Recentemente
voltaram aos noticiários as questões relativas ao legado da Copa do
Mundo e das Olimpíadas. Veio à luz a emblemática situação do
Estádio do Maracanã. Reformado para a Copa de 2014 ao custo de mais
de R$ 1,3 bilhão aos cofres públicos, serviu à abertura e
encerramento das Olimpíadas e hoje se encontra sem dono e sem
responsável, em abandono total. O caso do Parque Olímpico do Rio de
Janeiro também é lamentável. Com suas instalações abandonadas e
depredadas. Triste história do glamour ufanista de um Brasil que não
sabia viver a sua realidade.
Alguns
desses estádios foram construídos, superdimensionados, onde não
haveria futebol para mantê-los depois da Copa, a exemplo do Mané
Garrincha em Brasília, cuja taxa de ocupação é de cerca de 20%, e
do Estádio de Cuiabá com 13% de ocupação. Para se ter um
parâmetro de comparação, estádios na Espanha tem cerca de 70% de
ocupação e a Alemanha mais de 90%.
Nas
outras infraestruturas, com maior efeito positivo para a população,
como as de mobilidade urbana e aeroportuária, muita coisa ficou pela
metade. Nossa vizinha Cuiabá é um dos mais pródigos exemplos. A
prometida despoluição da Baia da Guanabara, talvez fique a esperar
por outra Olimpíada.
As
Copas do Mundo, realizadas de maneira mais econômicas em outros
países, também apresentavam balanços negativos, o que poderia ter
sido aproveitados pelo Brasil, mas o ufanismo irresponsável
prevaleceu. Era a época de gastar por conta do "ouro dos tolos"
do pré-sal e de marcar projetos de poder.
Nosso
país é pródigo em exemplos dessa natureza. Apesar das nossas
imensas carências sociais e de infraestrutura, somos grande
produtores de elefantes brancos e de esqueleto de dinossauros
inacabados, marcas das irresponsabilidade de muitos administradores
públicos, apesar das restrições impostas pela Lei de
Responsabilidade Fiscal.
Não
entendem que governar é "resolver problemas" como indicam
as boas recomendações da gestão pública responsável, mas sim
"fazer obras", celebradas de preferência em concreto
armado para deixar a marca pessoal dos governantes, ou outras
externalidades, tanto é assim que quando novos governantes são
eleitos, as obras dos governantes anteriores tendem a ficar
abandonadas.
Até
os marcos das obras, muitas vezes são consagrados em concreto, como
em recentes administrações de Campo Grande. As obras foram até
numeradas em totens, e o pior, um prefeito dando sequencia aos
números do anterior, em um autêntico estelionato político. Talvez
daqui a uns mil anos, algum arqueólogo que por aqui escave, poderá
ficar intrigado com uma grande civilização que por aqui existiu,
que tantas maravilhas construiu, mas não deixou outras marcas para a
civilização, além dos marcos.
Muitos
devem lembrar do Morenão de ontem e de hoje. Com capacidade para
quarenta e cinco mil torcedores em um Estado que não tem futebol, e
sempre representou um enorme ônus financeiro para a UFMS, o que
resultou no seu sucateamento, só agora parcialmente recuperado para
o próximo campeonato estadual.
Temos
também a sucata da antiga rodoviária, inaproveitada, e o esqueleto
em concreto e aço da rodoviária que não se concluiu na região da
Cabreúva, por inadequação de localização. Temos a infraestrutura
do antigo Trem do Pantanal também abandonada e depredada.
Para
consagrar esse processo de decisão sobre prioridades, temos o
Aquário do Pantanal. Fiquei encantado com a ideia desse atrativo
para o turismo de passagem e de eventos em Campo Grande, mas não
aprovaria o gasto de um centavo de dinheiro publico para esse
empreendimento, afinal uma aquário vale quantos Centros de Educação
Infantil que a cidade continua esperando? Felizmente começam a
correr notícias de negociações para que uma empresa termine a obra
por conta própria e seja ressarcida com os rendimentos da visitação.
Ufa, até que enfim, de volta ao que deveria ser o começo.
Fausto
Matto Grosso
Membro do Movimento por uma Cidade Democrática
08.02.2017
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