(Um livro escrito página a página)
ATAQUE AO FORTE APACHE
Combinamos que a pichação deveria envolver lideranças
estudantis locais e passamos a articular, principalmente com estudantes de
medicina como os goianos Jajá e o Neder.
Eis que fomos surpreendidos com a pichação da casa do
Comandante da 9ª Região Militar, localizada na esquina da Rua Pedro Celestino,
com a Avenida Afonso Pena. Era um local improvável, pois era vigiado 24 horas
por dia, por sentinelas armadas.
Fora atacado o coração do poder militar. Naqueles tempos os
comandantes militares eram uma espécie de vice-reis, que decidiam sobre tudo no
Estado. Bajulados pelas lideranças políticas locais, decidiam sobre todas as
questões relevantes. Dizíamos que arbitravam até brigas de marido e mulher.
Logo vieram as suspeitas. Carmelino achava que era eu e reciprocamente. A Polícia Federal, que vigiava nossas
atividades resolveu investigar o estudante Silvio Pettengil Filho, que
aparecera nacionalmente em uma foto discursando em cima de uma mesa no restaurante
estudantil da UnB, o estudante de Economia Valfrido Medeiros Chaves que
recentemente aparecera com destaque, no Rio de Janeiro e eu.
Fomos intimados para um depoimento. Passamos por instantes de
tensão e medo. A situação pior foi a do Silvio Petengill, cujo pai, por
confusão do nome, acabou passando por horas de castigo na sala de espera da PF.
Quanto a mim, estava mais tranquilo. Lowton maçônico (sobrinho, protegido), meu
pai maçom foi avisado na véspera, de que nada aconteceria comigo. Por sorte, o
Superintendente da PF era o General Amadeu Anastácio, uma liderança maçônica.
Passamos um dia de castigo nas dependências do Polícia Federal.
Muitos anos depois fiquei sabendo que a proeza fora realizada
pelo pessoal do Partidão – o Professor Itamar Barreira, os sapateiros Romeu
Gama do Carmo e Fortunato Moreira e o carroceiro Acelino Granja. Alguns
passaram de carro pela Avenida pela Avenida Afonso Pena, chamaram os sentinelas
para pedir informações, enquanto outros pixavam “30º Congresso da UNE” no muro
da Rua Pedro Celestino. O Forte Apache acabara sendo pixado. Puro sangue frio.
Fausto Matto Grosso
Um comentário:
Vamos continuar lutando contra a Ditadura Militar! Que horror!!!
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