aumentar os juros.
Bolsonaro ainda tem pela frente algumas iniciativas de fôlego
para tentar virar o jogo. Tem a seu favor o Auxílio Brasil de R$ 600,00
mensais, que tentará capitalizar politicamente e a mobilização do Brasil Rural.
Segundo programado pelo Instituto Conservador Liberal, criado pelo deputado
Eduardo Bolsonaro, teremos este ano a realização em todo o país, de Congressos
do Brasil Profundo, testado no fim do ano passado em Rondonópolis, MT. É uma
tentativa de organizar o campo conservador rural para apoio ao Mito. Será um
belo dueto com as caravanas de Lula.
Mas, apesar disso, Bolsonaro deverá ser derrotado pela
inflação nos supermercados e pelo preço nas bombas dos combustíveis.
Entretanto, a ninguém é dado o direito ser ingênuo de que
tudo terminará por aí. Bolsonaro tem seu Plano B, a sedição.
Esse foi o caminho tentado por Trump, seu ídolo, quando
derrotado. O Bolsonarismo tentou
antecipar isso com o fracassado golpe de sete de setembro. Na ocasião Jair
Bolsonaro afirmou que não cumprirá decisões judiciais, ameaçou fechar o Supremo
Tribunal Federal, disse que um dos ministros, Alexandre de Moraes, "açoita
a democracia", chamou o processo eleitoral sem voto impresso de
"farsa" e disse que apenas Deus pode tirá-lo da Presidência.
Nada mais explicito a
respeito do Plano B. É para essa questão que devem estar voltadas as
preocupações das forças democráticas. Garantir as instituições e o processo
eleitoral, para derrotar Bolsonaro e enfraquecer o bolsonarismo.
Mesmo que não seja eleito, Bolsonaro consolidará em torno de
si uma massa fanatizada e armada de cerca de 20% dos eleitores, ou seja, cerca
30 milhões de pessoas, com forte apoio das forças de segurança e da milícia. Só
para comparação, a população total da Hungria do primeiro-ministro Viktor
Mihály Orbán, seu concorrente a líder mundial da direita, é de apenas 9.835.000
habitantes. Com esse apoio eleitoral, Bolsonaro seria forte concorrente nos
principais países europeus.
Depois da queda de Trump, Bolsonaro será o mais forte
representante da direita mundial, e já se articula para esse papel. Segundo
professor da Universidade Federal do ABC o fundamento da política externa de
Bolsonaro é "a aliança com a extrema direita mundial, para fazer do Brasil
um polo de difusão dessa vertente". Através dos seus filhos, Bolsonaro tem
se articulado com a direita mundial, participando de eventos, visitando e
recebendo lideranças da direita francesa, alemã, espanhola, portuguesa e
húngara.
Parece difícil imaginar que Bolsonaro possa tirar algum
benefício da exploração dessa imagem de presidente mais extremista do mundo.
Mas é nessa direção que seu comportamento está direcionado. Mobilizar a bolha
bolsonarista para o que der e vier, para o primeiro, o segundo e o terceiro
turno. É aí que mora o perigo.
FAUSTO MATTO GROSSO
Engenheiro, professor aposentado da UFMS
Membro do Grupo Conjuntura.
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