REVENDO O FUTURO
Na semana passada
andei lendo diversos artigos e análises de cenários para 2022. Quase tudo que
se escreveu terá que ser reescrito.
Costuma-se dizer que as eleições municipais pouco dizem sobre a política
nacional, que existe autonomia entre elas. Mas 2020 foi diferente, no conjunto
dos resultados tivemos um verdadeiro tsunami político.
Antes, grande parte
dos cenaristas colocava como incertezas- críticas a situação de Bolsonaro e do
PT e faziam hipóteses de fortalecido e enfraquecido, para cada um desses
protagonistas. Acontece que esses atores saíram quase descartados como polos de
aglutinação de forças. Deixaram de ser polarizadores.
Bolsonaro anunciara
que não apoiaria nenhum candidato. Isso poderia ter sido feito, principalmente
porque era um presidente sem partido. Mas, acabou se metendo com candidatos
fracos, derrotados ou prestes a sê-lo. Saiu menor do que entrou. O Centrão
tornou-se maior do que ele.
Considerando o número de prefeituras conquistadas, saíram
fortalecidos partidos tradicionais de direita e centro-direita como MDB -
embora em tendência de queda - PP, PSD, DEM, PL, todos com expressivos
crescimentos. O protagonismo que tinha Bolsonaro pode se transferir para esse
bloco, com destaque para o DEM, em processo de expressiva recuperação, vencedor
em três das seis capitais que encerraram a eleição em primeiro turno: Salvador,
Florianópolis e Curitiba. Também disputa com favoritismo no segundo turno do
Rio de Janeiro. Além disso, o DEM preside a Câmara dos Deputados e o Senado e é
umas das opções de filiação de Luciano Huck.
Já na esquerda e centro-esquerda, reina a divisão. O PT, que
era a sua coluna vertebral, acumula derrotas desde 2016. Na sociedade foi
duramente atingido pelos escândalos de corrupção e na dinâmica das relações com
outros partidos do seu campo, foi vítima do seu próprio hegemonismo. Esse
partido tem dificuldade de aceitar parceiros, apenas apoiadores. É ilustrativo
disso o seu conflito com Ciro Gomes em 2016.
O seus tradicionais aliados tem buscado voo próprio como o PSB, o PCdoB
e o PDT, mas todos saíram enfraquecidos na última eleição, saíram menores do
que entraram.
No campo da esquerda, apareceu como novidade o PSOL, surgido
como uma dissidência de esquerda do PT em 2004, por discordância com a linha do
partido. Nesta eleição o PSOL destacou-se ao levar Guilherme Boulos para o
segundo turno em São Paulo.
PSOL e Cidadania, na esquerda, foram os únicos partidos que
cresceram em 2020.
O primeiro pode repetir a trajetória do PT, mas parte de uma
posição ainda muito débil nacionalmente. Boulos pode repetir Lula, mas ainda
precisará de tempo para ampliar sua musculatura partidária. Na eleição de São
Paulo, o PSOL mostrou um discurso mais moderado, o que lhe abre perspectiva
mais promissora.
O Cidadania, sucedâneo do PCB e do PPS, tem avançado na
perspectiva de articulação com os movimento cívicos, tendo incorporado várias
lideranças desses, com ajuda de Luciano Huck. Podem vir daí inovações na
estrutura dos partidos com repercussões no arranjo partidário brasileiro.
Em síntese, o projeto Bolsonaro foi derrotado fragorosamente
e o Partido dos Trabalhadores deixou de ser um polo dinâmico de esquerda
brasileira. Os cenários de 2022 precisam ser reescritos.
Fausto Matto Grosso
Engenheiro e Professor aposentado da UFMS
2 comentários:
Tô gostando de ver a disciplina.
O DEM é uma das opções do Luciano Huck ;o CIDADANIA tem avançado com o auxílio do Luciano Huck ; é um fenômeno AMBIDESTRO ?
Postar um comentário