O SAARA
É AQUI
No final do mês de setembro, um fenômeno assustador se
manifestou no interior dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do
Sul. Tendo como epicentro a cidade de Jales (SP), assustadoras tempestades de
areia escureceram as cidades em pleno dia.
Tais fenômenos podem ocorrer quando há temperatura elevada,
baixa umidade relativa do ar e ventos fortes. Esse combo pode provocar a
formação de áreas de instabilidade, com tempestades de areia que lembram as do
Saara.
Em nosso país esse
tipo de tempestade de areia, ou de poeira, é incomum, mas elas estão surgindo
no país cada vez com maior frequência. Neste ano de 2021, devido à seca que
quebrou recordes históricos, esse fenômeno se manifestou, principalmente em
áreas agrícolas em que, na preparação do solo para a próxima safra remove-se a
vegetação deixando a terra nua. Com isso, perde-se o solo consolidado, que une
as partículas, deixando-as soltas para serem carregadas pelo vento. Nosso
modelo agrícola que planta areia só poderá colher tempestades, de areia.
Esses fenômenos surgirão novamente no próximo ano? Farão
parte do nosso novo normal? Especialistas indicam que é bem provável que essas
tempestades de areia devam voltar a ocorrer. Os ciclos de calor estão se repetindo
a cada ano, da mesma forma a seca anualmente tem castigado nosso rios e
reservatórios, provocando uma crise hídrica que tem se repetido anualmente.
Todos os cenários apontados para o planeta, indicam o avanço do aquecimento
global e mostram um aumento da frequência de extremos climáticos, como ondas de
calor, secas, tempestades de alto volume de chuva causando inundações e quebras
de safra. É impossível negar esses efeitos das mudanças climáticas em nosso
cotidiano.
Mas além destas, serão
determinantes para esses eventos extremos, nosso modo de vida, nosso modo de
produção e de consumo. Todos esses acontecimentos climáticos colocam em
discussão a habitabilidade do planeta ou de certas regiões hoje povoadas. O
desmatamento e as queimadas podem apressar esse processo de degradação,
inclusive na Amazônia e no Cerrado.
A adaptação à nova realidade climática vai custar muito caro.
Mas, a conta será mais elevada quanto mais tempo forem adiadas as providências.
Ainda é tempo, dispomos de conhecimentos científicos e tecnológicos necessários
para construir uma sociedade fundada sobre a sobriedade e o consumo
sustentável.
Schumpeter, economista
e cientista político austríaco, foi um dos primeiros a considerar as inovações
tecnológicas como motor do capitalismo. Criou o conceito de destruição
criativa, afirmando que o sistema estaria fadado a destruir o velho para
avançar no seu próprio processo de desenvolvimento, nesse aspecto é previsível
o sucateamento dos nossos recursos naturais. Nenhum capitalista investe onde é
mais necessário, mas sim onde é mais lucrativo. Segundo ele, não há
possibilidade de compatibilizar o capitalismo de crescimento com princípios
ecológicos. O economista austríaco afirmava que o capitalismo só poderia
prosperar em um planeta infinito.
Mas a Terra é apenas um pequeno planeta com 12.742 km de
diâmetro, o quarto do sistema solar, perdido no universo infinito. Embora
diminuta, protegida pela sua atmosfera, ela abriga um dos bens mais importantes
e excepcionais: a vida, tanto a humana, quanto a dos demais viventes. A Terra
continuará a existir, independente de nós, terá o mesmo tamanho e seguirá sua
trajetória absolutamente indiferente à existência ou não de vida em sua
superfície. Isso só interessa a nós humanos.
FAUSTO MATTO GROSSO
Engenheiro, professor aposentado da UFMS
2 comentários:
Muito bom. Parabéns Fausto.
Muito bom, professor, sou fã de seus sábios e bem elaborados textos.
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