MOVIMENTO ESTUDANTIL – ENTREVISTA
(Informativo
do CAENG – Centro Acadêmico de Engenharia UFMS – ABRIL/91)
“ Fausto
participou do movimento estudantil do Paraná (1967-1971), neste
mesmo tempo atuou na Ação Popular (partido clandestino que
hegemonizava o M.E ). Foi professor da Universidade Estadual de Mato
Grosso (1972-1974) de onde foi demitido por motivos políticos.
Anistiado e incorporado à UFMS em 1987, onde assumiu vários cargos.
Seguiu também a carreira política como vereador e suplente de
Deputado Estadual, mas nunca deixando de participar das diversas
diretorias da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Campo
Grande . è membro da direção nacional e estadual(MS) do PCB onde
milita desde 1972. Devido à sua vivência no M.E naquela época,
procuramos, com esta entrevista saber um pouco mais a respeito deste
acontecimento e quais são algumas das modificações a serem feitas
em sua opinião.”
CAENG
– Como foi o Movimento Estudantil (M.E) em 1964, quando surgiu o
regime militar?
FAUSTO
– O M.E. era uma das forças democráticas da sociedade brasileira.
Os estudantes nos diversos níveis, fosse secundaristas ou
universitários, desempenhavam um papel importante na resistência à
ditadura constituindo-se numa das principais trincheiras da luta pela
democratização do país. E isso até mais ou menos o ano de 1968,
fosse o auge do movimento. Nessa época, eu já estava na
Universidade. Quando foi decretado o AI 5 (Ato Institucional n 5),
a ditadura deu uma endurecida maior e o movimento de resistência foi
sufocado.
CAENG
– Como o SR. Compara o M.E. antes da ditadura militar e o de hoje?
FAUSTO
– Um dos problemas centrais foi que a ditadura quebrou a
continuidade do M.E . Com isto, houve uma perda na memória das
lutas. Na década de 50 e 60, nós vivíamos no país uma democracia.
Isto fez crescer a organização da sociedade nos diversos segmentos
intelectuais, operários, camponeses e estudantes. Esse nível
deconscientização permitiu uma maior mobilização dos diversos
setores da sociedade brasileira.
No
regime militar, após o AI 5, passou a existir também, o 477, que
servia para a repressão sobre as Universidades. Isto provocou uma
ruptura daquela experiência histórica que o M.E tinha
anteriormente. Então neste período ditatorial os professores das
Universidades, citando especificamente a nossa, que tinham sido
estudantes na década de 60 quando havia democracia no país,
possuíam um nível de politização e de luta muito mais avançados
que os estudantes, pois estes, já estavam sendo formados na
mentalidade implantada pela ditadura. Por isso, que o movimento de
professores nesse tempo foi muito mais ativo e politizado que o dos
estudantes. A minha demissão , por exemplo, foi devido a minha
participação política dentro da universidade. Coma conquista
desta nova Democracia no país a massa estudantil ficou sem uma
ligação com a luta do passado e as lideranças muitas vezes,
principalmente as que organizaram o M.E, não conseguiram adaptar a
política do M.E à nova realidade que o país está vivendo, pois
não conseguiram palavras de ordem e formas de luta que mobilizassem
os estudantes de hoje. Com a democracia , os problemas políticos são
bem menores que a gente tinha no tempo da ditadura onde assumíamos o
papel de resistir e agora há para o estudante, muito mais
possibilidades de se discutir, pois, está em jogo o destino do país
. Por isso, não se pode mais pensar na mentalidade do M.E de trinta
anos atrás.
CAENG
- Que pontos o M.E tem que ser mudado?
FAUSTO
– A questão é complexa e deve ser resolvida pelo próprio
movimento, mas eu arrisco alguns palpites. Deve ser conhecida a
realidade do estudante e a partir disso ligar o movimento à questões
do cotidiano da massa estudantil, levando questões como qualidade de
ensino, apoio material ao estudo (bolsas, alojamentos, alimentação),
criação de oportunidaes de integração social como o esporte, o
lazer, a movimentação cultural. Aliás, a partir de um trabalho
cultural bem feito, muito se pode avançar no nível de consciência
e participação do estudante.
O
M.E deve se abrir para discutir questões novas que interessem à
juventude , como ecologia, música, sexualidade e drogas.
A
necessária politização e sua ligação a lutas políticas geris da
sociedade deve ser conduzida de maneira não excedente, respeitando o
nível de consciência e o pluralismo e evitando a todo custo a
partidarização e aparelhismos da entidade. Por aí acho que é
possível retomar um grande papel para o M.E.
CAENG
- Qual a causa da falta de mobilização dos estudantes em
participar de um M.E?
FAUSTO
– No caso do curso de Engenharia há uma sobrecarga de aula e
atividades muito grandes, então ao exigirmos uma certa dedicação
dos estudantes eles se julgam com muito pouco tempo para esta
participação. Portanto se houvesse um horário mais organizado, o
movimento estudantil, tenho impressão, seria muito maior.
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