quarta-feira, 17 de março de 2004

ZONA DE PERIGO

Orientam os manuais de gestão estratégica que os governos devem fazer, permanentemente, três balanços: o da condução da política macro-econômica, o da governabilidade e o da resolução de problemas. Essa é missão do Ministro, zen, Luis Gushiken.
Não se pode ter resultados negativos nos três balanços, mas pode-se, com um bom manejo estratégico, salvar pelo menos dois deles em cada momento. Nesta ótica, o Governo Lula está entrando rapidamente na zona do perigo.
É negativo o balanço que se pode fazer hoje da política macro-econômica. Se por um lado consegui-se evitar a explosão dos juros e da taxa de risco, isso não representou nada mais do que resolver problemas de desconfiança do mercado, que Lula e o próprio PT criaram pela suas trajetórias. O pior é que toda a expectativa quanto ao “milagre do crescimento” está sendo criada quanto ao manejo dessas duas variáveis, como se o mercado pudesse resolver, sozinho, o problema da retomada do desenvolvimento.
Não foi enfrentado nenhum gargalo importante da economia nacional. Faltam políticas industrial e tecnológica efetivas. A questão da dívida, de longe o mais desafiador, continuou intocável, fazendo o Brasil corar-se de vergonha diante da Argentina. Os recursos para investimentos e política sociais estão sendo drenados para a roleta financeira internacional e nacional. Aumento do desemprego e taxas negativas de crescimento são os resultados mais visíveis da política Pallocci. Resultado: governo está sendo deficitário nesse balanço.
Quanto à governabilidade, foi conseguida uma base de sustentação congressual apreciável, mesmo que utilizando métodos tradicionais tão criticados pela esquerda.  A votação das reformas que o diga. A adesão do PMDB selou esse sucesso. Pena que a parcela de governabilidade, que poderia vir da Sociedade Civil, foi menosprezada.
Ia tão bem o resultado do centro-avante José Dirceu, que ele foi deslocado para outra posição, para cuidar dos resultados. A governabilidade pode ser passada para o PcdoB tomar conta. Entretanto esse resultado, em função da crise econômica e das denuncias que quebraram a imunidade ética do PT, começa a sofrer desgaste. O “fogo amigo” do PT, e de alguns aliados, complica ainda mais a situação. Apesar disso Governo ainda pode ainda comemorar o resultado do balanço da governabilidade. Não se sabe, entretanto, por quanto tempo e a que preço.
No balanço da solução de problemas, o governo perdeu feio.  Partidarização da administração, quadros sem a qualidade necessária, inexperiência e disputas internas fragilizaram a gestão Lula.
Orçamentos contigenciados, para gerar permanentes superávits, inviabilizaram recursos minimamente necessários para a produção dos resultados. Políticas sociais sem recursos, investimentos em infraestrutura, que não saíram do papel, deram a tônica da frustração do “espetáculo do desenvolvimento”. Aquele que seria o programa símbolo do novo governo, o Fome Zero, foi o  exemplo mais vexaminoso do fracasso do balanço da produção de resultados.
O reforço que veio no segundo tempo, através do Ministro José Dirceu, deslocado para cobrira ala dos incompetentes do “aparelho”, quando chegou, veio fragilizado.
Consultando a tabela, o Governo que precisava pelo menos de 2X1 para continuar jogando, está perdendo por um preocupante 1X2. Entrou na área do perigo de rebaixamento. Preocupantemente, está garantido apenas no tapetão do Congresso. Ainda bem que tem o Sarney. Fora Sarney! Desculpe, Viva Sarney!


FAUSTO MATTO GROSSO Vice-Presidente do PPS/MS 17/03/2004

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