quarta-feira, 4 de novembro de 2020

 

(Um livro escrito página a página)

ATAQUE AO FORTE APACHE

O ano era 1968, quando Carmelino Rezende, estudante de direito no Rio de Janeiro, chegou a Campo Grande com uma mala cheia de spray para pixar palavras de ordem alusivas ao 30º Congresso da UNE, que seria realizado em Ibiúna.

Combinamos que a pichação deveria envolver lideranças estudantis locais e passamos a articular, principalmente com estudantes de medicina como os goianos Jajá e o Neder.

Eis que fomos surpreendidos com a pichação da casa do Comandante da 9ª Região Militar, localizada na esquina da Rua Pedro Celestino, com a Avenida Afonso Pena. Era um local improvável, pois era vigiado 24 horas por dia, por sentinelas armadas.

Fora atacado o coração do poder militar. Naqueles tempos os comandantes militares eram uma espécie de vice-reis, que decidiam sobre tudo no Estado. Bajulados pelas lideranças políticas locais, decidiam sobre todas as questões relevantes. Dizíamos que arbitravam até brigas de marido e mulher. Logo vieram as suspeitas. Carmelino achava que era eu e reciprocamente.    A Polícia Federal, que vigiava nossas atividades resolveu investigar o estudante Silvio Pettengil Filho, que aparecera nacionalmente em uma foto discursando em cima de uma mesa no restaurante estudantil da UnB, o estudante de Economia Valfrido Medeiros Chaves que recentemente aparecera com destaque, no Rio de Janeiro e eu.

Fomos intimados para um depoimento. Passamos por instantes de tensão e medo. A situação pior foi a do Silvio Petengill, cujo pai, por confusão do nome, acabou passando por horas de castigo na sala de espera da PF. Quanto a mim, estava mais tranquilo. Lowton maçônico (sobrinho, protegido), meu pai maçom foi avisado na véspera, de que nada aconteceria comigo. Por sorte, o Superintendente da PF era o General Amadeu Anastácio, uma liderança maçônica. Passamos um dia de castigo nas dependências do Polícia Federal.

Muitos anos depois fiquei sabendo que a proeza fora realizada pelo pessoal do Partidão – o Professor Itamar Barreira, os sapateiros Romeu Gama do Carmo e Fortunato Moreira e o carroceiro Acelino Granja. Alguns passaram de carro pela Avenida pela Avenida Afonso Pena, chamaram os sentinelas para pedir informações, enquanto outros pixavam “30º Congresso da UNE” no muro da Rua Pedro Celestino. O Forte Apache acabara sendo pixado. Puro sangue frio.

Fausto Matto Grosso


Um comentário:

Unknown disse...

Vamos continuar lutando contra a Ditadura Militar! Que horror!!!