O JACARÉ E O PRESIDENTE
O Brasil é o país do
jogo do bicho. Aqui, o bicheiro tem mais credibilidade do que a maioria dos
nossos políticos. O jogo do bicho é considerado uma instituição nacional séria.
Entretanto vimos outro dia o Presidente usar um bicho, o jacaré (57, 58, 59, 60),
animal típico do nosso Pantanal, para assustar os maricas que se submetessem a
vacinação. A que ponto pode chegar um negacionista!
Mas, virar jacaré também é a descrição que se dá à aparência
de um gráfico onde há uma diferença cada vez maior entre os percentuais a favor
e contra uma determinada questão.
A partir de dezembro passado, começou a aumentar de maneira
consistente, a diferença entre a avaliação negativa e a avaliação positiva do
Governo Bolsonaro, e essa parece uma tendência estável a curto e a médio
prazos. O jacaré começou a abrir a boca para o Presidente e parece que sua fome
vai continuar crescendo.
Existem, atualmente,
duas incertezas críticas sobre a continuidade dessa tendência: a evolução da
pandemia e a evolução da economia. Mas sempre teremos que contar também com os
torpedos que o presidente, seus ministros e seus filhos, vez por outra, jogam
contra o próprio governo.
A maioria dos analistas aponta que a pandemia vai piorar
ainda mais antes de começar a melhorar. Hoje, com mais de quatro mil mortos por
dia, já se fala em uma terceira onda. Pesquisa da Universidade Federal
Fluminense já aponta para probabilidade de mais de cinco mil mortos por dia. A
crise do Covid está fora de controle e a opinião pública atribui a Bolsonaro a
principal responsabilidade.
Na economia, pesquisadores apontam que a crise deve ser mais
longa e mais profunda do que aquela causada pela quebra da bolsa de valores
americana, em 1930. Um dos motivos que leva a esse entendimento é o fato de que
a recuperação das atividades econômicas será difícil. Como já é sentida nos
ramos do turismo, dos esportes e do entretenimento, essa situação será
generalizada para vários outros ramos da atividade econômica. Essa situação é
agravada pelo fato de estarmos passando por uma transição produtiva que tem
resultado em novas plataformas de trabalho não disponíveis para o conjunto da
população. O home-office, por exemplo, não é uma forma laboral acessível a
todos e muitos perderão definitivamente os seus empregos.
O governo aposta no impacto positivo do novo coronavoucher de
R$ 250,00, mas seu valor e sua amplitude são mais reduzidas que a da ajuda
anterior de R$ 600,00, que representará um padrão de comparação, com sentimento
de perda pelos beneficiários. A perspectiva é, portanto o aumento das
dificuldades do Presidente. Essa parece representar uma tendência estável, o
que tem levado Bolsonaro a ter cada vez mais tentação para o autogolpe.
Acossados por essas
ameaças, chegamos à situação atual. A pesquisa abril do Poder Data, mostra que,
desde que começou a pandemia, o governo está em seu pior momento. A
desaprovação é recorde: 59% e a aprovação é a menor: 33%. Essa bolha de um
terço de apoiadores de Bolsonaro é que fornece oxigênio para o capitão. A
situação parece ser de piora das condições de sobrevivência política do
Presidente.
Se a eleição fosse hoje o segundo turno das eleições seria
disputado entre Lula e Bolsonaro, e o Presidente perderia de 38% a 42%. Outras
pesquisas de segundo turno indicam que além de Lula, Ciro e Huck ganhariam do
capitão no segundo turno, o que é um fato alvissareiro que despolariza a
eleição. O brasileiro vai poder votar tranquilamente a favor do seu candidato e
não ser obrigado fazer voto útil.
FAUSTO MATTO GROSSO
Engenheiro e professor aposentado da UFMS
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