domingo, 18 de abril de 2004

DESAFIOS

Tantos quantos de nós receberam visitantes nos últimos tempos devem ter ouvido elogios à nossa cidade. De alguns, inclusive, a referência à semelhança com Curitiba.
Campo Grande encanta seus visitantes, principalmente porque só costumamos mostrar-lhes o lado bonito da cidade.
Mas levantamentos de opinião feitos por Universidades locais mostram, também, que há um reconhecimento generalizado sobre o trabalho de todos nossos prefeitos das últimas três décadas. O povo, muitas vezes, lhes cita as obras e os feitos.
O Plínio Martins, do primeiro plano diretor. O Mendes Canale, da Infraestrutura do Bairro Amambaí. O Levi, da canalização da Maracajú, das melhorias do São Francisco e do uniforme dos escolares. O Marcelo Miranda, das obras no Santo Amaro. O Lúdio Coelho, do asfaltamento das linhas de ônibus, da integração do transportes e da Leste-Oeste. O Juvêncio da Fonseca, da Planurb e da Norte-Sul. Ultimamente, o mesmo reconhecimento é dado a André Puccinelli, realizador de portentosas obras de Infraestrutura.
Não somente obras realizaram esses prefeitos, mas estas constituíram, sempre, a face mais visível da suas administrações. Campo Grande de hoje é, portanto o fruto do empreendedorismo de todos eles, cada qual, pensando a cidade a partir de sua visão pessoal.
Com esse acúmulo parece não ser muito difícil administrar Campo Grande, pelo menos em termos convencionais. A cidade está relativamente bem estruturada, a Prefeitura arrecada bem, o próximo prefeito, provavelmente, estará com seu futuro político assegurado.
Mas há um grande salto a ser dado atualmente que é o de fazer a cidade a partir da visão coletiva da cidadania. Há que se construir um projeto de cidade que ultrapasse os mandatos e a visão pessoal dos mandatários. A cidade não lhes pertence. Mudanças realmente profundas exigem compromissos de continuidade que só um processo mais coletivo pode garantir. Qualquer peão que construa cerca sabe que esta não pode ser feita colocando-se um poste depois do outro, sem balizamento de um poste a longa distância.
A democratização da gestão pública, para acolher a visão de tantos quantos constroem a cidade, é um imperativo e um desafio para quem pretende governa-la com visão contemporânea. A cidadania organizada e participante é a condição para que a cidade seja pensada independentemente dos mandatos e dos mandatários e, portanto, possa enfrentar problemas estruturantes, de maior significado e envergadura.
Alguns desses problemas saltam aos olhos.
Nossa cidade deve crescer indefinidamente para ser uma grande metrópole ou deve buscar uma estabilização que permita o desenvolvimento sustentável? Dentro dessa ótica, como deve ser sua relação com as cidades vizinhas, polarizadas pela capital? Não estaria na hora de pensar Campo Grande como região metropolitana integrada com os municípios lindeiros?
No âmbito da democracia participativa que papel devem ter os vários conselhos regionais e setoriais? Tais conselhos, existentes em grande número, no geral, têm baixíssima efetividade, como melhorar esse quadro?
Na área social, quais os níveis desejáveis e factíveis de desenvolvimento humano a serem perseguidos pelos programas e projetos que as diversas administrações forem criando? A criação do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDH-M, calculado pelo IPEA/PNUD, serve exatamente a esse propósito e cria uma base para a avaliação, objetiva e independente, da responsabilidade social das administrações. Com publicização dessa informação a cidadania estará melhor protegida dos balanços ufanistas e propagandistas que os governantes fazem de si mesmos.
Transformar Campo Grande de uma cidade bonita que cresce, numa cidade que se desenvolva com qualidade de vida crescente muito orgulhará o campo-grandense ao mostrá-la, por inteira, aos nossos futuros visitantes.

FAUSTO MATTO GROSSO
Engenheiro Civil e professor da UFMS

18 de abril de 2004

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