UNIVERSIDADE: GREVE E ENSINAMENTOS
Terminada
a longa greve das Universidades Federais é hora do balanço.
As
vantagens econômicas obtidas foram pífias. O sistema de
gratificações diferenciadas aprovado para os docentes nem de perto
atende a enorme defasagem salarial existente. Continuará o
descontentamento dos professores e técnicos, a Universidade
continuará perdendo quadros, continuarão faltando recursos
essenciais para custeio e investimento, continuará a falta de
professores.
O
prejuízos coletivos não foram pequenos. O tempo perdido não se
recupera mais. O processo de minimização dos efeitos da
paralisação serão penosos para todos - alunos, professores e
técnicos.
Valeu
a pena ?
Greve
boa é aquela que produz resultados antes de começar. Entretanto,
não havia alternativa. A Universidade foi empurrada para essa greve
pela política do Governo. Seguindo orientações claras e
explícitas dos centros mundiais de poder, entre eles o Banco
Mundial, o MEC quer livrar-se dos encargos de manutenção do
sistema universitário público.
Neste
caso, socorrendo-me no poeta, não há dúvida, valeu a pena pois a
causa não é pequena. O resultado foi imenso. A Universidade não
se dobrou de joelhos.
Entretanto
isso só não basta. O mais importante está por vir no segundo
tempo.
Trazida
a questão universitária à opinião pública, o Governo tentará, a
seguir, impor a sua Reforma, goela abaixo. Nesse caso não basta
apenas coragem e firmeza para enfrentá-la, é preciso iniciativa e
audácia para contrapor-se com propostas concretas. Não basta jogar
na defesa. Time que não faz gol, leva.
E
isso nos tem faltado. Há que se ter um projeto transformador para as
Universidades, fruto da criação da inteligência e não apenas da
estreiteza corporativista. Um projeto que deverá enfrentar o
desafio da autonomia, da avaliação, do financiamento, tal como essa
questões se colocam hoje no final do século. Que seja plasmado no
compromisso em transformar a Universidade em instrumento de
desenvolvimento e de enfrentamento dos problemas nacionais. Que seja
abrangente, trate o ensino superior de maneira sistêmica,
integrando-o com os demais níveis de ensino, bem como, considere a
existência real do sistema privado.
Há
que se enfrentar o problema do acesso e acabar com a excrescência do
vestibular. Efetivar a modernização e flexibilização dos
currículos. Clarear a estrutura da carreira universitária, neste
caso enfrentando as distorções existentes, entre elas a do
igualitarismo corporativista. Não ter medo da meritocracia.
Esse
projeto deve ser fruto de amplo e bem informado debate interno e ser
arejado pela participação da sociedade, a quem sobretudo interessa
a sobrevivência da Universidade Pública. Deve estar pronto para o
próximo governo, seja ele qual for.
Se
a Universidade aprendeu com a greve, deve estar sabendo que o
próximo dever de casa é pensar a sí própria, senão outros
pensarão por ela.
FAUSTO
MATTO GROSSO, engenheiro civil e professor da UFMS, Presidente do
PPS/MS -16/07/98
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