FILAS E EDUCAÇÃO
Conversava
na semana passada com um antigo professor, trocando saudosas
reminiscências a respeito do velho Colégio Estadual Campograndense,
hoje Escola Maria Constança de Barros Machado.
Nos
anos 60, época de ouro da nossa velha escola, ela era o única da
rede estadual de 2o. grau em Campo Grande, tanto que era simplesmente
conhecida como “Colégio Estadual”. Com suas 8 salas de aula,
seus laboratórios, parecia-nos enorme para a época. Seu anfiteatro
possuia uma área talvez maior do que o total das salas de aulas e
era um dos mais importante da cidade. Seu pátio coberto abrigava
toda sorte de atividades associativas. A arquitetura, com o seu
arrojo e funcionalidade, inegavelmente sinalizava a visão
progressista do respeitado arquiteto comunista Oscar Niemeyer.
Neste
aspecto só havia um senão. Projetada para Corumbá, o projeto teve
uma segunda implantação, não autorizada, em Campo Grande. Sem as
adaptações à novo orientação do terreno, todo a genialidade do
estudo de sombreamento e ventilação foi por água abaixo e
funcionou ao contrário. Muitos anos depois fiquei sabendo que o
velho arquiteto bufara de raiva ao ver a documentação fotográfica
que lhe enviara.
Mas
tudo isso é detalhe. O que de fundamental havia naquela época era
o respeito e a valorização da escola pública. Seus professores
tinham prestígio, reconhecimento social e, imagino, salários
condizentes e garantidores de uma carreira estável. Em uma época
em que a pequena extensão dessa rede de ensino representava a baixa
escolaridade da população, as vagas da escola pública eram, no
geral preenchidas e disputadas pelos filhos das camadas médias e
das elites econômicas da sociedade. O poder, a decisão política
eram então competentes para garantir a boa qualidade do ensino
público, pois alí estavam os filhos das camadas sociais que lhes
sustentavam.
Com
a necessária expansão da escolaridade geral da população, a rede
pública teve que expandir-se para abrigar a todos, nesse processo de
democratização perdendo a qualidade. Com as camadas médias
buscando a escola privada, o poder e a decisão política voltaram a
ser incompetentes para garantir a qualidade do ensino público da
escola das classes subalternas.
Para
as camadas médias, beneficiária, durante um certo período, do
processo de desenvolvimento excludente, isso não lhe dizia respeito.
Ela tinha dinheiro para comprar o ensino privado, a saúde privada
dos planos de saúde e a segurança privada dos guardas de quarteirão
ou de portão. Aliás, embora nos doa, muitas vezes fazíamos isso
com o dinheiro público proveniente da renúncia fiscal do imposto de
renda sobre as despesas com o ensino e a saúde privados.
As
filas mostradas pelas televisões durante as últimas semanas, quando
se processam as matrículas escolares, estão mostrando que esse
quadro está mudando nos últimos tempos. A política de restrição
ao crescimento econômico, as dificuldades no mercado de trabalho,
alargamento do processo de exclusão social, tem feito as camadas
médias buscarem novamente a escola pública.
Formadora
de opinião como é, quem sabe agora, pelo sofrimento na própria
pele, as camadas médias voltem a fortalecer a exigência de ensino
público universal, de qualidade.
FAUSTO
MATTO GROSSO
Presidente
Regional do PPS
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