quarta-feira, 17 de março de 2004

BRIGA DE RUA DA MICRO POLÍTICA

O pensador e revolucinário italiano Antonio Gramsci classificava a política em micro política – aquela ligada às intrigas, às conspirações palacianas, às disputas de projetos pessoais – e a Grande Política, esta ligada as disputas pelo rumo do Estado, aos embates ideológicos, às disputas pela hegemonia dos grandes projetos coletivos.
A política brasileira tem sido o exemplo, nada dignificante, do que não deve ser a política. Mas não inventaram ainda democracia sem política. Isso é o preocupante.
A conjuntura que vivemos, coloca o Governo Federal e o PT num autêntico inferno astral.
Talvez o PT merecesse o que está acontecendo. O Brasil e a democracia brasileira é que não merecem.
O PT errou muito no passado. Construiu a sua história e a sua via de acesso ao poder político, com o denuncismo, com o discurso fácil, com o quanto pior melhor, com postura absolutamente maniqueista do bem e do mal e com completa falta de compromisso com o pluralismo e com a democracia. Na política eleitoral nunca quiseram, sinceramente, aliados e sim apoiadores.
Apesar disso virou a esperança do povo brasileiro. Essa esperança não pode ser desprezada, deve ser resgatada. Este deve ser o rumo da saída da atual crise política. Não existe saída pelo revanchismo e pela desmoralização da política. A crise deve ter como produto a reorientaçao do governo e um novo PT, isso é importante para o País, para a democracia brasileira e também para a esquerda não petista.
É com esta visão que o PPS, que não participou do fora Sarney nem do fora FHC, não patrocinará o agravamento da crise que poderá levar ao fora Lula.
Mas isso depende, logicamente, de o Governo e de o PT quererem a reorientar a sua política. A governabilidade não pode continuar sendo contruída com base no fisiologismo da distribuição de cargos e de emendas parlamentares mas sim no compartilhamento de um projeto para o País com outras forças comprometidas com as mudanças.
O Governo não se manterá se quiser continuar sendo um “aparelho do PT” avassalado pela visão do financismo e refém das velhas raposas oligarquicas.
No interior do Governo, a discussão sobre os novos rumos padece de falta de criatividade. Essa briga entre adeptos do finacismo contra os desenvolvimentistas, entre Palocci e José Dirceu é reprise da que ocorreu no governo FHC, entre o malanismo e a dupla Sergio Motta-José Serra.
Não haverá uma saída que avançe a política e o desenvolvimento brasileiro sem a constituição de um amplo aliança de centro-esquerda. O PPS, que não abre mão da Grande Política, tem apontado para a necessidade de uma convergência histórica, programática entre o PT e o PSDB. Embora pareça hoje impossível essa é uma hipótese defendida por Roberto Freire que encontra eco dentro de setores responsáveis do PT, a exemplo do Ministro Tarso Genro, que já se manifestou publicamente sobre isso.
Sair dos cerco do fisiológismo e do financismo, compartilhar o projeto nacional com generosidade, construir rapidamente competência para solucionar problemas esta deve ser a saída da crise. Uma democracia sem resultados não se sustenta.

FAUSTO MATTO GROSSO
Vice-Presidente do PPS/

faustomt@terra.com.br

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