DESAFIOS DO SINDICALISMO DOS SERVIDORES PÚBLICOS
(Jornal
do Brasil Central – 20/01/91)
País
capitalista periférico, o Brasil acaba refletindo sempre tardiamente
os grandes processos mundiais. Foi assim com a industrialização,
provavelmente será assim com a revolução tecno-científica, está
sendo assim com a onda neo-liberal.
Quando
o tachterismo e o reaganismo já levaram a Inglaterra e os Estados
Unidos à recessão e à perda de influência, surge Collor pregando
o “Estado mínimo” e tendo como bandeira a “caça aos marajás”.
O
servidor público sendo usado, nos meios de comunicação, como bode
expiatório da crise da administração pública acabou sendo
colocado no centro de uma intensa luta política. O seu movimento
sindical, recém nascido no difícil parto da democracia brasileira,
vai precisar de toda a maturidade que a sua curta existência não
lhe permitiu acumular.
O
desafio é o de não se deixar isolar da opinião pública e dos
demais trabalhadores. Nesse sentido não pode o movimento dos
servidores simplesmente oferecer resistência passiva à pretendida
reforma conservadora do Estado. Tem sim que, articulado com a
sociedade civil, contrapor, com sua luta, uma radical reforma
democrática do Poder Público. Para isso, tem uma posição
privilegiada, pis, detém as informações e conhece as aberrações
da máquina pública. Conhece o clientelismo, o nepotismo, o
cartorialismo, a ineficiência, a corrupção e a ausência
interesseira do Estado em certas áreas.
Para
enfrentar essa tarefa os servidores terão que realizar uma grande
revolução cultural, transformando-se em verdadeiros servidores do
público e não dos governantes de plantão. Deverão também banir
as posturas corporativistas que possam contrapor suas lutas aos
interesses dos outros trabalhadores. Avançar-se-à assim rumo a uma
maior unidade dos trabalhadores, vital para alicerçar mudanças
sociais mais profundas que não seja apenas a troca desideologizada
do patrão na próxima eleição.
Uma
questão pela qual deverá se bater o movimento dos servidores é
a da modernização do serviço público e a do aumento de sua
eficiência. Vivemos em um mundo em rápidas transformações. A
revolução tecno-científica e a contenção forçada dos recursos
tornará cada vez mais obsoleta a estrutura tradicional dos já
deficientes serviços públicos. Há que se pressionar por
investimentos tanto nos recursos materiais como nos recursos humanos
públicos. A reciclagem profissional, mais do que privilégio para a
ascensão funcional – como alguns encaram - é uma necessidade
para que o compromisso com o público tenha a marca da competência e
da qualidade crescente. Há que se conquistar mecanismos legais que
permitam essa permanente qualificação da força de trabalho
pública.
Deve-se
conquistar também a máxima profissionalização do servidor
público, que alie a sua responsabilidade pessoal a garantias plenas
à sua condição de cidadão. São inaceitáveis tanto a pressão
política quanto a utilização de cargos proeminentes para projeção
política de seus ocupantes. Nesse sentido uma das idéias a ser
discutida é a da garantia de preenchimentos dos cargos de direção
superior por critérios profissionais – não corporativistas –
pelos quadros próprios dos órgãos, inclusive as diretorias das
empresas públicas e órgãos de administração indireta.
Há
que ser se aceitar e apoiar também a criação de mecanismos de
controle social externo sobre o serviço público, como são os
diversos tipos de conselhos comunitários e populares. Instrumentos
de democracia direta, esses organismos serão garantidores das
posturas dos servidores que cumprem adequadamente as suas funções.
A
meu ver, paralelamente às lutas por melhores salários, esses são
alguns desafios colocados ao movimento dos servidores públicos nesse
processo de construção do seu sindicalismo combativo, classista,
unitário, pluralista ,democrático e das massas.
FAUSTO
MATTO GROSSO
Secretário
do PCB/MS
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