quinta-feira, 2 de maio de 2019


NOVA POLÍTICA DE BOLSONARO
  O Presidente Bolsonaro e o Presidente Rodrigo Maia, representam dois poderes importantes da República. 
  Embora tenham posições convergentes quanto à Reforma da Previdência, vez por outra, se estranham sobre os encaminhamentos dessa questão. Maia cobra maior articulação do governo, Bolsonaro retruca que já fez a sua parte e resiste ao que ele chama de “velha política”.  “Quero saber o que é a nova política” retruca o outro.
  As manifestações de 2013, durante o Governo Dilma, acenderam um sinal de alerta para a política tradicional. Mobilizados pelas mídias sociais, brasileiros gritavam nas ruas, “vocês não nos representam”.
  Era um amplo processo de contestação à pratica política tradicional no nosso País, caracterizada pela falta de postura ética, e de descompromisso programático dos diferentes partidos e lideranças políticas. Eram sinais claros de descrença na política.
  Nesse contexto, emergiram, na sociedade, diversos movimentos cívicos, organizados através de redes virtuais, especialmente dedicados à mobilização política da cidadania. Alguns deles se dedicavam, também, à formação de novas lideranças políticas para os processos eleitorais, no que lograram algum êxito nas eleições de 2018. Esse fenômeno aconteceu tanto no campo da direita ultraliberal como no centro democrático, neste caso, representando uma alternativa à polarização esquerda-direita.
  Antes disso, já vinha se fortalecido, entre alguns muitos atores da política, a percepção de que as mudanças civilizatórias, influenciadas pela globalização e pela revolução científica tecnológica, apontavam para um mundo mais complexo e mais plural, que impunha uma “nova política”, tendo como eixo uma nova relação dos partidos com os governos, com a sociedade civil e com a cidadania. Também para a adoção de novos padrões éticos na política.
  O que Bolsonaro tem com isso? Absolutamente nada!
  Bolsonaro foi deputado federal, com um único projeto aprovado ao longo de sete mandatos, entre 1991 e 2018, tendo passado por diferentes partidos ao longo de sua carreira. Era classificado como pertencente ao chamado “baixo clero” da Câmara dos Deputados. Conhecia e usufruía da velha política. 
  No último processo eleitoral, sentindo a revolta da população contra a política, o candidato Bolsonaro assumiu, em seu discurso, o papel de arauto da mudança. Só que ao fazer isso, se colocou numa armadilha, a de demonizar negociações políticas. Num sistema fragmentado como o nosso, a negociação é inevitável. Se ele insistir na sua estratégia de confrontação, o seu destino será o fracasso e o isolamento.
  A indecifrável “nova política” do Presidente está levando o governo a um impasse. No Congresso, a “mãe de todas as reformas”, a do sistema de Previdência do país, começou a correr risco.
  Teve então que começar a ceder à política realmente praticada, começando a usar os meios políticos disponíveis da "velha política", que ele tanto combateu na campanha e nos primeiros meses de governo. Exemplo disso é o próprio fato de que ele oferece R$ 40 milhões em emendas parlamentares – o que é jurídica e politicamente legítimo – para os deputados que votarem a favor da reforma.
  Teria sido possível algum outro caminho? Do jeito que está, isso tem baixa possibilidade. Tería que voltar muito atrás. Ter criado novas relações a partir de programa de governo, que aparenta não ter. A nova relação entre Governo e Parlamento, pretendida por Bolsonaro, não aponta para um repúdio às relações espúrias até então existentes, mas para uma simples afirmação da sua posição autocrática, que recusa dividir poder.
  Para Oswaldo Amaral, da Unicamp, com a intransigência de Bolsonaro, o governo pode não conseguir governar, e apenas continuarb “fazendo espuma nas redes sociais e nas pautas menos relevantes”.
FAUSTO MATTO GROSSO
Engenheiro civil. Professor aposentado da UFMS

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